CARLOS GUILHERME FREATTO PELLIZZER WOLFF LOGÍSTICA COMO APOIO EMERGENCIAL DE DEFESA CIVIL RIBEIRÃO PRETO 2016 CARLOS GUILHERME FREATTO PELLIZZER WOLFF 1 LOGÍSTICA COMO APOIO EMERGENCIAL DE DEFESA CIVIL Trabalho de Conclusão de Curso elaborado por Carlos Guilherme Freatto Pellizzer Wolff e aprovado pela Coordenação Acadêmica do cusro de Logística e Gerenciameno de Cadeia de Suprimentos, foi aceito como requisite parcial para a obtenção do certificado do curso de Pós-Graduação, nível de especialização, do programa FGV Management Data: Orientador: Professor Jamil Moysés Filho Coordenador Acadêmico 2 LOGÍSTICA COMO APOIO EMERGENCIAL DE DEFESA CIVIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a Fundação Getúlio Vargas (FGV) , como requisito parcial para a obtenção do título de especialista. Aprovada em ___ de ___________ de 20__. BANCA EXAMINADORA ____________________________________________________ ___________________________________________________ 3 4 RESUMO Neste trabalho será apresentado um modelo para abordagens emergenciais da logística em conjunto com Defesa Civil para reparação de áreas afetadas após evento natural ou humano (excetuando-se eventos de guerra), até sua plena ou muito próxima recuperação total. Não é parte do escopo deste trabalho a prevenção ao primeiro evento de ocorrência, mas sim recuperação deste e provável prevenção de eventos subsequentes. A construção rápida de um plano de resposta logístico que auxilie nas melhores tomadas de decisão é imprescindível para a preservação de vida, patrimônio e infra-estrutura para que a região afetada volte à normalidade dentro do menor e melhor tempo possível. Palavras-chave: Logística. Defesa Civil. Desastre. Catástrofe. Recuperação 5 ABSTRACT Within this work will be presented a model for emergency calls, based on logistics and Civil Defence to recover affected areas after natural or human hazards (except war events), until the fullfit or near close restablishment. It´s not scope of this work to prevent initial hazard, but basic recovery and prevent following hazards Building a quick response plan that helps better decision making is indispensable to protect life, property and facilities, looking for normalization of an affected area as soon or better as possible. Palavras-chave: Logistics. Civil Defence. Hazard. Restablishment. Normalization 6 7 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO…………………………………………………………………………….. 10 1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO………………………………………………………… 10 1.2. PROBLEMA DA PESQUISA………………………………………………….. 11 1.3. OBJETIVOS FINAIS……………………………………………………………. 11 1.4. OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS……………………………………………… 11 1.5. SUPOSIÇÕES…………………………………………………………………… 12 1.6. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO…………………………………………………. 12 1.7. RELEVÂNCIA DO ESTUDO…………………………………………………… 13 1.8. METODOLOGIA………………………………………………………………… 14 1.9. ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO……………………………………………….. 14 2. DEFESA CIVIL……………………………………………………………………………. 15 2.1. HISTÓRICO DA DEFESA CIVIL NO MUNDO……………………………… 15 2.2. HISTÓRICO DA DEFESA CIVIL NO BRASIL……………………………… 15 2.3. CONCEITOS DA DEFESA CIVIL……………………………………………. 17 3. EVENTOS DE CATÁSTROFE…………………………………………………………… 19 3.1. EVENTOS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS………………………………… 19 3.2. LISTA DE EVENTOS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS RECONHECIDOS… 20 3.3. DURAÇÃO……………………………………………………………………… 22 3.4. ABRANGÊNCIA GEOGRÁFICA E IMPACTO…………………………… 22 4. ESTUDOS DE CASO………………………………………………………………………… 23 4.1. Fukushima 2011…………………………………………………………………… 23 4.2. Chernobyl 1986…………………………………………………………………… 24 4.3. Mariana-MG 2015………………………………………………………………… 25 4.4. New Orleans – Katrina – 2005………………………………………………… 25 4.5. Haiti 2010………………………………………………………………………… 26 4.6. REGIÃO SERRANA-RJ 2011…………………………………………………… 26 4.7. Bhopal – Índia – 1984…………………………………………………………… 26 4.8. O problema das doações………………………………………………………… 27 5. CONCLUSÕES SOBRE OS ESTUDOS DE CASO……………………………………… 29 6. SUGESTÃO DE PLANO LOGÍSTICO PARA ATENDIMENTO A DESASTRES…… 30 CONCLUSÃO………………………………………………………………………………….. 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………………………………………… 33 ANEXOS………………………………………………………………………………………… 35 8 9 1. INTRODUÇÃO Neste capítulo serão apresentados a contextualização, o problema da pesquisa, objetivos finais e intermediários, suposições, delimitação e relevância, metodologia e organização do estudo. 1.1. CONTEXTUALIZAÇÃO O ser humano vem evoluindo como espécie dominante no planeta e uma das principais mudanças no modo de vida foi a transição de nômades para sedentários. As causas foram diversas: aumento de intelecto, início de domínio de elementos naturais como fogo, descoberta rudimentar da agricultura dentre outros fatores, sendo que um dos motivos mais importantes foi o instinto de preservação da espécie contra um ambiente agressivo, competitivo entre animais e também para que o ser humano não ficasse à própria sorte frente a demais elementos igualmente letais como terra, água, fogo e ar, caso mantivessem o comportamento nômade. Através do sedentarismo e agrupamento social em local fixo, surgiram as aldeias, tribos, conglomerados e por fim cidades e nações. Mesmo aumentando o domínio sobre os elementos, o ser humano ainda não detém controle sobre tudo e são nestes últimos redutos (cidades) em que a espécie humana corre riscos sobre eventos que desconhece, não tem previsão ou mesmo que tenha, ainda é incapaz de mitigar. Tsunamis, furacões, terremotos e erupções vulcânicas são exemplos da agressividade dos elementos água, ar, terra e fogo respectivamente aos quais o ser humano está sujeito. Como dito anteriormente, nem sempre há ciência ou capacidade para mitigar tais eventos, embora seja possível contorná-los com o que se pretende propor nesta pesquisa. Não bastasse os riscos naturais aos quais o ser humano está sujeito, nossa ciência também caminha com acertos e erros, dentre os quais estão eventos catastróficos criados pelo próprio homem que colocam em risco sua espécie como o acidente nuclear de Chernobyl em 1986. Além dos eventos culposos, há os dolosos como guerra que igualmente colocam em risco a espécie humana e embora seja um evento trágico, é deste estado máximo que são reforçados 2 conceitos importantes (e recentes) fundamentais: Logística e Defesa Civil, que se unidos podem salvaguardar ao máximo o ser humano contra eventos catastróficos naturais ou provocados pelo ser humano. Embora a guerra tenha estimulado a criação do instituto de Defesa Civil, este trabalho não pretende tratar da recuperação de regiões afetadas enquanto não for declarado o fim da guerra. 