O Livre Mercado e seus Inimigos Sumário Agradecimentos ................................................................................ 3 Introdução ......................................................................................... 4 1ª Palestra: A Economia e seus oponentes ..................................................... 19 2 ª Palestra: Pseudo-ciência e compreensão histórica .................................... 26 3 ª Palestra: O homem em ação e a Economia ............................................... 36 4 ª Palestra: Marxismo, socialismo e pseudo-ciência ..................................... 47 5ª Palestra: Capitalismo e progresso humano ................................................ 64 6ª Palestra: Dinheiro e inflação ..................................................................... 78 7 ª Palestra: O padrão-ouro: sua importância e restauração ........................... 91 8ª Palestra: Dinheiro, crédito e o ciclo econômico ...................................... 105 9 ª Palestra: O ciclo econômico e além ......................................................... 119 Referências ................................................................................... 132 O Livre Mercado e seus Inimigos Agradecimentos Estas palestras, ministradas por Ludwig von Mises na Fun - dação para a Educação Econômica 1 no verão de 1951, não existiri - am se não fosse por Bettina Bien Greaves, que as anotou palavra por palavra usando taquigrafia, e que disponibilizou as transcrições carinhosamente para a FEE. A Sra. Greaves trabalhou na Fundação como membro da equipe sênior por quase 50 anos, até sua aposen - tadoria em 1999. Ela e seu falecido marido, Percy L. Greaves Jr., estavam entre os amigos mais próximos de Mises. Sua apreciação e compreensão dos trabalhos de Mises ajudaram a manter seu legado vivo por uma nova geração de amigos da liberdade. A publicação dessas palestras foi possível graças à generosi - dade do Sr. Sheldon Rose, de Farmington Hills, Michigan, e à Fun - dação Richard E. Fox, de Pittsburgh, Pensilvânia, e especialmente ao apoio generoso do executivo sênior da Fundação Fox, Sr. Mi - chael Pivarnik. A Sra. Beth Hoffman, editora executiva de The Freeman 2 , publicação mensal da FEE, supervisionou a preparação do manus - crito do início ao fim com seu cuidado profissional de sempre. 1 Foundation for Economic Education (FEE). — NE 2 A tradução livre do nome desta publicação seria O Homem Livre . — NT 3 Introdução Introdução Por Richard M. Ebeling Ao longo de um período de doze dias, de 25 de junho a 6 de julho de 1951, o economista austríaco Ludwig von Mises, de reno - me internacional, ministrou uma série de palestras na Fundação para a Educação Econômica (FEE) em sua sede, em Irvington-on- Hudson, Nova Iorque. Bettina Bien Greaves, membro da equipe da FFE à época, anotou as palestras de Mises usando taquigrafia, pala - vra por palavra, e então as transcreveu num manuscrito completo. Este permaneceu sem ser publicado até agora. A FEE tem a honra de finalmente disponibilizar essas pales - tras para uma nova geração. Mises tinha quase 70 anos de idade quando disse as palavras que estão neste texto, mas elas revelam uma vitalidade mental bastante jovial por sua clareza e sua visão do livre mercado, e pela sua análise crítica dos inimigos da liberdade. Ludwig von Mises: Sua Vida e Contribuições Durante as décadas anteriores a estas palestras que Mises ministrou na FEE, ele tinha se consolidado como uma das princi - pais vozes da liberdade no mundo ocidental. 3 3 Sobre a vida de Mises e suas contribuições para a economia e a filosofia da liberdade, veja Richard M. Ebeling, Austrian Economics and the Political Economy of Freedom (Northampton, Mass.: Edward Elgar, 2003), Cap. 3, “A Rational Economist in an Irrational Age: Ludwig von Mises”, pp. 61-99; e Richard M. Ebeling, “Planning for Freedom: Ludwig von Mises as Politi - 4 O Livre Mercado e seus Inimigos Ludwig von Mises nasceu em 29 de setembro de 1881 em Lemberg, a capital da província da Galícia no antigo Império Aus - tro-Húngaro (conhecida atualmente como Lvov, na Ucrânia ociden - tal). Formou-se na Universidade de Viena em 1906 com o grau de doutor em Direito e uma especialização em Economia. Depois de trabalhar brevemente como escrivão da lei, ele foi contratado pela Câmara Vienense de Comércio, Artesanato e Indústria 4 em 1909, e dentro de poucos anos foi promovido à posição de analista econô - mico sênior da Câmara. Mises foi logo reconhecido como uma das mentes mais perspicazes e penetrantes da Áustria. Em 1912, ele publicou The Theory of Money and Credit , um livro que foi elevado rapidamente ao status de obra de destaque da teoria e política monetária, no qual ele apresentou pela primeira vez o que se tornaria conhecido como a Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos. As inflações e depres - sões não eram inerentes a uma economia de livre mercado, argu - mentava Mises, mas causadas pelo mau gerenciamento governa - mental dos sistemas monetário e bancário. 