Era uma vez uma menina chamada Amanda. Amanda tinha doze anos e vivia no Planeta do Chiclete, onde tudo era feito de chiclete: as pessoas eram feitas de chiclete; as casas eram feitas de chiclete, os rios eram feitos de chiclete, os carros eram feitos de chiclete, as comidas eram feitas de chiclete, tudo era feito de chiclete! Amanda tinha mania de pegar carona nos cometas e passear pelo espaço em busca de novas aventuras. Um belo dia, escondida da sua mãe, ela segurou na cauda de um cometa e fugiu em busca do Planeta das Comidas. Ela já tinha ouvido falar que era um planeta maravilhoso, onde tudo era feito de comida. Ela já não agüentava mais comer hambúrguer de chiclete, sopa de chiclete, macarrão, banana, ovo, pudim, maçã, uva, chocolate, tudo feito de chiclete. Amanda queria experimentar novos sabores! Só que, num descuido, ela acabou escorregando e caindo no Planeta Terra, no quintal de um menino chamado Bruninho. Bruninho tinha cinco anos e era feito de gente. Quando Bruninho viu aquela coisa rosa gigante estatelada no seu quintal, correu logo pra ver o que era: — Oh!!! Um chicletão! Vou pegar um pedaço! — E arrancou a mão de Amanda. — Aiiii!!! — Vo-vo-você fala? — Claro que falo! E me devolve a minha mão! — Respondeu raivosa, tomando a sua mão rosa da mão de Bruninho. — Como é seu nome? — Meu nome é Amanda, e o seu? — Meu nome é Bruninho.. Me dá só um pedacinho de você! Amanda então arrancou um pedacinho do seu cabelo e deu a Bruninho, e se limpava e se ajeitava enquanto já foi logo perguntando: — Que planeta é esse? — Aqui é o Planeta Terra! — Então você é feito de terra? — Não! Sou feito de gente. — E porque aqui não se chama Planeta Gente? — Porque aqui tem terra e gente. — Bruninho!!! Bruninho!!! Hora do almoço (A mãe de Bruninho começa a procurar por ele). — Eita, minha mãe tá me chamando! — Você tem que me ajudar, eu estou em busca do planeta da comi... Eitaaaaa!! Um cometa! Vamos lá pegar uma carona! Amanda puxou Bruninho pela mão e não deu tempo nem de ele avisar à sua mãe. Pegou o rabo do cometa e saiu em busca do sonhado Planeta da Comida junto com seu novo amiguinho. No meio do caminho, Bruninho falou: — Eu to com vontade de fazer cocô. — Ai meu Deus, Bruninho, se segura, por favor, senão seu cocô vai cair na cabeça de alguém! Aliás, uma pergunta: Seu cocô é feito de terra ou de gente? — Meu cocô é feito de cocô, e o seu? — Não entendo isso! O meu é feito de chiclete, claro! E os dois amigos riam e se divertiam na sua viagem espacial até que, mais uma vez, Amanda acabou escorregando, sua mão de chiclete não era muito boa de segurar caudas de cometas, mas ela tentava! Rodaram por alguns minutos no céu do espaço sideral e acabaram caindo num planeta desconhecido. Parecia o Planeta Terra, tinha árvores, sorvetes e pássaros, abacaxi, macarrão e mãe, mas era diferente. E, pro seu azar, Amanda caiu em cima de um homem cinza que passava na rua: — Epa!!! — Desculpa, foi sem querer —Disse Amanda — que planeta é esse? — Adivinhe por si mesma. Passar muito bem. — Nossa, cara chato. Vamos. Bruninho, vai que aqui é o Planeta da Comida e a gente não sabe? — E o meu cocô? — Vamos procurar um restaurante. Eu vou pedindo a comida enquanto você vai ao banheiro. — Certo! Amanda e Bruninho caminharam um pouco e logo encontraram um restaurante. Ela estava felicíssima! Iria comer comida feita de comida pela primeira vez! Sentou-se e achou tudo meio estranho. Era um restaurante onde as pessoas sentavam na frente de uma esteira gigante na qual passavam diferentes tipos de comida e as pessoas iam pegando o que queriam. Ela se sentou e não conseguiu sequer esperou Bruninho chegar. Ali, na sua frente, estavam os hambúrgueres mais perfeitos que ela já tinha visto na vida! Totalmente diferente dos hambúrgueres cor-de-rosa do seu planeta! Mas quando Amanda deu sua primeira mordida... Ecaaaa! Era um hambúrguer feito de robô! Ela logo se deu conta! Estava no Planeta dos Robôs, onde