10 1.2. PROBLEMA DA PESQUISA Como unir Defesa Civil e Logística para a preservação da vida humana e reestabelecimento da sociedade frente a tragédias naturais ou derivadas de ações humanas? 1.3. OBJETIVOS FINAIS O objetivo final deste estudo é criar um modelo para planejamento coerente, rápido e com qualidade de ações de curto, médio e longo prazo, unindo Logística e Defesa Civil, abordando a maioria de eventos catastróficos conhecidos, naturais ou provocados, desde o socorro inicial a vítimas até a reconstrução, recuperação final de um local afetado. 1.4. OBJETIVOS INTERMEDIÁRIOS ● Compreender a delimitação de atuação da Defesa Civil ● Compreender os conceitos da Logística que podem ser utilizados pela Defesa Civil ● Demonstrar alguns eventos catastróficos já ocorridos de todos os elementos (terra, ar, água, fogo), além dos criados pelo homem, sugerindo como a espécie está em risco ● Observar ações de socorro, assistência e recuperação nos casos listados, apontando falhas e sucessos bem como identificação de padrões existentes nas tragédias ● Conceituar a união entre necessidade (Defesa Civil) e técnica (Logística) para uma ação conjunta de ótimo resultado ● Promover uma maior consciência social de que somos uma espécie em risco e que a colaboração é fundamental para nos tornarmos uma sociedade justa e organizada frente a eventos de qualquer natureza 11 1.5. SUPOSIÇÕES Supõe-se que a alteração drástica de um cotidiano provoque confusão psicológica, emocional e que no momento do choque, pouca racionalidade está presente, prejudicando ações razoáveis, comprometendo o objetivo primordial que é a preservação da espécie humana. Sendo assim, apoio na tomada de decisões para momentos tão delicados é o que será proposto nesta pesquisa. Além disso, supõe-se que toda tragédia incorra no estrangulamento de canais de comunicação com locais afetados, prejudicando as fases de socorro, assistência e recuperação, bem como o comprometimento de recursos locais essenciais à vida humana. Estes aspectos em particular podem ser bem atendidos pela prática Logística Outra suposição é de que nenhum evento trágico ocorre sozinho. Há eventos subsequentes, derivados do primário que se não mitigados, colocam a vida humana em risco. 1.6. DELIMITAÇÃO DO ESTUDO A Defesa Civil compreende várias fases: 1. prevenção 2. socorro 3. assistência 4. recuperação ou reconstrução Apesar de o ditado "prevenir é melhor que remediar" seja válido, nem todo evento primário é passível de prevenção e os eventos subsequentes podem ser impossíveis de mitigar, obrigando as ações 2, 3 e 4. Por exemplo não há prevenção para evitar uma tsunami, mas socorro, assistência e recuperação são obrigatórios devido a magnitude do evento. Não será objetivo deste estudo o planejamento preventivo, mas sim dos passos seguintes que se apoiarão na Logística: socorro, assistência e recuperação. Embora o trabalho não pretenda abordar fases de prevenção antes de um desastre inicial, enquanto houver empenho na normalização de uma região afetada, haverá ações de caráter preventivo para evitar o desdobramento de eventos secundários, quando possível. Outra delimitação é a abordagem apenas de eventos primários (e subsequentes) de causa drástica, ou melhor dizendo, apenas os episódios trágicos de mudança radical em curto espaço de tempo. Por exemplo uma seca não é um evento que será estudado pois sua causa é de longa duração. 12 Eventos provocados pelo homem serão abordados, preferencialmente os culposos, excetuando-se atos de guerra e suas consequências. O motivo da renúncia do tratamento destes casos se deve ao estado de guerra declarado de uma nação, onde em muitos casos várias garantias individuais são suprimidas e a hierarquia da tomada de decisão muda de mãos, normalmente para o poder militar que tem seus próprios instrumentos de tratamento de situação e locais de conflito. Além disso, é contra-producente expor ao risco os membros da Defesa Civil (predominantemente civis) durante o socorro, assistência e recuperação a eventos futuros de pouca predição (bombardeio por exemplo). Embora este estado de guerra seja uma área cinza quanto a socorro, assistência e recuperação, militares poderão se basear no modelo aqui apresentado para seus propósitos, tanto em momentos de conflitos quanto em períodos de paz, como a Força de Paz da ONU que é constituída de militares do mundo inteiro, mas que não tem cárater bélico, como por exemplo as ações da Forca de Paz da ONU no terremoto do Haiti em 2010. Não haverá limitação geográfica, será uma abordagem global de eventos. Embora cada região do planeta tenha maior probabilidade de certos eventos, o socorro, assistência e recuperação pode envolver toda a humanidade. Compartilhamos clima, economia, sociedade globalizada, todos estão ligados por causa e consequência. Quanto a delimitação temporal, os casos estudados serão a partir do século XX e a proposta de modelo de plano de ação para casos futuros. 1.7. RELEVÂNCIA DO ESTUDO Apesar do já explanado em tópicos anteriores deste estudo, é importante repetir que a resgate da vida humana é o benefício primordial. A sociedade é composta de humanos e a perda de qualquer indivíduo é lamentável para uma espécie que se propõe não só a dominar os elementos, buscar sua sobrevivência, como também aperfeiçoar sua ciência e sociedade. O mundo está globalizado e compartilha não só as comunicações instantâneas, comércio, política, economia dentre outros, mas também compartilha os eventos e suas consequências. Por exemplo, as cinzas procedentes da erupção do vulcão islandês Eyjafjallajokul em 2010, prejudicou o espaço aéreo de países distantes centenas de kilômetros como Portugal e Espanha, impactando certamente na economia destes e outros. A rápida resposta a catástrofes e reestabelecimento de condições anteriores (ou próximas a isso) é de fundamental importância para que a sociedade globalizada e seus setores tenham o mínimo impacto possível. A Logística como conceito relativamente novo, bem como a Defesa Civil recentemente organizada podem se beneficiar mutuamente, onde a primeira encontrará novas frentes de atuação e a segunda se aproveitará de métodos em maturação. 