5 O seu trabalho acadêmico foi interrompido em 1914, no en - tanto, com a chegada da Primeira Guerra Mundial. Pelos próximos quatro anos, Mises serviu como oficial no Exército Austríaco, a cal Economist and Policy Analyst” em Richard M. Ebeling, ed., Competition or Compulsion: The Market Economy versus the New Social Engineering (Hillsdale, Mich.: Hillsdale College Press, 2001), pp 1-85; veja também Murray N. Rothbard, Ludwig von Mises: Scholar, Creator, Hero (Auburn, Ala.: Ludwig von Mises Institute, 1988), e Israel M. Kirzner, Ludwig von Mises (Wilmington, Del.: ISI Books, 2001). 4 Vienna Chamber of Commerce, Crafts, and Industry. – NE 5 Ludwig von Mises, The Theory of Money and Credit (Indianápolis: Liberty Classics [1912; eds. revisadas, 1924, 1953], 1980) [Obra sem edição em lín - gua portuguesa; a tradução livre de seu título seria A Teoria do Dinheiro e do Crédito – NT]; e também por Mises, “Monetary Stabilization and Cyclical Policy” [1928], reimpresso, em Israel M. Kirzner, ed., Austrian Economics: A Sampling in the History of Tradition , Vol. 3: The Age of Mises and Hayek (Londres: William Pickering, 1994), pp. 33-111. 5 Introdução maior parte do tempo numa frente oriental contra o Exército Russo. Ele foi condecorado três vezes por bravura sob fogo. Depois que Lenin e os bolcheviques assinaram o tratado separado de paz com a Alemanha Imperial e a Áustria-Hungria, em março de 1918, que re - tirou a Rússia da guerra, Mises foi colocado como o oficial encarre - gado do controle da moeda na parte da Ucrânia que estava ocupada pelo Exército Austríaco sob os termos do tratado de paz, com seu quartel-general na cidade portuária de Odessa, no Mar Negro. Du - rante os últimos meses da guerra, antes do armistício de 11 de no - vembro de 1918, Mises permaneceu situado em Viena, servindo como analista econômico para o Alto Comando Austríaco. Depois de sair do exército, ao final de 1918, ele retornou a suas obrigações na Câmara Vienense de Comércio, 6 com uma res - ponsabilidade adicional, até 1920, de ser o encarregado pela filial da Comissão de Reparação da Liga das Nações, 7 supervisionando a liquidação de obrigações de débito anteriores à guerra. Nos anos imediatamente posteriores à guerra, a Áustria es - tava num estado caótico. O antigo Império Austro-Húngaro foi cin - dido, deixando uma nova e muito menor República da Áustria. A hiperinflação e as barreiras agressivas de comércio erguidas por pa - íses vizinhos logo reduziram a população austríaca a condições quase de fome. Além disso, houve diversas tentativas de se estabe - lecer violentamente um regime revolucionário socialista na Áustria, bem como as guerras de fronteira com a Tchecoslováquia, Hungria e Iugoslávia. Em seu posto na Câmara Vienense de Comércio, Mises lu - tou dia e noite para evitar a destruição de sua terra natal. Ele teve influência no impedimento da nacionalização completa da indústria austríaca pelo governo, entre 1918 e 1919. Ele também teve um pa - pel de liderança na frenagem da hiperinflação austríaca em 1922, e 6 Vienna Chamber of Commerce. – NE 7 League of Nations’ Reparations Commission. – NE 6 O Livre Mercado e seus Inimigos foi depois uma voz orientadora na reorganização do Banco Nacio - nal austríaco 8 sob um padrão-ouro reestabelecido com a supervisão da Liga das Nações. Ele também defendeu vigorosamente a dimi - nuição drástica dos impostos sobre renda e negócios que estrangu - lavam todas as atividades do setor privado, e ajudou a colocar um fim nos controles cambiais do governo, que estavam arruinando o comércio da Áustria com o restante do mundo. 