Universidade Federal de São Carlos Título do Projeto de Pesquisa: Pretty Little Liars: As representações sociais e os estereótipos em uma narrativa seriada Nome do Aluno: Lucas Godoy de Oliveira Nome do Curso de Graduação: Imagem e Som Nome do Orientador: Prof. Dr. Josette M. Alves de S. Monzani Departamento/Centro: Departamento de Artes e Comunicação/Centro de Educação e Ciências Humanas São Carlos / 2014 1 1 Introdução ao Problema Pretende-se desenvolver um estudo acerca da série televisiva Pretty Little Liars, criada por Marlene King. A série conta com quatro temporadas e, até o presente momento, está na fase de produção de sua quinta temporada. Pretty Little Liars aborda a vida de cinco amigas: Aria, Hannah, Emily, Spencer e Alison, das quais uma desaparece dando ensejo a ameaças anônimas que levam as protagonistas a viverem perigosas situações, além de criar um elo narrativo para os temas que se desenvolverão nos episódios. Pretty Little Liars (no Brasil: Maldosas)1 é uma série de drama e suspense que foi criada a partir dos livros homônimos escritos por Sara Shepard.2 Estreou nos Estados Unidos pelo canal pago ABC Family no dia 8 de Junho de 2010.3 No Brasil, a estreia aconteceu no dia 30 de março de 2011, pelo canal pago Boomerang.4 Na sequência, pelo canal pago Glitz, no dia 2 de outubro de 2013.5 A série adentrou à programação da TV aberta brasileira após três anos de seu lançamento nos Estados Unidos, pelo canal SBT no dia 2 de dezembro de 2013.6 Em todos os canais brasileiros acima citados, a série é exibida dublada. A série é desenvolvida pela Alloy Entertaiment7com associação da Warner Horizon Television,8 que por sua vez é responsável por sucessos como Gossip Girl (Josh Schwartz e Stephanie Savage, 2007) e The Vampire Diaries (Kevin Williamson e Julie Plec, 2009). A produtora elabora seu conteúdo baseado no gênero literário Chick Lit9 e o destina a uma audiência adolescente e jovem adulta. Os episódios da série duram em torno de 40 minutos e cada temporada tem aproximadamente 24 episódios. Já foram exibidas quatro temporadas e atualmente a 1 Disponível em <http://www.sbt.com.br/series/maldosas/> – Acesso em 13 abr. 2014. 2 Disponível em <http://www.webcitation.org/5n7nPcNAO> – Acesso em 13 abr. 2014. 3 Disponível em <http://abcfamily.go.com/shows/pretty-little-liars/episode-guide/season-01> – Acesso em 13 abr. 2014. 4 Disponível em <http://oglobo.globo.com/cultura/megazine/canal-boomerang-anuncia-que-estreara-pretty-little-liars- dia-30-de-marco-no-brasil-2834422> – Acesso em 13 abr. 2014. 5 Disponível em <http://pequenasmentirosas.com.br/pretty-little-liars-estreia-em-novo-canal-a-cabo-no-brasil/> – Acesso em 20 abr. 2014. 6 Disponível em <http://www.sbt.com.br/series/maldosas/episodios/> – Acesso em 13 abr. 2014. 7 Disponível em <http://alloyentertainment.com/tv-shows/> – Acesso em 13 abr. 2014. 8 Disponível em <http://www.warnerbros.com/studio/divisions/television/television-group.html> – Acesso em 13 abr. 2014. 9 Chick Lit é um gênero ficcional feminino que aborda as diferentes questões da mulher moderna. Disponível em <www.lostinchicklit.com.br/2009/01/o-que-e-chick-lit.html> – Acesso em 13 abr. 2014 2 série se encontra na fase de gravação de sua quinta temporada. Pretty Little Liars é exibida nos Estados Unidos nas terças-feiras às 20h (Horário do Pacífico e da Costa Leste) e 19h (Horário Central e das Montanhas). No Brasil, a série é exibida semanalmente como descrito a seguir: quartas-feiras, às 19h, pelo canal Boomerang e às 20h30 pelo canal Glitz e; segundas-feiras, à 1h30 da manhã, pelo canal SBT, dentro da programação do Tele Seriados. O elenco principal é composto pelas atrizes Lucy Hale (conhecida pela série Privileged de Rina Mimoun, 2008), Ashley Benson (conhecida por seu papel de protagonista no filme Spring Breakers, de Harmony Korine, 2012), Sasha Pieterse (conhecida por sua participação na série Heroes, de Tim Kring, 2006), Shay Mitchell e Troian Bellisario. As atrizes vivem a história das amigas Aria Montgomery, Hanna Marin, Alison DiLaurentis, Emily Fields e Spencer Hastings, respectivamente. Pretty Little Liars conta com um amplo portfólio de patrocinadores, dentre eles nomes como Microsoft, Samsung e Toyota Motors. Seus produtos são