13 1.8. METODOLOGIA Quanto aos fins da metodologia aplicada neste estudo, será caracterizada como descritiva sobre estudos de casos, explicativa sobre conceitos de Defesa Civil e Logística e propositiva quanto ao plano de ação de socorro, assistência e recuperação. Quanto aos meios, a pesquisa assume o caráter bibliográfico sobre os conceitos de Defesa Civil e Logística, documental sobre os estudos de caso e propositiva sobre planos de ação. A coleta dos dados será praticamente de observação de casos ocorridos, identificando padrões nos desastres. Episódios imprevistos são limitadores do método. 1.9. ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO Após a introdução, os capítulos seguintes da pesquisa se aprofundam em: CAPÍTULO 2: DEFESA CIVIL Histórico da Defesa Civil no Mundo e no Brasil, conceitos relevantes de missão e organização CAPÍTULO 3: EVENTOS DE CATÁSTROFE Conceitos de evento primário, secundário e suas naturezas (ar, terra, água, fogo) ou derivados de ação humana, impacto, abrangência geográfica, duração e consequências CAPÍTULO 4: ESTUDO DE CASOS Descritivo de vários casos abrangendo os elementos causadores e reações planejadas ou não de socorro, assistência e recuperação, bem como resultados de sucesso ou falha. Pelos casos estudados se pretende identificar padrões comuns a todos ou maioria dos desastres e assim definir um guia, um plano que auxilie ações de recuperação. CAPÍTULO 5. CONCLUSÕES SOBRE OS ESTUDOS DE CASO Observação sobre padrões recorrentes nas tragédias que possam se beneficiar de ações logísticas CAPÍTULO 6: SUGESTÃO DE PLANO LOGÍSTICO PARA ATENDIMENTO A DESASTRES Baseado nas observações de estudos de caso, guia com passos genéricos para planos de ação logísticos que auxiliem tomadas de decisão CONCLUSÃO 14 2. DEFESA CIVIL 2.1. HISTÓRICO DA DEFESA CIVIL NO MUNDO Há milhares de anos, o ser humano passou da condição de nômade para sendentário, se reunindo, se fixando em locais geográficos, dominando mais os elementos como água, fogo, terra, ar e ameaças de outros animais que tanto colocavam em risco a vida humana. Entretanto ainda não há um domínio completo sobre o ambiente que os cerca e após um evento natural ou provocado por ação humana, procedimentos reparadores são necessários para o reestabelecimento de nossa civilização. Ao longo da história, algumas ações isoladas foram realizadas para este reestabelecimento, porém não havia uma organização, padrão, regras ou orientações a seguir para esta recuperação após um evento catastrófico. Um exemplo simples é o advento da Peste Negra na Idade Média, em que a ação reativa era se livrar de corpos. Não havia sequer a noção do que causava este tipo de doença (no caso, ratos que se proliferaram no meio do lixo produzido por alta densidade demográfica e ausência de saneamento básico), demonstrando como o ser humano pouco dominava o ambiente ao redor, sem reconhecer causas e consequências, tampouco elaborar planos de contingência O início reconhecido como formal de ações orientadas se dá durante a 2a. Guerra Mundial quando após bombardeios massivos na Inglaterra, se organizou o embrião da Defesa Civil, procurando reestabelecer condições mínimas para os habitantes após eventos catastróficos de natureza humana. Por ser um episódio global em que todas as nações em teoria estavam sob a égide da guerra, várias nações seguiram o exemplo da Inglaterra e começaram a organizar a sociedade civil para eventos desta e outras naturezas. Após o fim da 2a. Guerra Mundial e a criação da ONU (Organização da Nações Unidas), várias iniciativas a fim de preservar a paz mundial foram realizadas. E como nasceram entidades como Defesa Civil, estas continuaram se desenvolvendo para tempos de paz. 2.2. HISTÓRICO DA DEFESA CIVIL NO BRASIL No Brasil não foi diferente: a organização da Defesa Civil se originou na 2a. Guerra Mundial, quando os navios de passageiros Arará e Itagiba foram afundados na costa brasileira, totalizando 56 vítimas. A partir deste evento de guerra, o governo brasileiro em 1942 instituiu o Serviço de Defesa Passiva Antiaérea, a obrigatoriedade do ensino da defesa passiva em todos estabelecimentos de ensino, oficiais ou particulares. "Em 1943, a denominação de Defesa Passiva Antiaérea é alterada para Serviço de Defesa Civil, sob a supervisão da Diretoria Nacional do Serviço da Defesa Civil, do Ministério da Justiça e Negócios Interiores e extinto em 1946, bem como, as Diretorias Regionais do mesmo Serviço, criadas no Estado, Territórios e no Distrito Federal. Como conseqüência da grande enchente no Sudeste, no ano de 1966, foi criado, no então Estado da Guanabara, o Grupo de Trabalho com a finalidade de estudar a mobilização dos diversos órgãos estaduais em casos de catástrofes. Este grupo elaborou o Plano Diretor de 15 Defesa Civil do Estado da Guanabara, definindo atribuições para cada órgão componente do Sistema Estadual de Defesa Civil. O Decreto Estadual nº 722, de 18.11.1966, que aprovou este plano estabelecia, ainda, a criação das primeiras Coordenadorias Regionais de Defesa Civil – REDEC no Brasil. Em 19.12.1966 é organizada no Estado da Guanabara, a primeira Defesa Civil Estadual do Brasil. Em 1967 é criado o Ministério do Interior com a competência, entre outras, de assistir as populações atingidas por calamidade pública em todo território nacional. O Decreto-Lei nº 950, de 13.10.1969, institui no Ministério do Interior o Fundo Especial para Calamidades Públicas – FUNCAP, sendo regulamentado por intermédio do Decreto nº 66.204, de 13.02.1970. Com o intuito de prestar assistência a defesa permanente contra as calamidades públicas, é criado em 