9 Ao longo da década de 1920 e durante o início da década seguinte, enquanto esteve em sua Áustria natal, Mises foi um de - fensor intransigente dos ideais da liberdade individual, do governo limitado e do livre mercado. Além de seu trabalho na Câmara Vie - nense de Comércio, ele ministrava um seminário, todo semestre, na Universidade de Viena, onde falava sobre os diversos aspectos da teoria e política econômica, o qual não atraía apenas os alunos mais brilhantes da Áustria, mas também participantes do resto da Europa e dos Estados Unidos. Ele também liderava um “seminário particu - lar” que se reunia duas vezes por mês, de outubro a junho, em seu escritório na Câmara, de 1920 a 1934, com a participação regular de muitas das melhores mentes vienenses no tocante à economia, ciência política, história, filosofia e sociologia. Mises também fundou o Instituto Austríaco para a Pesquisa dos Ciclos de Negócios, 10 em 1926. Ele serviu como um vice-presi - 8 Austrian National Bank. – NE 9 Sobre o trabalho de Mises como analista de políticas econômicas e defensor do livre mercado na Áustria, no período entre as duas Guerras Mundiais, veja Ríchard M. Ebeling, “The Economist as the Historiar of Decline: Ludwig von, Mises, and Austria Between the Two World Wars” em Richard M. Ebeling, ed., Globalization: Will Freedom of World Government Dom- inate the International Marketplace? (Hillsdale Mich.: Hillsdale College Press, 2002), pp. 1-68. Muitos dos artigos e trabalhos de Mises sobre as po - líticas feitos durante esse período estão agora disponíveis; veja Richard M. Ebeling, ed., Selected Writings of Ludwig von Mises, Vol. 2: Between the Two World Wars: Monetary Disorder, Interventionism, Socialism and the Great Depression (Indianápolis: LIberty Fund, 2002). 10 Austrian Institute for Business Cycle Research. – NE 7 Introdução dente atuante, sendo o jovem Friedrich A. Hayek indicado como primeiro diretor do Instituto. Sua estatura internacional de defensor do liberalismo clássi - co também continuou a crescer durante esse período, através de uma série de livros que desafiaram a maré crescente do socialismo e do Estado intervencionista-assistencialista. Em 1919, Mises pu - blicou Nation, State and Economy , no qual ele identificou as causas da Primeira Guerra Mundial com as ideias nacionalistas, imperia - listas e socialistas das décadas anteriores. 11 Mas foi por um artigo de 1920 sobre “O Cálculo Econômico sob o Socialismo” 12 e por seu livro de 1922, Socialism: An Economic and Sociological Analysis , que sua reputação como oponente principal do coletivismo no sécu - lo XX foi firmemente estabelecida. 13 Mises demonstrou que, com a nacionalização dos meios de produção e a abolição resultante do di - nheiro, da concorrência de mercado e do sistema de preços, o soci - alismo levaria ao caos econômico e não à prosperidade social. As - sim, além da tirania que o socialismo criaria devido ao domínio do governo sobre todos os aspectos da vida humana, ele era também intrinsecamente insustentável como sistema econômico. A isto seguiu-se, em 1927, sua defesa de todas as facetas da liberdade individual em seu livro sobre o Liberalismo, termo que ele utilizava para se referir ao liberalismo clássico e à economia de 11 Ludwig von Mises, Nation, State and Economy: Contributions to the Pol- itics and History of Our Time (Nova Iorque, New York University Press [1919], 1983). [Obra sem edição em língua portuguesa; a tradução livre de seu título seria Nação, Estado e Economia: Contribuições para a Política e História de Nossa Época – NT] 12 Ludwig von Mises, “Economic Calculation In the Socialist Common- wealth” (1920) reimpresso em Israel, M. Kirzner, ed., Austrian Economics: A Sampling in the History of a Tradition, Vol. 3: The Age of Mises and Ha - yek , pp. 3-35. [Obra disponível em língua portuguesa – NT] 13 Ludwig von Mises, Socialism: An Economic and Sociological Analysis (In - dianápolis, Liberty Classics [1922; eds. Revisadas: 1932, 1951], 1981). Obra sem edição na língua portuguesa; a tradução livre de seu título seria Socia - lismo: Uma Análise Econômica e Sociológica – NT] 8 O Livre Mercado e seus Inimigos mercado. 14 Ele apresentou um caso claro e persuasivo em defesa da liberdade individual, da propriedade privada, do livre mercado e do governo limitado. 15 Finalmente, em 1929, Mises publicou uma co - letânea de artigos que oferecia uma Crítica ao Intervencionismo , na qual ele mostrou que as interferências pontuais do governo sobre preços e produção levava inevitavelmente a distorções e desequilí - brios que ameaçavam o funcionamento eficaz de uma sociedade de livre mercado e competição. 