amplamente utilizados pelos personagens da série e seus nomes são evidenciados nos créditos finais dos episódios. A série conta a história de um grupo de cinco amigas (Aria, Emily, Spencer, Hannah e Alison) que vivem em uma pequena cidade chamada Rosewood, na Pensilvânia. A história do episódio piloto é introduzida com uma 'noite do pijama' em que as amigas, após ingerirem certa quantidade de álcool e dormirem, percebem que uma delas, Alison, está desaparecida. Neste mesmo episódio, paralelamente ao mistério do paradeiro de Alison, a série retrata o cotidiano das amigas que se separaram dado o choque do acontecimento e estão retornando à cidade de Rosewood. É-nos mostrado que se passou um ano após o ocorrido e a cidade noticia o “aniversário do desaparecimento” de Alison. Aparentemente desconsertadas pelo longo tempo distantes, as garotas tentam se adaptar ao seu novo estilo de vida. É quando começam a receber mensagens de texto em seus celulares e bilhetes no armário do colégio ameaçando revelar seus segredos pessoais, em referência direta ao título da série Pretty Little LIARS. As mensagens são assinadas por alguém que se denomina como “A”. Imediatamente, o grupo relaciona o remetente com Alison, a amiga desaparecida. Porém, no final do episódio, o corpo da garota é encontrado e, após irem 3 ao seu enterro, as garotas recebem outra mensagem do mesmo ameaçador dizendo que ele ou ela ainda estava lá e que sabia de todos os seus segredos e mentiras. A temporada segue com a decisão das garotas em investigar e resolver este mistério por conta própria. A partir de então, as amigas passam a vivenciar momentos perigosos, nos quais arriscam suas vidas para sobreviver. Os segredos das 'Liars' (o grupo das amigas 'mentirosas') são bastante intensos para uma cidade pacata como Rosewood. Elas escondem segredos como: o fato de Emily, que tem um namorado, já ter beijado Alison; Aria estar se relacionando com seu professor de inglês, bem mais velho do que ela; Spencer ter beijado o noivo de sua irmã, e; Hanna ter roubado um óculos de uma loja no shopping da cidade. Devemos enfatizar o fato de que, já no episódio piloto da série, a mãe de Hanna, Ashley Marin (vivida pela atriz Laura Leighton, famosa por seu papel na série Melrose Place, de Darren Star, 1992) acobertou o crime da filha, subornando um policial com uma noite de sexo. Além disso, Ashley, que trabalha em um banco, roubou uma grande quantidade de dinheiro de um de seus clientes para bancar a vida luxuosa que ela e a filha levam. A personificação de “A” aparenta ser onipresente, o que resulta em falhas ou descuidos narrativos para facilitar suas ações criminosas. Podemos citar, como exemplo, que ela invade a casa das garotas inúmeras vezes por sempre deixarem suas portas e janelas abertas. No decorrer de todas as temporadas, é percebido ainda que “A” posiciona-se como observador, principalmente através das janelas das casas. Estes atos resultam em barulhos que assustam as Liars que, por sua vez, resolvem não tomar atitude a respeito, apenas fazem expressões de pânico. Somente na segunda temporada, após inúmeras situações envolvendo a vida e a morte das personagens e também o apontamento de várias identidades suspeitas de serem “A”, a série resolve revelar a incógnita. O suspense foi, então, utilizado como meio de campanha para a divulgação massiva da série na semana anterior ao último episódio da segunda temporada. Neste último episódio, a descoberta ocorre com a personagem Spencer sendo encaminhada para um sanatório após ver seu namorado, supostamente assassinado por “A”, caído e ensanguentado. A cena não revelou o verdadeiro personagem assassinado, seu rosto era oculto por um capacete de motociclista. Com o desenvolver da história, é descoberto que foi tudo uma armação. 