05.10.1970, no âmbito do Ministério do Interior, o Grupo Especial para Assuntos de Calamidades Públicas - GEACAP. A organização sistêmica da defesa civil no Brasil, deu-se com a criação do Sistema Nacional de Defesa Civil – SINDEC, em 16.12.1988 , reorganizado em agosto de 1993 e atualizado por intermédio do Decreto nº 5.376, de 17.02.2005. Na nova estrutura do Sistema Nacional de Defesa Civil, destaca-se a criação do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres – CENAD, o Grupo de Apoio a Desastres e o fortalecimento dos órgãos de Defesa Civil locais.” “O SINDEC foi concebido como uma imensa estrutura matricial, que se articula nos três níveis de governo, em estreita interação com os órgãos setoriais, órgãos de apoio e com a comunidade" Surge aí o embrião Defesa Civil no país, desenvolvendo-se a partir de cada evento catastrófico em tempos de paz. Brasil era reconhecido como um paraíso natural, onde não havia terremotos, furacões, vulcões etc, entretanto após recentes mudanças climáticas globais, aumento da densidade demográfica das cidades e falta de planejamento urbano, o país entrou no circuito de risco, principalmente com chuvas torrenciais por ser um país tropical, resultando em soterramentos, inundações e vulnerabilidade social decorrente. Há ainda recentes alertas da ciência sobre eventos exo-planetários que não escolhem geografia, como asteróides e tempestades solar/magnéticas. Tudo isso deve ser previsto como escopo da Defesa Civil de qualquer país. 16 2.3. CONCEITOS DA DEFESA CIVIL Como rapidamente listado no capítulo 1.6 de delimitação de estudo, a Defesa Civil tem como missão: 1. Prevenção 2. Socorro 3. Assistência 4. Recuperação ou Reconstrução Quanto a organização, cada cidade possui seu núcleo de Defesa Civil, composto de membros civis, voluntários da própria cidade. Embora em constant contato com organizações militares como Polícia Militar e Bombeiros no caso do Brasil, não responde hierarquicamente aos militares. Há ainda organizações independents, locais ou mundiais como Exército da Salvação, Cruz Vermelha dentre outras, sem contar com as Forças da Paz da ONU, dependendo do grau de tragédia. É uma organização dinâmica responsiva, que cresce ou diminui em número de membros de acordo com a magnitude de uma tragédia e consequente normalização de área afetada. Há colaboração mútua entre núcleos das cidades, desde congressos para constante atualização até a ações de fato, quando uma cidade não possui contingente suficiente para ações de resposta frente a desastre. Há ainda outro ponto para colaboração intra-cidades: quando os membros da Defesa Civil estão comprometidos, diretamente afetados em uma catástrofe. Isso posto, retornando à missão, detalha-se a seguir: Prevenção A Defesa Civil está atenta a eventos que possam ocorrer e se antecipa quando possível, interditando áreas de risco, evitando propagação de um desastre. Reitera-se que este trabalho não tem como escopo a prevenção, embora em alguns momentos a Defesa Civil em conjunto com Logística assuma tal caráter. Apesar de o ditado "prevenir é melhor que remediar" seja válido, nem todo evento primário é passível de prevenção e os eventos subsequentes podem ser impossíveis de mitigar Socorro Em conjunto com Polícia Militar e Bombeiros no caso do Brasil, após um evento de desastre a prioridade é a vida humana. Socorro imediato nas primeiras horas é o objetivo. 17 Assistência Assim que todos os esforços para o socorro inicial são realizados, parte-se para a assistência, procurando manter as condições básicas para a vida humana, mitigando vulnerabilidade social até que se recupere ou reconstrua o local afetado, ou se encontre um local de contingência para o restabelecimento. Recuperação ou Reconstrução A recuperação ou reconstrução de um local afetado é a última fase de ação da Defesa Civil. Visa reestabelecer as condições anteriores para o desenvolvimento normal da vida. Nem sempre um local afetado é possível recuperar, então se faz necessário a contingência para realocação de desabrigados. Somente após passadas estas fases, pode-se considerar o trabalho da Defesa Civil como finalizado. 18 3. EVENTOS DE CATÁSTROFE Considera-se um evento de catástrofe todo aquele que altera o cotidiano de uma região de maneira significativa, expondo o ser humano local ou remoto ao risco de morte. 3.1. EVENTOS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS Evento primário é aquele que ocorre num primeiro momento, caracterizando o estado de catástrofe. Não é incomum um evento primário ser seguido de um ou mais eventos secundários que igualmente expõe o ser humano a risco. Por vezes um evento de maior ocorrência secundária pode ser relacionado como primário (Exemplo: Fogo). Em outros momentos, o evento causador não impacta diretamente em risco a vida humana, mas os secundários sim (Exemplo: Terremoto no fundo do mar, gerando tsunami). O tratamento de cada evento depende da natureza de cada um, independente de ser categorizado como primário ou secundário. A idéia de se categorizar assim é para facilitar modelagem de planos de ação. Exemplo: Após um terremoto, saber-se-irá que soterramento é praticamente certo em áreas densamente povoadas ou regiões de risco como encostas de morros. Durante este estudo, eventos secundários poderão ser chamados de “ripple” (onda) 19 3.2. LISTA DE EVENTOS PRIMÁRIOS E SECUNDÁRIOS RECONHECIDOS EVENTO PRIMÁRIO EVENTOS SECUNDÁRIOS POSSÍVEIS Tsunami, Fogo, Soterramento, Terremoto Desabrigados, Comprometimento de infra-estrutura básica, Inundação, Desabrigados, Tsunami Comprometimento de infra-estrutura básica, Mudança Climática Brusca, Desabrigados, Fogo Contaminação do Ar, Comprometimento de infra-estrutura básica, Contaminação Radioativa, Desabrigados, Acidente Nuclear Contaminação do Ar, Chuva ácida Contaminação Biológica, Mudança Climática Brusca, Inundação Contaminação de água potável, Comprometimento de infra-estrutura básica, Soterramento/Avalanche Desabrigados, Fogo, Furacão/Tornado Desabrigados, Comprometimento de infra-estrutura básica, Fogo, Tempestade Solar Falha de equipamentos eletrônicos, Comprometimento de infra-estrutura básica Fogo, Tempestade Magnética