16 Além disso, ele escreveu à mão uma série de redações sobre a filosofia da ciência, a natureza do homem e a ordem social, que apareceram em 1933 sob o título Epistemo- logical Problems of Economics 17 Mises havia compreendido claramente, nessa época, que o Nacional-Socialismo de Hitler levaria a Alemanha ladeira abaixo, a caminho da destruição. Na verdade, pela metade da década de 1920 ele já havia alertado que um número demasiado de alemães esta - vam com a esperança da vinda de um tirano que os governaria e planejaria suas vidas. 18 Quando os nazistas chegaram ao poder na Alemanha, em 1933, Mises entendeu que o futuro de sua Áustria natal estava ameaçado. Como liberal clássico e judeu, Mises tam - 14 A explicação do autor é pertinente para o público americano, já que nos EUA o termo liberal refere-se a pessoas com orientação ideológica de esquerda, totalmente oposta às ideias liberais clássicas. – NT 15 Ludwig von Mises, Liberalism: The Classical Tradition (Irvington-on-Hud - son, N.Y.: Foundation for Economic Education [1927], 1995). [Obra dispo - nível em língua portuguesa – NT] 16 Ludwig von Mises, Critique of Interventionism (Irvington-on-Hudson, N.Y.: Foundation for Economic Education [1929], 1996). [Obra disponível em lín - gua portuguesa. – NT] 17 Ludwig von Mises, Epistemological Problems of Economics (Nova Iorque: New York University Press [1933], 1981). [Obra sem edição em língua por - tuguesa; a tradução livre para o título seria Problemas Epistemológicos da Economia . – NT] 18 Em seu texto de 1926, “Liberalismo Social”, reimpresso em Critique of In - terventionism , p. 67, Mises avisou que durante o período de confusão ideoló - gica e instabilidade política na Alemanha da década de 1920, “Alguns estão se refugiando no misticismo, outros estão colocando suas esperanças na vin - da de um ‘homem forte’ – o tirano que pensará por eles e que cuidará deles”. 9 Introdução bém sabia que uma conquista pelos nazistas provavelmente signifi - caria sua prisão e morte. Assim, em 1934 ele aceitou um cargo de professor de relações econômicas internacionais no Instituto Uni - versitário de Altos Estudos Internacionais, 19 em Genebra, Suíça, um cargo que manteve até sua partida para os Estados Unidos, no verão de 1940. 20 Foi durante aqueles seis anos na Suíça que Mises escreveu seu maior trabalho, cuja edição no idioma alemão foi publicada em Genebra, em 1940, 21 e que depois apareceu em 1949 numa versão revisada no idioma inglês, publicada com o título Ação Humana – Um Tratado de Economia 22 Num volume de quase 900 páginas, Mises resume as ideias e reflexões de uma vida toda sobre as ques - tões do homem, da sociedade e do governo; sobre a natureza e di - nâmica do processo competitivo do mercado e as impossibilidades de um planejamento central socialista e de um estado intervencio - nista; e sobre o papel central e a importância de um sistema mone - tário sólido e sadio para todas as atividades de mercado, e os efei - tos danosos da manipulação de dinheiro e crédito por parte do go - verno. No verão de 1940, conforme o exército alemão ocupava a França, Mises e sua esposa, Margit, deixaram a neutra Suíça e se - guiram pelo sul da França, atravessando a Espanha, indo até Lis - boa, Portugal, de onde embarcaram num navio para os Estados Unidos. Vivendo na cidade de Nova Iorque, ele recebeu apoio fi - 19 Graduate Institute of International Studies. – NE 20 Sobre o Instituto Universitário de Altos Estudos Internacionais (Graduate Institute of International and Development Studies) e seu fundador, William E. Rappard, veja Richard M. Ebeling, “William E. Rappard: An International Man in an Age of Nationalism”, Ideas on Liberty (Jan. 2000), pp. 33-41. 21 Ludwig von Mises, Nationalökonomic: Theorie des Handelns und Wirt- schaftens (Munique: Philosophia Verlag [1940], 1980). [Obra original em alemão. – NT] 22 Ludwig von Mises, Human Action: A Treatise on Economics (Irvington-on- Hudson, N.Y.: Foundation for Economic Education [1949; eds. revisadas, 1963, 1966], 1996). [Obra disponível em língua portuguesa. – NT] 10 O Livre Mercado e seus Inimigos nanceiro da Fundação Rockefeller no início da década de 1940, que lhe permitiu fazer inúmeros estudos sobre a reconstrução econômi - ca e política do pós-guerra, bem como escrever diversos livros. 