4 No sanatório, a personagem descobre segredos sobre Mona, a melhor amiga de Hanna, indicando que ela é a identidade de “A”. Para sustentar essa hipótese, é mostrado ao público que Mona tem um “covil” abarrotado de fotos de flagrantes das garotas e de Alison, tal como uma obsessão. Neste contexto, Mona tenta armar uma emboscada para matar Spencer em um acidente de carro, porém as Liars conseguem chegar a tempo e interceptam a ação. Mona é encurralada pelas meninas e acaba tropeçando num barranco. Ela é resgatada e o episódio termina mostrando que ela não morreu, mas foi internada no mesmo centro de reabilitação que Spencer havia ficado. A cena mostra as costas de uma pessoa de casaco vermelho dizendo à Mona que ela seguiu corretamente com “o plano”. Desapontando a expectativa dos telespectadores de descobrirem quem é a real identidade, um novo suspense induz a hipótese de “A” ser um grupo de pessoas e não somente um indivíduo. Após este evento, já em sua terceira temporada, a série inicia uma espécie de ciclo de acontecimentos envolvendo a segurança e os segredos das garotas, sempre sabotadas pelo tal grupo “A”. Inúmeras perseguições, chantagens, acidentes e mentiras constituem a narrativa que se torna maçante. Também estão presentes a abertura de arcos inconclusivos e a incessante utilização do recurso deus ex machina10, com o objetivo de solucionar problemas que na maioria das vezes permanecem sem solução. No episódio 13 da segunda temporada, é mostrado um flashback de Alison contando uma história de horror para Hanna, acompanhadas por um garoto do qual elas estavam sendo babás. O conto falava sobre duas irmãs gêmeas que brincavam de boneca enquanto os pais estavam fora de casa. Após um desentendimento sobre a posse de uma destas bonecas, uma das irmãs esfaqueia a outra e é enviada para uma “casa para insanos que cometem crimes”, nas palavras da própria Alison. A história é retomada no episódio 13 da terceira temporada, quando Ashley, a mãe de Hanna, encontra a mesma gêmea do conto na cozinha de sua casa. A garota diz que está perdida e pede para utilizar o telefone. Ashley diz que a gêmea poderia aguardar lá enquanto sua mãe não chegasse. Quando ela toca na garota, percebe que a mesma estava gelada e a cobre com uma manta. Preocupada, ela chama seu namorado para verificar. Quando retorna à cozinha, a menina não está mais lá e a manta parecia intocada. É dada ao telespectador a ideia da utilização de recurso sobrenatural na história, porém essa narrativa não tem 10 “A expressão é usada para indicar qualquer solução inesperada e improvável ou para terminar uma obra de ficção ou para resolver uma situação problemática na chamada vida real”. (KRAUSE, Gustavo B. 2012, em: <http://www.e- publicacoes.uerj.br/index.php/soletras/article/download/5030/3701> – Acesso em 29 abr. 2014) 5 relação alguma com a história da série. No mesmo episódio, por exemplo, a personagem de Aria é ameaçada de ser arremessada por “A” para fora de um trem caso suas amigas não chegassem a tempo de salvá-la. Ao invés disso, uma das possíveis identidades de “A” é arremessada em seu lugar. Com situações como essas, a utilização do extraordinário mostra-se dispensável. Outro exemplo pode ser analisado no episódio 13 da quarta temporada da série, quando presenciamos o confronto frente a frente entre a personagem Spencer e a identidade misteriosa de “A”. As garotas estão dentro de uma casa e, após ouvirem a voz de Alison, decidem espalhar-se para procurá-la. Spencer entra em uma estufa de plantas e encontra “A”, uma figura masculina trajando uma roupa à prova de radioatividade. Os dois iniciam uma luta e Spencer o atinge com as costas de uma tesoura. Porém, após o nocaute, ao passo que a personagem lentamente se aproxima para retirar a máscara, é empurrada para trás, bate com a cabeça no canto de uma mesa e desmaia, enquanto “A” escapa. O evento é decepcionante, dado que a personagem foi indubitavelmente tardia na retirada da máscara, mostrando que a cena foi inserida apenas com o pretexto de gerar suspense e mistério. Pode ser analisada, ainda, outra situação no mesmo episódio. Após as garotas perseguirem uma pessoa de capuz vermelho por uma mata e encurralarem-na, descobre-se que a mesma é sua amiga Alison. A garota, que durante as quatro temporadas foi dada como morta, está viva e saudável. A personagem justificou sua “falsa” morte como um modo de se proteger de “A”. Relata, ainda, que não era seguro para ela ficar em Rosewood e que para isso precisava da ajuda de suas amigas. Porém, após ouvir um barulho vindo da mata, Alison desapareceu enquanto suas amigas se viravam para verificar. Há contrariedade neste acontecimento, pois o corpo de Alison foi encontrado no primeiro episódio da série. Neste contexto, um novo mistério é inserido: de quem então seria o corpo enterrado? Apesar da utilidade deste fato como um dispositivo do suspense, podem ser apontados alguns questionamentos para argumentar sua ineficácia: o rosto da garota não é mostrado quando o cadáver é encontrado, então não sabemos se ele é identificável. Porém, o procedimento padrão é a realização de exame de DNA para provar se a identidade era dela mesmo ou não. Além disso, no instante em que a polícia retirava o corpo do local, foi informado à personagem Emily que a identidade era de Alison. 