Falha de equipamentos eletrônicos, Comprometimento de infra-estrutura básica Contaminação de água potável, Contaminação Biológica Contaminação do Ar, Epidemia Precipitação de Chuva, Neve e Soterramento, Granizo Avalanche, Mudança Climática Brusca, 20 (Continuação de) Precipitação de Inundação, Chuva, Neve e Granizo Desabrigados, Comprometimento de infra-estrutura básica, Mudança Climática Brusca Desabrigados Mudança Climática Brusca, Soterramento, Fogo, Desabrigados, Erupção Vulcânica Contaminação do Ar, Contaminação da Água Potável, Comprometimento de infra-estrutura básica, Chuva ácida Tsunami, Terremoto, Soterramento, Queda de Corpo Celeste (Asteróide) Fogo, Desabrigados, Contaminação do Ar, Comprometimento de infra-estrutura básica, Fogo, Contaminação de água potável, Contaminação Radioativa Contaminação do Ar, Desabrigados, Comprometimento de infra-estrutura básica, Contaminação de água potável Epidemia Contaminação Biológica, Contaminação do Ar Epidemia Epidemia Comprometimento de área perimetral Mudança Climática Brusca, Comprometimento de infra-estrutura Epidemia, básica Desabrigados Comprometimento de recursos básicos para Chuva ácida sobrevivência 21 3.3. DURAÇÃO A duração de um evento primário ou secundário está relacionada ao tempo que se leva para resolver as consequências adversas e retornar a normalidade anterior ou próximo a isso. Um exemplo de longa duração é o terremoto do Haiti em 2010, cujas consequências ainda não foram resolvidas até 2015 (http://time.com/3662225/haiti-earthquake-five-year- after/) [ANEXO 1]. Considera-se este caso como catástrofe ainda em curso. Outro delimitador de duração é quando não há solução possível para reestabelecimento de condição anterior, como por exemplo Chernobyl 1986 (http://www.world-nuclear.org/information-library/safety-and-security/safety-of- plants/chernobyl-accident.aspx ) [ANEXO 2], onde os níveis de radiação são ainda muito altos e o período de meia-vida de alguns elementos liberados no evento passam de 30 anos e eventos secundários como fogo que espalham radiação ainda se fazem presentes: http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-2945929/Chernobyl-s-nuclear-threat-revived- Forest-fires-Ukraine-cause-radioactive-particles-released-Europe.html [ANEXO 3] 3.4. ABRANGÊNCIA GEOGRÁFICA E IMPACTO Embora num primeiro instante o impacto seja localizado, a abrangência geográfica de consequência pode se estender por milhares de quilômetros. Como exemplo recente a tragédia de Mariana-MG (http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-mariana/) [ANEXO 4] atingiu não só a região como se estendeu até o litoral. Outro caso de abrangência geográfica ampla foi a erupção do vulcão Eyjafjallajokull em 2010 na Islândia, chegando a provocar fechamento do tráfego aéreo do Canadá (http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2010/04/grafico-entenda-como-acontece-a- dispersao-da-cinza-vulcanica-e-os-danos-causados-a-aeronaves-2878655.html) [ANEXO 5], ou seja, o impacto de um evento pode ser intercontinental. Além dos impactos físicos, há os intangíveis como economia, afinal num mundo globalizado, nenhuma cidade ou região é isolada de outra, como as consequências indiretas econômicas de Chernobyl 1986, 30 anos depois: http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,em-30-anos--chernobyl-gerou-prejuizos- de-us-700-bilhoes,1861045 [ANEXO 6] Assim sendo, é imperativo que toda a humanidade se empenhe em mitigar as tragédias e auxiliar ao máximo, no mínimo por uma questão humanitária. Porém isto pode gerar um Segundo problema que será abordado mais a frente, referente a doações. 22 4. ESTUDOS DE CASO Este capítulo apresentará exemplos de casos reais e efeitos secundários (ripple) bem como as ações de socorro, assistência e recuperação. Pretende-se ao final dos estudos de caso identificar padrões de problemas nos desastres e como a logística pode auxiliar na resolução (no capítulo seguinte) 4.1 Fukushima 2011 Em 2011 um terremoto no fundo do mar (evento primário sem impacto direto) provocou uma Tsunami (que em japonês significa “onda grande do porto”) como efeito secundário (ripple) que atingiu o litoral do Japão, invadindo cidades costeiras. Além disso uma usina nuclear foi comprometida, gerando um terceiro efeito que foi o vazamento radioativo. Terremotos e tsunamis são casos clássicos de difícil previsão e impossibilidade de prevenção, a humanidade ainda não domina os elementos e remotamente conseguirá barrar uma tsunami e seus efeitos. Um video ilustra bem a violência e impossibilidade de mitigar uma Tsunami: https://www.youtube.com/watch?v=87IAZBKevvs [ANEXO 7 em mídia digital (CD)] É possível perceber efeitos secundários da tsunami, tais como interdição de rios, ruas, pontes, estradas, bem como destruição de linhas elétricas (aos 22:30) e fogo. Este caso de estudo é introdutório para identificar que todos os desastres seguem um padrão importante: estrangulamento de canais de comunicação, algo que a logística pode apoiar no socorro, assistência e recuperação. Embora vários impactos tenham sido resolvidos por recuperação, Fukushima ainda sofre com os efeitos radioativos. Por seu histórico frequente de terremotos, economia forte, área pequena que caracteriza recursos escassos e portanto não podem ser desperdiçados, o Japão é reconhecido por sua eficiente recuperação, afinal não há para onde evacuar. Importante lembrar que é o único país que passou por um apocalipse nuclear em Hiroshima e Nagasaki e teve que se reerguer como pôde. Sem dúvida essas características fazem do Japão uma referência em recuperação por Defesa Civil e Logística. 