23 Em 1945, ele foi indicado para uma cadeira de professor visitante na Universidade de Nova Iorque, posição que manteve até sua apo - sentadoria, em 1969, já com 87 anos de idade. Durante seus anos na América, Mises continuou sua carreira prolífica de escritor, pu - blicando Bureaucracy (1944), 24 Omnipotent Government (1944), 25 Planned Chaos (1947), 26 Planning for Freedom (1952), 27 A Menta - lidade Anti-Capitalista (1956), 28 Teoria e História (1957), 29 The Ultimate Foundation of Economic Science (1962) 30 e The Histori - cal Setting of the Austrian School of Economics (1969). 31 Lá tam - 23 Diversos textos de Mises desse período, 1940 a 1944, estão incluídos em Richard M. Ebeling, ed., Selected Writings of Ludwig von Mises , Vol. 3: The Political Economy of International Reform and Reconstruction (Indianápo - lis: Liberty Fund, 2000). 24 Ludwig von Mises, Bureaucracy (New Haven: Yale University Press, 1944). [Obra disponível em língua portuguesa. – NT] 25 Ludwig von Mises, Omnipotent Government: The Rise of the Total State and Total War (New Haven: Yale University Press, 1944). [Obra sem edição em língua portuguesa; a tradução livre para o título seria O Surgimento do Esta - do Totalitário e da Guerra Total . – NT] 26 Ludwig von Mises, Planned Chaos (Irvington-on-Hudson, N.Y.: Foundation for Economics Education, 1947). [Obra disponível em língua portuguesa. – NT] 27 Ludwig von Mises, Planning for Freedom (Grove City, Pa.: Libertarian Press [1952; ed. revisada, 1962, 1980], 1996). [Obra sem edição em língua portuguesa; a tradução livre para o título seria Planejando para a Liberdade – NT] 28 Ludwig von Mises, The Anti-Capitalist Mentality (Princeton: D. Van Nos - trand, 1956). [Obra disponível em língua portuguesa. – NT] 29 Ludwig von Mises, Theory and History: An Interpretation of Social and Economic Evolution (Auburn, Ala.: Ludwig von Mises Institute [1957], 1985). [Obra disponível em língua portuguesa – NT] 30 Ludwig von Mises, The Ultimate Foundation of Economic Science : An Es - say on Method (Irvington-on-Hudson, N.Y.: Foundation for Economics Edu - cation, [1962], 2002). [Obra disponível em língua portuguesa – NT] 31 Ludwig von Mises, “The Historical Setting of the Austrian School of Eco- nomics” [1969], reimpresso em Betina Bien Greaves, ed. Austrian Econom- 11 Introdução bém apareceram, postumamente, suas memórias, Notes and Recol - lections (1978) 32 e Intervencionismo: Uma Análise Econômica (1998), 33 ambos escritos originalmente em 1940. E muitos de seus outros artigos e textos foram juntados em duas antologias. 34 Mises também atraiu ao seu redor uma nova geração de jo - vens americanos dedicados ao ideal da liberdade econômica, e que eram encorajados e ajudados por Mises em suas atividades intelec - tuais. Ele faleceu em 10 de outubro de 1973, com 92 anos de idade. Ludwig von Mises e a FEE O relacionamento entre Ludwig von Mises e a Fundação para a Educação Econômica teve longa duração. O já falecido Leonard E. Read, fundador e primeiro presidente da FEE, conheceu Mises no início da década de 1940. Read contou a história de seu primeiro encontro num texto que escreveu em homenagem ao 90° aniversário de Mises: ics: An Anthology (Irvington-on-Hudson, N.Y.: Foundation for Economics Education, 1996), pp. 53-76. [Obra disponível em língua portuguesa – NT] 32 Ludwig von Mises, Notes and Recollections (South Holland, III.: Libertarian Press [1940], 1978). [Obra sem edição em língua portuguesa; a tradução li - vre para o título seria Notas e Recordações – NT] 33 Ludwig von Mises, Interventionism: An Economic Analysis (Irvington-on- Hudson, N.Y.: Foundation for Economics Education, [1940], 1998). [Obra disponível em língua portuguesa. – NT] 34 Veja Richard M. Ebeling, ed., Money, Method and the Market Process: Es - says by Ludwig von Mises (Norwell, Mass.: Kluwer Academic Press, 1990), and Bettina Bien Greaves, ed., Economic Freedom and Interventionism: An Anthology of Articles and Essays by Ludwig von Mises (Irvington-on-Hud - son, N.Y.: Foundation for Economics Education, 1990). [Ambas as obras sem edição em língua portuguesa; a tradução livre para os títulos seria Di - nheiro, Método e Processo de Mercado: Ensaios de Ludwig von Mises e Li - berdade Econômica e Intervencionismo: Uma Antologia de Artigos e Ensai - os de Ludwig von Mises . – NT] 12 O Livre Mercado e seus Inimigos O Professor Ludwig von Mises chegou à América du - rante o ano de 1940. Nossa amizade começou um ou dois anos depois, quando ele palestrou numa reunião da Câmara de Comércio de Los Angeles, da qual eu fora o gerente geral. Naquela noite, ele jantou em minha casa com dois economistas renomados, o Dr. Benjamin M. Anderson e o Professor Thomas Nixon Carver, e diver - sos empresários, tais como W. C. Mullendore, todos pensadores de primeira classe no tocante à economia política. O que eu não daria por uma gravação daquela discussão memorável! A pergunta final foi feita à meia-noite: “Profes - sor Mises, eu concordo com o senhor que caminhamos para tempos perturbadores. Mas suponhamos que o se - nhor fosse o ditador dos Estados Unidos. O que o se - nhor faria?” Mais rápido que um piscar de olhos, ele respondeu: “Eu abdicaria!”