6 A descoberta de que a personagem Alison está viva, porém se escondendo durante este tempo para se proteger de “A”, estabelece várias ideias para novos arcos que constituirão as próximas temporadas. Pretty Little Liars possui a estrutura de filmes e séries policiais da TV, como The Mentalist (Bruno Heller, 2008), The Killing (Soren Sveistrup, 2011) e Twin Peaks (Mark Frost e David Lynch, 1990). Estas séries mostram o suspense do ponto de vista de investigações sobre uma morte específica durante todas as suas temporadas, diferentemente de séries como Law & Order (Dick Wolf, 1990) e CSI (Anthony E. Zuiker, 2000). Neste último caso, o qual contrasta a série estudada, cada episódio discorre um crime diferente. Neste caso, o diferencial de Pretty Little Liars é que sua narrativa é voltada para um público juvenil/adolescente e faz um uso 'consciente', deliberado, dos clichês de filmes policiais e de terror. A personalidade das personagens é também estereotipada. Aria é o tipo de adolescente rebelde que pinta o cabelo de rosa e vive um relacionamento perigoso e incorreto com seu professor. Hanna é a adolescente que, obesa na infância, se desenvolve e torna-se a popular da escola. Com o abalo da separação de seus pais, tenta chamar a atenção da mãe com atos criminosos, como pequenos e recorrentes roubos (cleptomania). Spencer é a garota modelo, vem de uma família tradicional e influente na cidade. Seus pais são advogados e bastantes competentes com o trabalho. Porém, a garota luta para não ser ofuscada por sua irmã, que é formada em uma universidade renomada e tem o tipo padrão de “namorado perfeito”. Por isso, dedica-se ao máximo aos estudos e trabalhos voluntários. Emily é a garota simples, vem de uma família tradicional e religiosa. Sua mãe, que antes era enfermeira no exército, agora é dona de casa. Porém, seu pai ainda exerce a função de soldado e não faz parte do cotidiano da família regularmente. Ela possui um namorado, porém nutre sentimentos homoafetivos após ter beijado sua melhor amiga, Alison. Por último, Alison, a garota popular, que espalha segredos e adora fazer bullying com os fatos acima citados de suas amigas. Ela manipula tudo e todos para conseguir o que quer. Além de fazer chantagem com os segredos de inúmeros “colegas” do colégio, é rebelde, retratada por estereótipos clichês como uso de bebidas alcoólicas e cigarros, e sai com homens mais velhos. A riqueza é praticamente outro personagem: a câmera foca em piscinas luxuosas, vestidos exuberantes e enormes salas de estar. Por outro lado, a situação socioeconômica das cinco personagens principais não é abordada minuciosamente em 7 Pretty Little Liars. O que se aparenta é que a classe econômica das protagonistas é média-alta: suas casas são enormes e tradicionais, sempre existe mais de um carro e as garotas também os dirigem. A exceção se dá por Emily, que, apesar de aparentemente não pertencer a uma classe baixa, vem de uma família humilde e luta para conseguir uma bolsa de estudos em uma faculdade com seu talento como nadadora. Suas famílias têm ocupações distintas. São advogados, professores, militares e bancários. O bairro onde as garotas vivem é rico, todas as casas possuem carros luxuosos e o estilo é americano, sem muros dividindo as propriedades. O estilo que as garotas vestem está tão na moda que surgiram blogs para tratar do assunto.11 * Pretty Little Liars ocupa a 1ª posição no ranking das séries que passam às 20h na TV a cabo americana, com um total de aproximadamente 3.1 milhões de telespectadores por temporada. Também ocupa a 58ª posição no ranking das séries de TV assistidas por um público de 12 a 