O papel dos Munic í pios e as Tecnologias Sociais para a Seguran ç a Alimentar e Nutricional Muitos programas de Seguran ç a Alimentar e Nutricional (SAN) t ê m origem a partir de pesquisas, levantamentos e propostas desenvolvidas em n í vel municipal. N ão seria exagero afirmar que o moderno estudo da Nutrição nasce no Brasil a partir do inqu é rito alimentar realizado por Josu é de Castro na cidade de Recife no in í cio dos anos 1930. Da mesma maneira, foi a partir da sua experi ê ncia pr á tica e dos observados pro blemas de acesso aos alimentos que Josu é de Castro, à frente do SAPS – Serviç o de Alimentação e Previd ê ncia Social desenvolve o conceito de Restaurantes Populares no Rio de Janeiro em 1940, bem como o embrião do atual PAT – Programa de Alimentação do Traba lhador e tamb é m da Alimentação Escolar. Mais adiante, com o esgar ç amento da ditadura militar, hiperinflação e a pobreza dos anos 1980 e 1990 surgem os primeiros programas de transfer ê ncia de renda condicionada em Campinas, São Paulo e Bras í lia. Nessa retr ospectiva, a cidade de Belo Horizonte se destaca com seus inovadores programas de feiras de produtores, cestas de alimentos vendidas em ô nibus itinerantes, restaurantes populares e outros. De fato, os exemplos sã o in ú meros e contribu í ram para que se conso lidasse um extenso conjunto de tecnologias sociais em programas de combate à fome no Brasil tanto no n í vel municipal como federal Vale lembrar que o próprio Projeto Fome Zero reuniu uma coleção de experiências bem sucedidas que ja estavam implantadas nos municípios antes de ser adotado como prioridade nacional em 2002. As tecnologias sociais são compostas por elementos que agregam inovaçõ es t é cnicas, organização dos atores sociais e desenvolvimento institucional. Um programa inovador como o a construção d e 1 milhão de cisternas no semi á rido jamais seria bem sucedido se não pudesse aliar a adaptação de uma tecnologia simples para o represamento de á gua de chuva com o apoio das fam í lias e a excel ê ncia da administração dos recursos e da log í stica de materiai s. Da mesma maneira, foi desenhado o programa de compras da agricultura familiar para a alimentação escolar. Pr ó ximos de atingir as suas metas, esses dois programas v ê m sendo apontados como exemplos e reproduzidos com sucesso em outros pa í ses da Am é rica Latina e na Á frica. Como foi visto no primeiro debate virtual organizado pelo Instituto Fome Zero - que aconteceu no dia 19 de novembro, muito embora os munic í pios tenham recursos limitados para a realização de programas em SAN há um grande conjunto de ações que poderiam ser desenvolvidas. Passam pelo munic í pio recursos federais e estaduais voltados à saúde, educa ção e assist ê ncia social. Al é m disso atuam diretamente nos espa ç os municipais programas tocados por ONGs, entidades religiosas e empresas. E mbora o munic í pio seja o primeiro espa ç o de disputas pol í ticas é também o primeiro passo da cidadania. O cidadão pode não estar preocupado em combater a fome e a desnutrição em n í vel nacional, mas se solidariza com um vizinho e se mobiliza para melhorar as condições de vida de pessoas que fazem parte do seu dia - a - dia. A possibilidade de reunir personalidades que estão pensando nessa realidade é ú nica. Esse debate tem o objetivo de resgatar o papel de vanguarda dos munic í pios, colocando - os no centro de uma retomada das pol í ticas sociais no momento em que vivemos o desmonte de programas consolidados de SAN e com o agravamento da pandemia em nosso pa í s. Instituto Fome Zero S ão Paulo, 7 de dezembro de 2020