. Aqui vemos o lado renun - ciador da sabedoria, o homem compreendendo que não deve dominar seus semelhantes, e rejeitando até mesmo o pensamento sobre tal possibilidade. Poucos dentre nós são sábios o suficiente para saber o quão pouco nós sabemos. [...] Um indivíduo raro, dessa estirpe, pesa seu conhecimento na balança da verdade infinita, e a consciência de suas limitações o comanda a jamais dominar os outros. Tal pessoa recusa - ria qualquer posição de comando autoritário que lhe ti - vesse sido oferecida e, caso se encontrasse acidental - mente em tal posição, abdicaria da mesma – imediata - mente! [...] O Professor Mises sabe que não pode dominar; assim, ele abdica até mesmo da ideia de domínio. Saber 13 Introdução a quais fases da vida deve-se renunciar é um tipo de sa - bedoria. 35 Desde a fundação da FEE, em 1946, Ludwig von Mises ser - viu como conselheiro sênior, palestrante, escritor e membro da equipe de trabalho em tempo parcial. Foi através da influência de Mises e do economista e jornalista defensor do livre mercado, Henry Hazlitt (um dos curadores originais da FEE), que a Funda - ção teve sempre uma orientação especial, de “Escola Austríaca”, em suas análises econômicas do livre mercado e do coletivismo. 36 Foi também através da ajuda de Leonard Read e de alguns outros amigos de Mises que se angariaram fundos para garantir sua posição de professor na NYU, até sua aposentadoria em 1969. E, após sua saída da NYU, Leonard Read trouxe Mises para a equipe da FEE pelo restante de sua vida. A esposa de Mises, Margit, descreveu seu apreço pela FEE e pelas oportunidades de palestrar na Fundação: Em outubro de 1946, o Lu foi admitido como membro regular da equipe da FEE, e nos anos seguintes ele pro - meteu fazer uma série de palestras em Irvington, todos os anos. A atmosfera espiritual e intelectual de lá era to - talmente de seu apreço. Uma das tarefas comuns da Fundação era arran - jar seminários para professores, jornalistas e estudantes. O Lu adorava discursar naquele lugar. Ela sabia que os participantes eram cuidadosamente examinados no to - 35 Leonard E. Read, “Abdicar ou Não” em F.A. Harper, ed., Toward Liberty: Essays in Honor of Ludwig von Mises on the Occasion of His 90th Birthday, September 29, 1971, Vol. 2 (Menlo Park, Calif.: Institute for Human Studies, 1971), pp. 299-301. 36 Mary Sennholz, Leonard E. Read: Philosopher of Freedom (Irvington-on- Hudson, N.Y.: Foundation for Economics Education, 1993), p. 140. 14 O Livre Mercado e seus Inimigos cante à sua educação e seus interesses, e que esperavam ouvi-lo ansiosamente. Era interessante notar o grande número de mulheres que participavam desses seminá - rios. Antes do início das aulas, Lu fazia as rondas com regularidade. Primeiramente, ele tinha uma breve conversa com Read; depois ele se encontrava com Ed - mund Opitz, por quem tinha um apreço especial; em se - guida visitava W. Marshall Curtiss e Paul Poirot. Paul geralmente tinha que discutir sobre um artigo prestes a ser publicado na The Freeman , a revista mensal da FEE. Finalmente, Lu ia até o escritório de Bettina Bien. Como regra, Bettina tinha uma pilha de livros dele, prontos para que ele os autografasse, ou cartas para se - rem assinadas, as quais eram-lhe datilografadas por conta de seu ofício. Em seu caminho para a sala de pa - lestras – todos esses escritórios, com exceção da sala do Dr. Opitz, ficavam no segundo andar – ele tinha uma palavra amiga para cada um dos funcionários. Suas palestras eram calculadas para uma au - diência especial de Irvington. Ele conseguia avaliar imediatamente seus ouvintes, fazendo uma ou outra pergunta. [...] Embora o conteúdo de suas palestras em Irvington fosse mais leve, seu modo de entregar a men - sagem era o mesmo usado na Universidade de Nova Iorque. O interesse era grande, bem como a demanda pelos livros do Lu, que Leonard Read mantinha sempre em estoque e prontos para a distribuição. 