tudo era feito de robô: as pessoas eram feitas de robô, os carros eram feitos de robô, os rios eram feitos de robô e até as comidas eram feitas de robô! E que gosto ruim de máquina e óleo sujo que tinham! E ela reclamando do Planeta do Chiclete... Mal Bruninho chegou, ela o pegou pela mão e saiu correndo, pois se deu conta de que não tinha dinheiro-robô pra pagar o sanduíche-robô. Os policiais-robôs imediatamente correram atrás dela e dele! — Parados. Parados – Diziam eles, com voz de robô. — Vamos, corre, Bruninho!! Bruninho nem tinha mordido seu hambúrguer, mas tudo bem, não era bem um hambúrguer. Só que à essa altura ele já estava já morto de fome. E Amanda estava desesperada, porque tinha colocado seu novo amigo naquela enrascada. Quando conseguiram escapar dos policiais, Amanda, ofegante, disse a Bruninho: — Poxa, Bruninho, desculpe ter metido você nessa confusão. — Tudo bem... Eu tô gostando da aventura. Mas é que to com fome, só isso. Então, de repente, Amanda viu um cometa e disse: É nossa chance, vamos pegar esse cometa ir para o Planeta da Comida!!! Amanda e Bruninho seguraram na cauda do cometa e começaram a viagem. Mas quando o cometa entrou num buraco colorido, Amanda tremeu! Era a primeira vez que ela deixava seu universo! Ela apostava que o planeta da comida ficava na galáxia vizinha, pelas coisas que já tinha lido na internet, mas o cometa ia em direção a outra Galáxia de outro Universo! Amanda estava morrendo de medo! Ela já tinha dado muitas voltas de cometa mundo afora e até já tinha visitado outras galáxias distantes, mas nunca havia deixado o seu Universo! Bruninho não estava entendendo nada, mas estava tão animado com a viagem! E aproveitando pra se admirar com os raios coloridos do buraco pelo qual eles estavam passando. Até que o cometa parou bem em cima de um planeta, abaixou até quase o chão e Amanda entendeu que eles deveriam descer. E mais: bastou ela pisar no chão para se dar conta de que estavam no Planeta da Comida! Ali tudo era feito de comida: as pessoas era feitas de maçã, sorvete ou batata frita, o chão era feito de pizza, a grama do chão era feita de manjericão, os rios eram feitos de achocolatado, as nuvens eram feitas de algodão doce, os carros eram feitos de chocolate, as casas eram feitas de biscoito e bolo, as roupas eram feitas de torta, as tortas eram feitas de salmão, o salmão era feito de pastel, o pastel era feito de arroz, o arroz era feito de feijão! Tudo, enfim, era feito de comida! Amanda e Bruninho comiam tudo o que viam pela frente. Era tanta coisa gostosa que tudo o que eles queriam era ter mais espaço na barriga para poderem comer mais!!! Então, enquanto descansavam, Bruninho avistou uma mulher de batata frita: — Amanda... Amanda. — Oi, Bruninho — disse a menina já com muito sono por causa da barriguinha cheia. (Quando a gente come dá sono porque a maior parte do sangue vai pra nossa barriguinha pra gente fazer a digestão, e como Amanda nunca tinha comido comida que não fosse de chiclete, sua barriguinha estava precisando de muito sangue de chiclete pra digerir aquela comida). — Eu queria batata-frita. — Bruninho, não me diga que você ainda está com fome! — Não, mas é que eu adoro batata frita e aqui as batatas-fritas são pessoas, e eu acabei que não comi. — Mas as pessoas do planeta das comidas são de comer também. Mas eu bem sei como é ruim quando tiram um pedaço nosso. Mas batata frita faz mal, Bruninho! Eu aprendi nos livros que eu li sobre o Planeta das Comidas. Peraí, como você adora batata frita, se no seu planeta as comidas são feitas de terra e gente? — Não, lá tem batata frita sim! Tem tudo isso que tem aqui, só que não são coisas. O chão não é feito de pizza, é feito de chão, mas tem pizza lá. E as pessoas são feitas de gente, mas tem batata frita sim, que minha mãe às vezes até me deixa comer! Tem todo tipo de comida E tem robô e tudo. Eu to com sede, Amanda. — Nossa, que estranho! Esse seu planeta