23 4.2 Chernobyl 1986 Como já abordado pontualmente neste trabalho, Chernobyl 1986 ainda é um desastre em andamento. As fases de socorro e assistência foram realizadas de imediato, mas a de recuperação com ação humana direta é praticamente impossível. Se fez necessário agir rapidamente para evitar um desastre ainda maior que seria a contaminação radioativa de rios e ar, que poluiria toda a Europa. As condições políticas da época impediram um maior envolvimento de ajuda externa, lembrando que se está falando da União Soviética, regime ainda fechado à época, mas decadente e qualquer falha poderia comprometer a propaganda da Mãe-Rússia. Esse fim de regime também contribuiu para o sucateamento de Chernobyl e consequente falahs de planos de contingência, que se revelou nas fases de assistência e socorro, com sacrifício de militares e voluntários: http://knowledgenuts.com/2014/04/13/when-three- divers-swam-into-the-jaws-of-chernobyl/ [ANEXO 8] Embora as condições políticas fossem desfavoráveis e as fases de assistência e socorro fossem mais uma questão de engenharia do que logística, caso tivessem um plano interno de emergência mais eficaz, poderiam sim se apoiar em logística para mitigar muito das consequências. Em Chernobyl também houve estreitamento de canais de comunicação, visto que cadeias de commando de militares ficaram comprometidas com sucessivas baixas, bem como comunicação via rádio, afinal a radiação era tão intensa que prejudicava os aparelhos. Então Cheronobyl se isolou muito de um comando central, distante da área de risco que pudesse tomar decisões mais razoáveis. O estreitamento de canais de comunicação também se deu pelo isolamento radioativo, ou seja, veículos de carga e evacuação, além de resgate e operação, não podiam ficar muito tempo na área atingida para evitar que carregassem muito da contaminação radioativa para fora. 24 4.3 – Mariana-MG 2015 O episódio de Mariana é considerado o pior desastre mundial nos últimos 100 anos em se tratando de barragens: http://noticias.terra.com.br/brasil/desastre-em-mariana-e-o-maior- acidente-mundial-com-barragens-em-100- anos,874a54e18a812fb7cab2d7532e9c4b72ndnwm3fp.html [ANEXO 9] É um desastre ainda em andamento, considerando que nem todos os desabrigados foram realocados até o momento de edição deste trabalho: http://noticias.r7.com/minas- gerais/desabrigados-de-mariana-mg-ainda-nao-sabem-onde-passarao-natal-e-ano-novo- 12122015 [ANEXO 10] Embora com comprometimento de canais de comunicação como estradas e rios, as fases de assistência e socorro foram realizadas, mas recuperação e reconstrução são virtualmente impossíveis. Além de topografia alterada, que soterrou cidades inteiras, rios foram afetados com impactos ainda em estudo, mas certamente a região não se normalizará em pouco tempo. Alguns dizem que o rio afetado está praticamente extinto: http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Meio-Ambiente/noticia/2015/11/e-oficial-o-rio-doce- esta-completamente-morto.html [ANEXO 11] 4.4 – New Orleans – Katrina – 2005 Após o furacão Katrina, a cidade de New Orleans foi completamente inundada, matando milhares e deixando outros tantos desabrigados. As fases de assistência e socorro foram lentas, comprometidas por questões políticas e raciais (região predominantemente ocupada por afro-descendentes), além do comprometimento de canais de comunicação pois não havia como remover toda a água acumulada em curto espaço de tempo, nem alcançar as vítimas em tempo hábil: http://www.livescience.com/22522-hurricane-katrina-facts.html [ANEXO 12] Importante salientar que na fase de assistência, segurança de propriedades é algo a se considerar, visto que canais de comunicação de cadeia de comando são comprometidos, e no caso de New Orleans, havia saques a casas feitos por barcos por exemplo. E a polícia não possuía efetivo ou barcos para atender todas as ocorrências: http://www.nbcnews.com/id/9131493/ns/us_news-katrina_the_long_road_back/t/looters- take-advantage-new-orleans-mess/#.VyAWlDArKUk [ANEXO 13] Este ponto da segurança merece atenção pois os efetivos policiais podem ser comprometidos no centro de um desastre e a logística pode ser necessária para deslocamento rápido de oficiais, bem como equipamentos como lanchas. A fase de recuperação e reconstrução é parcialmente considerada como concluída em New Orleans, pois a região não retomou seu ritmo econômico anterior, nem reestabeleceu o número de habitantes, talvez por receio de novos acontecimentos. 25 4.5 – Haiti 2010 Em 2010 um terremoto de grande magnitude arrasou o país. É considerado um desastre ainda em curso, visto que condições anteriores não foram reestabelecidas a contento: http://time.com/3662225/haiti-earthquake-five-year-after/ [ANEXO 1] O comprometimento praticamente total do país pelo terremoto, aliado a condições politico- econômicas, impossibilitou que o país se reerguesse por sua próprias pernas, necessitando por exemplo de socorro e assistência de Forças de Paz da ONU: http://www.cartacapital.com.br/internacional/minustah-completa-10-anos-em-meio-a- incertezas-7340.html [ANEXO 14] Embora as Forças de Paz da ONU já estivessem no país por outros motivos, houve a necessidade de deslocamento de mais tropas para atender as necessidades. E isso envolve logística também. Assim como em outros casos de estudo, houve comprometimento de linhas de comunicação, desde água potável, passando por eletricidade, gás e outras condições mínimas que evitassem a vulnerabilidade social. 4.6 - REGIÃO SERRANA-RJ 2011 Em 2011, chuvas torrenciais aliadas a condições geológicas provocaram o maior desastre brasileiro de causas naturais registrado: http://vestibular.uol.com.br/resumo-das- disciplinas/atualidades/tragedia-no-rio-o-maior-desastre-natural-do-pais.htm [ANEXO 15] Similar a Mariana quanto à natureza do desastre, o estreitamento de canais de comunicação como pontes e estradas bloqueadas, prejudicou ações de resgate, socorro e assistência e mesmo após 5 anos não é possível dizer que a área está recuperada em totalidade. O cotidiano para os antigos habitantes não voltou ao normal: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-01/cinco-anos-depois-teresopolis-nao- consegue-entregar-casas-prontas-desabrigado [ANEXO 16] 4.7 – Bhopal – Índia – 1984 Em 1984 ocorreu um grande vazamento de produtos químicos que se espalhou pelo ar e contaminou a água (estreitamento de canais de comunicação) e é considerado o pior desastre químico da História: http://www.greenpeace.org/brasil/PageFiles/4945/bhopal_desastrecont.pdf [ANEXO 17] Socorro e assistência imediatos não foram suficientes para preservação da vida e a recuperação da região está longe da normalização devido a disputas judiciais pendentes. Enquanto isso a população continua a sentir os efeitos daquele evento, que talvez pudesse ser mitigado ao isolar a região e/ou subsituir elementos contaminados por alternativas, como um novo canal de água, por exemplo. 