34 anos, com 2.1 milhões de telespectadores.12 Seu último episódio exibido, a season finale13 da quarta temporada, rendeu-lhe a 1ª posição no ranking das séries de TV mais tuitadas14 de 2014 e também a 4ª posição entre as séries de TV mais tuitadas da história da televisão, com aproximadamente 1,5 milhões de tweets.15 A série também ocupa o 1º lugar com o 13º episódio de sua quarta temporada.16 A série obtém números exorbitantes se comparada com outras similares, como Gossip Girl, série já finalizada, que obteve 1.51 milhões de telespectadores17em seu último episódio. Levando-se em conta esses números relativos à audiência da série e frente aos problemas de continuidade narrativa e de clichês apresentados por ela, conforme o exposto acima e que serão retrabalhados no desenrolar desta pesquisa, considera-se 11 Disponível em <http://fashionofprettylittleliars.tumblr.com/> – Acesso em 31 mar. 2013. 12 Disponível em <http://tvbythenumbers.tumblr.com/post/80096616965/spring-finale-of-pretty-little-liars-hits- season> – Acesso em 14 abr. 2014. 13 É o termo utilizado para designar o último episódio de uma temporada. 14 Tweet é o modo de escrita da rede social Twitter. 15 Disponível em <http://tvbythenumbers.tumblr.com/post/80096616965/spring-finale-of-pretty-little-liars-hits- season> – Acesso em 14 abr. 2014. 16 Disponível em <http://tvbythenumbers.zap2it.com/2013/08/28/abc-familys-pretty-little-liars-summer-finale- becomes-1-most-tweeted-tv-series-telecast-ever-with-nearly-1-9-million-tweets/199888/> – Acesso em 14 abr. 2014. 17 Disponível em <http://tvbythenumbers.zap2it.com/2012/12/18/tv-ratings-monday-gossip-girl-up-a-tick-for-series- finale-how-i-met-your-mother-the-voice-mike-molly-up-hawaii-five-0-dips/162198/> – Acesso em 14 abr. 2014. 8 relevante levantar e discutir os principais pontos temáticos pelo programa abordados, como meios para se analisar também o seu papel sobre a audiência. Alguns deles são: A) RELACIONAMENTO PROFESSOR/ALUNA Um tópico polêmico à audiência é o relacionamento de Aria com seu professor de inglês, Ezra. Eles começam a se envolver antes de saberem que ele iria ser seu professor. A história que cerca o relacionamento é centrada na frustração em ter que mantê-lo em segredo. Quando é percebido que Ezra poderia ir para a cadeia caso a relação fosse descoberta, a possibilidade é ignorada, eles continuam mantendo o namoro em segredo. Além disso, nenhum personagem na série julga o relacionamento de uma personagem de 16 anos com outro mais velho e com esse tipo de grau de autoridade. A romantização do relacionamento deixa ao púbico a errônea impressão de que um relacionamento de uma jovem de 16 anos com um professor mais velho pode ser saudável e positivo. B) CYBERBULLYING Como já abordado, a série retrata explicitamente o cyberbullying no cotidiano de jovens meninas. Aloma Felizardo descreve o cyberbullying como: Uma versão eletrônica do bullying praticada por meio de agressões verbais e escritas utilizando-se a internet. A vítima recebe mensagens ameaçadoras, conteúdos difamatórios, imagens obscenas, palavras maldosas e cruéis, insultos, ofensas, extorsão etc., e tudo isso pode alcançar milhões de pessoas em questão de segundos. (FELIZARDO, Aloma, 2010. Disponível em: <http://www.bullyingcyberbullying.com.br/bullying/o-que-e- cyberbullying> – Acesso em 13 abr. 2014) Este tema é utilizado, também, para efeito de suspense. Neste contexto, são destacados os seguintes tópicos para reforço desta ideia: 9 • A série prega certa autossuficiência dos jovens e a sua recusa em procurar ajuda com adultos. Uma posição que pode trazer efeitos negativos para os jovens espectadores; • As jovens sentem que têm muitos segredos comprometedores para poderem ser completamente honestas com seus pais, conselheiros ou até mesmo a polícia; • Ao invés disso, sempre se encontram correndo entre florestas durante a noite, explorando galpões desertos e normalmente se fazendo parecer culpadas ao procurar por pistas; • Quando elas finalmente resolvem se abrir para uma terapeuta, a mesma subitamente desaparece; • Ao analisar o caso de jovens que se suicidam devido ao cyberbullying, é um tanto perigoso pregar a ideia de que uma jovem não deve procurar por ajuda se sofrer algum tipo de