é muito doido. Ele se chama Terra, mas as pessoas não são feitas de terra, tem robô e tem comi... Tem comida lá?? Como assim?? Por que você não me falou, Bruninho?? Nós viemos pra esse planeta tão distante atrás de uma coisa que tinha no seu planeta! — Você nem me deixou falar, já foi me levando!! Mas eu tô com sede, Amanda! — Então vamos atrás de matar essa sede. Como você mata sua sede? No meu planeta eu mato a sede adivinha com o quê? Chiclete, claro! Hahaha E no seu? — Eu mato com água. — Água? O que é isso? Tem gosto de quê? Tem cheiro de quê? Qual a cor disso? É líquido, sólido ou gasoso? — Não tem gosto de nada! Nem tem cheiro. Nem tem cor. Mas é uma delícia. É líquida, mas minha mãe disse que quando coloca no frio vira gelo duro e que quando coloca no calor virar ar. — Que coisa mais estranha. E como pode ser uma delícia se não tem gosto? — Ela é gostosa por causa disso! — É cada uma! Mas vamos procurar essa tal água então. Aqui deve ter, aqui é o Planeta da Comida, aqui tem de tudo! — Mas água não é comida. — E é o quê? — É água, ué! — E onde vocês pegam isso? No planeta Água? — Não, no Planeta Terra tem. A água fica no mar, nos rios e nas nuvens. — E tem isso estranho no seu planeta também? Vocês terráqueos têm de tudo! Como pode? Daqui a pouco você vai me dizer que tem chiclete no Planeta Terra! — Tem sim, mas não nasce na natureza, ele é feito pelas pessoas, nas fábricas. — Meu Deus! Eu não acredito! Eu preciso conhecer esse seu Planeta. Vocês devem amar viver lá! Nem precisam sair por aí viajando em busca de outras coisas em outros planetas. Devem cuidar de tudo! — Minha mãe falou que tem muita gente que não gosta da Terra. Que suja o mar e queima as árvores. — Como assim??? Se eu morasse no seu planeta eu ia cuidar muito dele. O Senhor Sorvete, que passava por ali na hora, percebeu que eles estavam perdidos e perguntou: — Olá, criancinhas! Estão precisando de ajuda? Sim!! Muito obrigada! — respondeu Amanda super feliz — Onde nós podemos encontrar água aqui? — Á o quê? — Água. Uma coisa sem cor, sem cheiro e sem sabor que pode ser líquido, sólido e gasoso. — Não sei do que você está falando, me desculpe. — Água, água, pra matar a sede desse menino terráqueo. — Aqui nós matamos a sede com achocolatado. Se quiserem eu tenho em casa. Bruninho interrompeu: — Minha mãe diz que achocolatado tem muito açúcar e que açúcar faz mal. E não mata sede. Mas enquanto eles conversavam, Amanda percebeu que o Senhor Sorvete estava quase puxando o braço dela! Ela se lembrou logo do que sua mãe sempre dizia: Que ela nunca conversasse nem aceitasse nada de estranhos. O Senhor Sorvete queria pegar seu bracinho de chiclete, pois estava cansado de comer comida!!! Queria muito provar algo diferente. E até mesmo uma perninha de terráqueo lhe cairia bem. Amanda puxou Bruninho pela mão e saiu correndo! Mais uma vez uma fuga!! Só que dessa vez no meio de um monte de coisas gostosas. Era difícil ter que correr entre carros de chocolate e casas de biscoito e bicicletas de frutas! Eles correram muito, mas Bruninho já estava passando mal de tanta sede quando, de repente, um carro espacial para bem em frente a eles e dele saem uma mulher cor-de-rosa, feita de chiclete, que era Dona Regina, a mãe de Amanda, e uma mulher feita de gente, cor de pele humana e vestido azul, que era Dona Tereza, a mãe de Bruninho: — Amanda! — Mãe! — Bruninho! — Mainha! Todos ficaram emocionados e se abraçaram. Amanda chorou muito e pediu desculpas à mãe pela trela e perguntou como ela conheceu a mãe de Bruninho e como elas os encontraram naquela galáxia tão distante. A dona Regina contou que, como sabia que sua filha era muito traquina e tinha esse sonho de conhecer o planeta da comida, ela combinou com as estrelas cadentes que lhes dissessem sempre para onde ela estava indo. Assim, como o primeiro lugar que ela havia caído foi no Planeta Terra, ela foi lá atrás da filha. Lá conheceu a dona Tereza, mãe de