26 4.8 – O problema das doações Uma sociedade organizada é aquela em que cada indivíduo tem a consciência de fazer parte de um todo e que quando uma parte dela é prejudicada, todos o são em maior ou menor grau. Mesmo assim, independente da consequência direta de um evento, a solidariedade deve nortear os valores de cada indivíduo. E dentre estes valores, a ação da doação é uma delas. Voltando um pouco à teoria logística, há o conceito de "melhor tempo" onde um produto deve chegar no tempo certo, nem antes, nem depois. Há também a quantidade que não deve ser pouca provocando ociosidade de armazéns e processos, nem muita que provoque um gargalo. Há ainda a questão da qualidade na logística, que por não ser um processo agregador de valor, no mínimo não deve ser um diminuidor deste. Aliando estes conceitos da logística e ao identificado nos estudos de caso anteriores sobre o estreitamento de canais de comunicação numa região de desastre, o tempo, quantidade e qualidade de uma doação deve ser bem criteriosa, evitando os cenários: Falha de Tempo Certo Um evento de desastre pode ser acompanhado de eventos secundários que podem não ocorrer simultaneamente, logo cada tipo de doação deve ser condizente com a necessidade em seu devido tempo. Falha de Quantidade A escassez já está presente na região afetada, logo pouca quantidade de um recurso já não é desejada. E muito também pode não ser. Produtos perecíveis por exemplo em grande quantidade se tornam mais um problema do que uma solução. Falha de Qualidade Além dos perecíveis, há de se incluir aqui o que se precisa e não o que os doadores desejam doar. Numa região acometida por chuvas, as pessoas necessitam de… Água! O rompimento de canais de abastecimento, contaminação, impedem o consumo deste recurso tão essencial à vida. O ser humano sem água sobrevive entre 3 a 5 dias somente. Pois então, muitos doadores não-orientados doam agasalhos quando pode não ser necessário. De maneira geral quando há um desastre, recursos básicos à vida, equipamentos e suprimentos ficam comprometidos, não só pela total inutilização dos mesmos localmente quanto pelo estrangulamento dos canais de comunicação de entrada, impedindo o fluxo anterior normal. 27 É muito comum que após desastres haja um movimento social humanitário espontâneo de auxílio, que se traduz em doações. Entretanto o que é louvável pela espontaneidade e espírito humanitário nem sempre se traduz em benefício. Este video traduz parte do problema: https://www.youtube.com/watch?v=pzH-7k035sM [ANEXO 18 – Mídia Digital - CD] Muitas vezes não há equivalência entre as reais necessidades de desabrigados e as doações, impactando em mais problemas visto que os canais de comunicação já se encontram comprometidos. O Tsunami na Indonésia – 2004 mostrou isso: muitas doações ao redor do globo eram de agasalhos, roupas para frio, sendo que a região estava numa estação de verão. Em Santa Catarina 2008, após fortes chuvas, houve também problema com doações sem fim prático: http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2008/12/05/ult5772u2008.jhtm [ANEXO 19] Problemas como triagem e descarte destas doações apenas agravam o problema já existente de gargalo nos canais de comunicação, comprometendo efetivo importante que poderia ser alocado para atividades mais focadas em assistência e socorro. Não bastasse as doações sem sentido, a falta de um controle efetivo pode levar a ações de má-fé, como captura e revenda para benefício próprio, desencorajando futuros doadores: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/doacoes-a-sc-eram-vendidas-em-brecho- bl0ovwxbqt2uytmglwgq0vbda [ANEXO 20] Curioso que mais uma vez se prova constante o problema de canais de comunicação após desastres, entre o que se necessita e o que se coleta. 28 5. CONCLUSÕES SOBRE OS ESTUDOS DE CASO Embora nem todos os grandes eventos de desastre tenham sido abordados, é possível verificar padrões importantes de recorrência. O que mais chama a atenção sem dúvida é o estrangulamento de canais de comunicação que prejudicam qualquer ação de assistência, socorro e recuperação. Escassez de recursos derivadas do desastre em si e do comprometimento de fluxos de entrada, pelo estrangulamento de canais de comunicação também é percebido pelo estudo de casos. Oc conceitos logísticos de gerenciamento de cadeia de suprimentos encaixam como uma luva para atendimento de necessidades em desastres, além de expertise em modais envolvidos, planejamento de rotas, evacuação e reconstrução. 29 6. SUGESTÃO DE PLANO LOGÍSTICO PARA ATENDIMENTO A DESASTRES Após a ocorrência de um desastre, os seguintes passos devem ser seguidos: Passos de socorro e assistência: 1- Identificar a natureza do desastre como descrito na tabela 3.2 de eventos primários e possíveis secundários 2- Determinar a magnitude do desastre para delimitar um raio de ação para assistência e socorro 3- Identificar categorias e quantos canais de comunicação diretamente relacionados às áreas afetadas foram comprometidos: a. Canais de transporte: ferrovia, fluvial, aéreo, rodoviário b. Canais de sustentação básica à vida como água e esgoto c. Canais de suporte: linhas elétricas, comunicação digital ou radiofônica d. Canais de escape ou vazão de desastre: rios, ar, trechos que propaguem fogo como linhas de gás, florestas. Após o levantamento deste item, retornar ao passo 1 recursivamente até que nenhum escape possa gerar eventos secundários 4- Para cada categoria de canal de comunicação comprometido identificado no passo 3, alocar uma equipe responsável, de acordo com a expertise. Cada equipe deve levantar os equipamentos e suprimentos necessários para suas ações e comunicar a um controle central. 5- Para cada unidade de canal comprometido, determinar uma equipe responsável, caso seja possível trabalhar em paralelo, senão se possível só o trabalho em série, dar autonomia a equipe responsável para decisão de ação em qual trecho trabalhará 6- Dada a natureza do desastre, criar equipes de triagem para evacuação de acordo com eventos primários, secundários e gravidade dos socorridos. 