37 37 Margit von Mises, My Years with Ludwig von Mises (Cedar Falls, Iowa: Center for Futures Education [1976] 2ª edição aumentada, 1984), pp. 94.95. 15 Introdução A última palestra pública de Mises foi ministrada na FEE em 26 de março de 1971. Como explicou Margit von Mises: “Ele sempre adorou palestrar em Irvington, e continuou a fazê-lo en - quanto sentiu que podia”. 38 Quando Mises faleceu, Leonard Read ofereceu uma breve elogia em seu funeral, em 16 de outubro de 1973. Ele assim disse em um trecho: O tributo mais célebre que a humanidade pode dar a al - guém que muito honra é chamá-lo de professor. O ho - mem que dissemina uma ideia que ajuda outros homens a entender melhor o universo e a si mesmos coloca a humanidade toda em débito com ele. [...] Ludwig von Mises é verdadeiramente – e eu uso isto no tempo pre - sente – um professor. Mais de duas gerações estudaram com ele, e milhares de pessoas aprenderam com seus li - vros. Livros e alunos são os monumentos perenes de um professor, e esses são monumentos dele. [...] Nós aprendemos mais do que apenas economia com Ludwig von Mises. Pudemos conhecer um homem exemplar em sabedoria, um verdadeiro gigante da erudição, firmeza e dedicação. Certamente, um dos grandes professores de todos os tempos! E, assim, nós todos o saudamos, Ludwig von Mises, em sua partida desta vida mortal para o encontro com os imortais. 39 As Palestras na FEE em 1951 Para os leitores já familiarizados com alguns dos trabalhos de Mises, suas palestras na FEE em 1951 apresentarão um estilo le - 38 Ibid ., pp. 177-178. 39 Leonard Read, Castles in the Air (Irvington-on-Hudson, N.Y.: Foundation for Economic Education, 1975), pp. 150-151. 16 O Livre Mercado e seus Inimigos vemente diferente em sua análise. Este aqui é o Mises professor. A forma de exposição que Bettina Bien Greaves capturou em suas anotações taquigráficas das palestras é mais coloquial e cheia de exemplos e referências históricas. O leitor consegue sentir, ao me - nos um pouco, como era Mises numa sala de aula, face a face, e não somente o teórico no alto do Olimpo. Um dos alunos de Mises, que estudou com ele na Universi - dade de Nova Iorque, disse que “Cada palestra era uma experiência de alargamento da mente”. Outro aluno declarou: “Eu jamais co - nheci um homem tão erudito como o Dr. Mises. Ele era extraordi - nariamente culto em todos os campos do conhecimento. Quando discutia economia, ele trazia exemplos da história para ilustrar os pontos que abordava”. 40 Suas palestras na FEE em 1951 mostram o lado intelectual-professor de Mises. Para os leitores que não possuem familiaridade com os es - critos de Mises, essas palestras oferecem um excelente ponto de partida. De fato, as palestras apresentam, de muitas maneiras, uma versão encapsulada da maioria dos temas aos quais Mises dedicou sua vida, um resumo de muitos dos temas centrais encontrados em Ação Humana. Ele explica a natureza do homem como a de um ator pertinaz, que confere significado às suas ações no contexto dos fins escolhidos e dos meios selecionados para atingir seus objeti - vos. É a intencionalidade do homem que torna as ciências humanas intrinsecamente diferentes das ciências naturais. Isso também per - mite que Mises demonstre por que a teoria do materialismo dialéti - co e do determinismo histórico de Karl Marx é fundamentalmente um mito e uma fantasia. Em vez disso, ele mostra o funcionamento real do processo de mercado através do qual a liberdade econômica fornece os in - centivos e a liberdade pessoal para que os indivíduos possam traba - lhar, economizar e investir. Ele explica como a demanda por bens e 40 Ibid ., p. 132. 17 Introdução serviços, sempre orientada pelo cliente, é o que realmente fornece o estímulo e as oportunidades de lucro para que os empreendedores, de forma criativa, organizem e guiem a produção de modo a servir aos desejos e necessidades do público comprador. Ele também demonstra que o processo de mercado é depen - dente da emergência de um meio de troca – o dinheiro –, através do qual uma miríade de bens e recursos podem ser reduzidos a um de - nominador comum, na forma de preços monetários. O cálculo eco - nômico, na forma de preços de mercado, fornece o método pelo qual os empreendedores conseguem estimar seus lucros potenciais e suas perdas possíveis, considerando linhas e métodos alternativos de produção. Através desse processo, o desperdício e o mau uso de recursos escassos são mantidos num nível mínimo, para que uma quantidade máxima