abuso, por isso a ABC Family lançou uma campanha pública de anti-cyberbullying;18 Segundo Singhal e Rogers: “The effectiveness of the message increases when supplementary materials are included in a campaign.”19 (SINGHAL e ROGERS, 1999, pg. 346) Enquanto a ABC Family utiliza a autossuficiência das personagens para efeito dramático, também aconselha sobre a gravidade do assunto através de campanhas que se estendem de comerciais de TV a redes sociais, como o Facebook. C) RETRATO GAY O fato da personagem Emily Fields se assumir gay na série traz um modelo positivo para os adolescentes que buscam ter esse tipo de conversa com os pais ou com amigos. Em um dos episódios, Emily aconselha uma garota com quem ela está saindo a se encontrar com um Peer Mentor (pessoa que é abertamente homossexual e se voluntariou para se encontrar com jovens que questionam sua identidade ou estão sofrendo com o processo de aceitação). Shay Mitchell, que protagoniza a personagem, comenta: If I can represent the gay community in any small way, I’m proud to do that,” Shay said. “But I have had a lot of girls even on the 18 Disponível em <http://www.examiner.com/article/delete-digital-drama-to-end-cyberbullying> – Acesso em 13 abr. 2014. 19 Tradução nossa: A efetividade da mensagem aumenta quando materiais complementares são incluídos em uma campanha. 10 street that recognize [me] … and they ask me for advice. I don’t feel in any position to [give it], but I’m just saying be true to yourself and that’s what the character is doing … just live as much as an authentic life as you can.20 (MITCHELL, Shay. Disponível em: <http://www.afterellen.com/tca-liveblog-shay-mitchell-and-marlene- king-give-us-the-scoop-on-pretty-little-liars/01/2011/>. Acesso em: 13 abr. 2014.) D) UNIÃO/AMIZADE EM GRUPO Talvez o fato mais importante da série seja que ela retrata de forma moderna, precisa e positiva a amizade existente entre as jovens garotas. Mesmo que elas tenham sido manipuladas um dia por sua amiga Alison, atualmente Aria, Hannah, Spencer e Emily se amam e ajudam umas às outras, apesar das tentativas de ‘A’ de separá-las. Enquanto em outras séries, como Girls (Lena Dunham, 2012), os grupos femininos normalmente sugerem uma visão egocêntrica de amizade, com as protagonistas e seus egos inflados, em Pretty Little Liars as quatro amigas são um grupo autêntico, no qual a amizade que impera entre elas é bastante significativa. Deve-se lembrar aqui também que em Girls, as protagonistas possuem mais de 20 anos e sua jornada é achar a si mesmas em busca da felicidade.21 Em Pretty Little Liars as protagonistas ainda são adolescentes cursando o Ensino Médio e suas preocupações coincidem com esta realidade. 2 Objetivos Neste trabalho, pretende-se analisar os principais pontos temáticos abordados por Pretty Little Liars: a forma pela qual os temas instigam a curiosidade do público alvo e o prendem, levando a série à garantia de um crescimento constante de audiência e à solidificação de uma base de fãs no Brasil. Na análise de fatores que exercem alguma influência na audiência, considerar-se-á, também, os clichês narrativos, os personagens 20 Tradução nossa: “Se eu posso representar a comunidade gay em qualquer pequeno aspecto, eu estou orgulhosa em fazê-lo,” disse Shay. “Mas eu tenho tido várias garotas mesmo na rua que me reconhecem e me pedem por conselhos. Eu não me sinto em nenhuma posição para dá-los, mas continuo dizendo para serem verdadeiras com vocês mesmas e é isso que a personagem está fazendo... somente viva a vida o mais autenticamente que você consiga.” 21 Disponível em <http://tvline.com/2014/02/17/girls-season-3-beach-house-hannah-marnie-shoshanna-jessa- friendships-insults/> – Acesso em 30 abr. 2014. 11 estereotipados e os patrocínios que marcam essa narrativa serial, além das mensagens que estão sendo transmitidas aos adolescentes de maneira geral. A partir de temas polêmicos presentes na realidade dos adolescentes brasileiros, como o cyberbullying e a homossexualidade, deve-se discutir, ainda, como os pontos abordados pela série atingem à sociedade brasileira. 