Bruninho. Contou pra ela os planos da filha e elas foram, juntas, seguindo seus rastros até que os encontraram. Amanda pediu desculpas a dona Tereza por ter levado seu filhinho e ela desculpou, claro, e, como boa terráquea brasileira, já convidou a família Chiclete para conhecer a casa e o planeta deles, comer um feijão com arroz e tomar um bom copo de água. Falando em Água... Mães pensam em tudo! Ela levou a garrafinha de Bruninho porque sabia que o filho deveria estar com sede. Dona Tereza sabia que não devia ter água fácil por aí, afinal, é o que os astronautas mais procuram nas suas viagens espaciais. Bruninho bebeu quase tudo, mas deixou um golinho pra Amanda experimentar. Amanda adorou, claro! — Ahhh! (Fazendo aquele barulho de quem se refresca) Meu Deus, agora eu te entendo, Bruninho! Água é mesmo uma delícia! Na viagem de volta, Tereza e Bruninho falaram muitas coisas sobre o Planeta Terra para Amanda, que ficou encantada. Amanda aprendeu que o Planeta Terra se chama Terra não se sabe por que, porque tem muito mais água do que terra. Apesar de que a terra é muito importante, pois é onde a gente vive e onde nascem as plantas que viram comida para a gente. E fazem o oxigênio que é o ar que dá energia para a gente e os animais. E que tem planta até dentro da água. E água dentro de tudo que é vivo. Inclusive gente. E planta. Aprendeu que existem vários outros seres vivos sobre a terra, além da gente e planta: cachorrinhos, gatinhos, bois, vacas, porquinhos, galinhas, sapos, jaguatiricas, ornitorrincos e orangotangos. E bichos que voam também: passarinhos, morcegos, abelhas e muriçocas. Mas que as galinhas também voavam um pouquinho. Descobriu que as plantas crescem presas na terra e que também tinham vários tipos de plantas diferentes, como os animais, e que cada uma tinha um jeito e um cheiro diferente e que cada uma dava um fruto diferente, mas que todas se formavam a partir da mesma terra. E que muitas tinham flores. E que as flores eram bonitas e cheirosas e deixavam tudo lindo. Descobriu que o mar é um Universo dentro do Planeta Terra e que tem vários seres diferentes vivendo ali: peixe, tubarão, cavalo marinho, Polvo... Descobriu que o polvo parece um extraterrestre, porque tem oito pernas, três corações, nove cérebros muda de cor e cospe tinta. E que os cavalos marinhos machos ficam grávidos. E tantos bichos que ninguém nem sabe explicar direito como é que são! Tem até estrela-do-mar! — Estrela no céu e estrela no mar. Nunca vi nada igual ao Planeta Terra. Amanda descobriu que na Terra tem todo tipo de comida, que alimenta as pessoas. E que dentro de cada pessoa era um Universo também! Cheio de sistemas, de células e de vidas! E descobriu que nem toda comida gostosa é boa, que comida boa mesmo é a que nasce da terra. Isso porque ela aprendeu que os humanos também fabricam comida, embora nunca tenham conseguido criar sequer uma maçã nas fábricas. Que isso só a terra é capaz de fazer. E aprendeu que os humanos fabricam muitas outras coisas, também, como vidro, espelho, tecido, papel e plástico. Mas que o plástico é ruim porque polui a Terra. E descobriu que tem pessoas boas e más na Terra. E que as más pessoas não cuidam da Terra e jogam plástico no chão, que a chuva leva para o mar, matando os seres que ali vivem. E que cortam as árvores. E que sujam muito e não cuidam dos animais. Mas que ainda assim era o Planeta mais lindo e mais rico de todos os Universos. E assim, as famílias ficaram amigas e, sempre que batia em Amanda a saudade do amigo e a vontade de comer uma comidinha gostosa, sua mãe a levava pra casa de Bruninho. Mas Dona Tereza não deixava que eles comessem nem batata frita, nem bebessem achocolatado ou refrigerante. Só de vez em quando. E Amanda já sonhava com a sua próxima aventura espacial escondida, junto do seu novo amigo, pra tentar comer essas guloseimas. Mas logo se lembrou dos cometas fofoqueiros. E do chinelo de chiclete da sua mãe!