7- Identificar possíveis locais seguros como cidades vizinhas e estabelecimentos de recepção temporária para desabrigados, como estádios cobertos e hotéis, levando em consideração possíveis estabelecimentos próximos como hospitais ou áreas que permitam hospitais e centros de atendimento temporários 8- Mesmo que nem sempre necessário, estabelecer canais de evacuação para os locais seguros identificados no passo 7, de acordo com a natureza de ocorrência identificada no passo 6. 9- Determinar uma equipe para cada canal de evacuação, procurando evitar o cruzamento dos mesmos para não criar um segundo problema de gargalo 10- Nos locais seguros de evacuação, identificar overload de centros de atendimento e alocar temporariamente equipes médicas e estruturas como galpões infláveis 11- Identificar necessidades iniciais de desabrigados nos locais seguros de evacuação 12- Comunicar por broadcast a outras unidades de Defesa Civil ao longo da região (ou até mesmo do planeta) constantemente quais e quantos itens são necessários para necessidades básicas, como agasalhos, cobertores, água, medicamentos, dentre outros. 13- Na ponta da Defesa Civil que recebe o broadcast do passo 12, estabelecer centros de triagem para recepção de doações, a fim de evitar os problemas citados no item 4.8 (O problema das doações) 30 Passos de recuperação: 1 – Após assistência e socorro serem atendidos, partir para o reestabelecimento de canais de comunicação ainda não resolvidos. Bem como na fase de assistência e socorro, identificar canais: a. Canais de transporte: ferrovia, fluvial, aéreo, rodoviário b. Canais de sustentação básica à vida como água e esgoto c. Canais de suporte: linhas elétricas, comunicação digital ou radiofônica 2 – Identificação de facilities como hospitais, escolas, comércios, residências, indústrias que devem ser reconstruídos, quando possível e que não dependam exclusivamente de capital privado. Este passo não tem exatamente total influência de ação da Defesa Civil e Logística, pois seguros quando existentes podem tomar as rédeas das ações de recuperação. Nem sempre é possível recuperar as condições anteriores, então realocações, criação de novas cidades se faz necessário. 31 CONCLUSÃO Pelo estreitamento de canais de comunicação e consequente escassez de recursos, áreas atingidas necessitam de especial atenção e dificilmente se tem o melhor dos mundos para se agir. A mudança repentina de um cenário altera cotidiano, gerando confusão entre os que estão diretamente envolvidos então a organização se torna fundamental em meio ao caos e atuar de forma rápida, precisa, que podem se basear em planos de ação com tomadas de decisão o mais próximo de certas, são os objetivos da união de Defesa Civil com Logística. Assim como a teoria logística vem sendo empregada cada vez mais na sociedade em tempos de paz, muitas áreas podem se beneficiar de seus meios, processos. Dentre eles se destaca a Defesa Civil quanto a socorro, assistência e recuperação, objetivando a preservação da vida humana como prioridade e em momentos seguintes a reconstrução das estruturas para que a sociedade siga seu curso normal, o mais próximo, senão igual ao nível anterior. Tanto o instituto de Defesa Civil quanto a ciência Logística, são adventos e conceitos relativamente novos na humanidade. A união e colaboração das duas disciplinas pode gerar benefícios mútuos, com especial atenção a nova área de desenvolvimento para a Logística, ainda hoje mais voltada para os métodos de produção e transporte. Já para a Defesa Civil pode haver um significativo ganho de eficiência em suas ações. 32 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Haiti – 2010 1-http://time.com/3662225/haiti-earthquake-five-year-after/ 2-http://www.cartacapital.com.br/internacional/minustah-completa-10-anos-em-meio-a- incertezas-7340.html Chernobyl 1986 1-http://www.world-nuclear.org/information-library/safety-and-security/safety-of- plants/chernobyl-accident.aspx 2-http://www.dailymail.co.uk/sciencetech/article-2945929/Chernobyl-s-nuclear-threat- revived-Forest-fires-Ukraine-cause-radioactive-particles-released-Europe.html 3-http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,em-30-anos--chernobyl-gerou-prejuizos- de-us-700-bilhoes,1861045 4-http://knowledgenuts.com/2014/04/13/when-three-divers-swam-into-the-jaws-of-chernobyl/ Mariana 2015 1-http://g1.globo.com/minas-gerais/desastre-ambiental-em-mariana/ 2-http://noticias.terra.com.br/brasil/desastre-em-mariana-e-o-maior-acidente-mundial-com- barragens-em-100-anos,874a54e18a812fb7cab2d7532e9c4b72ndnwm3fp.html 3-http://noticias.r7.com/minas-gerais/desabrigados-de-mariana-mg-ainda-nao-sabem-onde- passarao-natal-e-ano-novo-12122015 4-http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Meio-Ambiente/noticia/2015/11/e-oficial-o-rio-doce- esta-completamente-morto.html Eyjafjallajokull 2010 http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2010/04/grafico-entenda-como-acontece-a- dispersao-da-cinza-vulcanica-e-os-danos-causados-a-aeronaves-2878655.html New Orleans – Katrina – 2015 1-http://www.livescience.com/22522-hurricane-katrina-facts.html 2-http://www.nbcnews.com/id/9131493/ns/us_news-katrina_the_long_road_back/t/looters- take-advantage-new-orleans-mess/#.VyAWlDArKUk Região Serrana – RJ 2011 1-http://vestibular.uol.com.br/resumo-das-disciplinas/atualidades/tragedia-no-rio-o-maior- desastre-natural-do-pais.htm 2-http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-01/cinco-anos-depois-teresopolis-nao- consegue-entregar-casas-prontas-desabrigado 33 Bhopal – Índia – 1984 http://www.greenpeace.org/brasil/PageFiles/4945/bhopal_desastrecont.pdf Santa Catarina – 2008 1-http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2008/12/05/ult5772u2008.jhtm 2-http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/doacoes-a-sc-eram-vendidas-em- brecho-bl0ovwxbqt2uytmglwgq0vbda 34 ANEXOS Todos os anexos referenciados, incluíndo vídeos, encontram-se em mídia digital que acompanham este trabalho 35
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