3 Metodologia O projeto possui caráter teórico, voltado para a análise da construção narrativa serial, buscando estabelecer métodos para cativeiro do público-alvo e quais temas instigam sua curiosidade a partir dos fatores polêmicos da série. Será dada atenção às sequências que abordam questões relacionadas ao comportamento social das personagens e à sua relação com elementos dos gêneros policial/suspense e horror que caracterizam a produção. Em relação à análise da construção narrativa, a metodologia da pesquisa contemplará a leitura detalhada de toda a primeira temporada da série e também a escolha de episódios específicos da segunda, terceira e quarta temporadas, para avaliar o seu andamento e desenvolvimento. Com o objetivo de empreender uma análise comparativa da série em estudo, serão exploradas as séries Gossip Girl (Josh Schwartz e Stephanie Savage, 2007) e Twin Peaks (Mark Frost e David Lynch, 1990) de modo a correlacionar o contexto 'adolescente' e 'policialesco' de Pretty Little Liars com narrativas seriais que tratam especificamente destes gêneros. Serão necessários para o desenvolvimento desse trabalho, a leitura e o fichamento de textos que abordam a estética cinematográfica e os traços melodramáticos, policialescos e de horror que constituem esses gêneros, como escritos de Tzvetan Todorov, André Gaudreault, François Jost, Ismail Xavier, Martine Joly, Laurent Jullier e Michel Marie, Colin MacArthur, Phyllis Dorothy James e Jonathan Nichols-Pethick, além de Noel Carroll, Minet de Wied, Dolf Zillmann e Ed Tan sobre esses pontos. Será imprescindível, ainda, analisar as visões estereotipadas recebidas pelas personagens, a fim de perceber a que ponto estas estão relacionadas com suas 12 representações sociais. Para esta abordagem, serão utilizados os trabalhos de Bruno M. Mazzara e de Edgard Morin que tratam dos estereótipos nos meios de comunicação. Por último, será necessária a leitura de bibliografia sobre a função e o papel social da TV e das séries televisivas, podendo-se já destacar os trabalhos de François Jost e Arlindo Machado sobre o assunto. 4 Resultados Esperados Espera-se que a pesquisa desenvolva uma visão mais detalhada do tema e torne possível conhecer a fundo os debates em torno do mesmo presentes na atualidade. É esperado, ainda, que seja desenvolvida neste trabalho uma visão inicial do assunto, que poderá ser reelaborada para o desenvolvimento de um futuro mestrado. Por fim, almeja- se aprender acerca de todas as etapas envolvidas na realização de um trabalho acadêmico e nele aplicar os conhecimentos que vêm sendo obtidos no curso de graduação em Imagem e Som. 5 Análise dos Resultados A partir da leitura e análise do objeto selecionado para estudo e o emprego da metodologia indicada, espera-se chegar a resultados que venham a dar respostas aos objetivos e hipóteses de trabalho previstos pela pesquisa. 13 6 Cronograma de Trabalho Atividades Ago Serão realizados a leitura e o fichamento dos livros fundamentais sobre a estética cinematográfica e traços melodramáticos. Além disso, será feita a decupagem das sequências mais relevantes da primeira temporada da série (e Set de episódios específicos da segunda, terceira e quarta temporadas) para análise do comportamento social das personagens e a sua relação com Out elementos dos gêneros que caracterizam a produção. Nov Serão realizados a leitura e o fichamento dos textos sobre a constituição de uma série televisiva e também dos que envolvem os elementos que constituem o cinema policial/suspense clássico e, mais especificamente, as Dez séries de gênero policial. (2014) Jan (2015) Será realizada a leitura e fichamento dos livros que analisam os estereótipos, a fim de estabelecer a relação das personagens com suas representações Fev sociais. Além disso, a relação da série com outras séries do mesmo gênero será estudada e se procederá à redação de um primeiro texto. Mar Abr Mai Neste período será feita a escritura do restante da análise, a partir da leitura das temporadas da série e das informações obtidas pelo estabelecimento das relações entre o público alvo da série e as formas pelas quais seus temas são Jun abordados. Jul 14 7 Referências Bibliográficas ARVIND, Singhal e ROGERS M., Everett. Entertainment-Education: A Communication Strategy for Social Change. Lawrence Erlbaum, 1999. CARROLL, N. 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