de bens e serviços de alto valor e desejados pe - los consumidores possa ser trazida ao mercado. Isso também leva Mises a explicar por que o planejamento central socialista significa o fim de toda a racionalidade econômica. Com a abolição dos mercados e preços, sob o socialismo, os plane - jadores centrais não têm a menor ideia de como aplicar os recursos, o capital e o trabalho sob seu controle de forma eficaz. Portanto, socialismo significa, na prática, o caos planejado. Ao mesmo tempo, Mises mostra por que as falhas de gerên - cia governamental sobre o sistema monetário e bancário resultam em inflações e depressões. Ao distorcer os sinais de preço do mer - cado – incluindo as taxas de juros as inflações geradas pelos gover - nos causam a má alocação de recursos e trabalho e o investimento errado do capital, levando finalmente a uma depressão. Através destas palestras, o leitor verá por que Ludwig von Mises foi um dos proponentes mais efetivos da liberdade e do livre mercado no século XX. E por que suas contribuições permanecerão como um dos grandes legados para a causa da liberdade por muitas décadas futuras. 18 O Livre Mercado e seus Inimigos 1ª Palestra: A Economia e seus oponentes Entre os grandes livros da humanidade estão os escritos imortais do filósofo grego Platão. A República e As Leis, escritos entre 2300 e 2400 anos atrás, lidam não somente com filosofia, teo - ria do conhecimento e epistemologia, mas também com as condi - ções sociais. O tratamento desses problemas era típico da aborda - gem que problemas filosóficos e sociológicos, e discussões sobre estado e governo, entre outros, continuaram a receber por mais de 2000 anos. Embora essa abordagem nos seja familiar, durante os últi - mos cem anos desenvolveu-se um novo ponto de vista para a filo - sofia social, as ciências, a economia e a praxeologia. Platão disse que um líder é invocado pela “Providencia”, ou por sua própria eminência, para reorganizar e construir o mundo da mesma maneira que um construtor faz com um prédio – sem se importar com os de - sejos de outros homens. A filosofia de Platão era a de que a maioria dos homens são “ferramentas” ou “pedras” a serem usadas na cons - trução de uma nova entidade social por um “super-homem” no con - trole. A cooperação dos “sujeitos” não é importante para o sucesso do plano. A única exigência é que o ditador possua o poder para forçar as pessoas. Platão se coloca na tarefa específica de conse - lheiro do ditador, o especialista, o “engenheiro social” que recons - 19 1ª Palestra: A Economia e seus oponentes trói o mundo de acordo com seu plano. Pode-se ver, nos dias de hoje, uma situação análoga na posição de um professor de faculda - de que vá para Washington. O padrão platônico permaneceu o mesmo por quase 2000 anos. Todos os livros daquela época foram escritos a partir desse ponto de vista. Cada autor estava convencido de que os homens eram meros peões nas mãos dos príncipes, da polícia e assim por diante. Tudo podia ser feito, desde que o governo fosse forte o sufi - ciente. A força era considerada o maior bem de um governo. Pode-se ver um indício do sucesso desse pensamento na lei - tura das aventuras de Télémaque , do Bispo Fénelon [François de Salignac de la Mothe Fénelon, 1651-1715]. O Bispo Fénelon, con - temporâneo de Luís XIV, foi um grande filósofo, crítico do governo e tutor do Duque de Burgoyne, herdeiro do trono francês. Téléma - que , escrito para a educação do jovem duque, foi usado nas escolas da França até pouco tempo atrás. O livro conta histórias de viagens pelo mundo. Em cada país visitado, tudo o que é bom é creditado à polícia; tudo o que tem valor é atribuído ao governo. Isto é conhe - cido como “ciência da polícia” – ou, em alemão, Polizeiwissen- schaft O século XVIII viu uma nova descoberta – a descoberta de uma abordagem diferente para os problemas sociais. A ideia que se desenvolveu era a de que há uma regularidade na sequência de pro - blemas sociais, semelhante à regularidade na sequência de fenôme - nos naturais. Aprendeu-se que decretos legais e suas aplicações não conseguem remover um mal. Deve-se estudar a sequência ou con - catenação comum de fenômenos sociais para que se encontre o que pode ser feito, e o que deve ser feito. Embora a regularidade tenha sido reconhecida no campo das ciências naturais, a existência de ordem e de sequências regulares também no campo dos problemas sociais jamais havia sido reconhecida anteriormente. 20