A Voz de JORNAL DEFENSOR DOS INTERESSES DA VILA DE PAÇO DE ARCOS E DAS LOCALIDADES CIRCUNDANTES FUNDADO EM 1979 POR ARMANDO GARCIA, JOAQUIM COUTINHO E VÍTOR FARIA Diretor: José Manuel Marreiro | Bimestral | N.º 61, Outubro de 2025 DISTRIBUIÇÃO GRATUÍTA LUÍS LUÍS VIEIRA-BAPTISTA VIEIRA-BAPTISTA ATÉ SEMPRE, MESTRE! ATÉ SEMPRE, MESTRE! 2 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 FICHA TÉCNICA ESTATUTO EDITORIAL 1 – A VPA é um jornal bimestral de informação geral na área da cultura e da língua portuguesa, em particular na defesa dos interesses dos habitantes da vila de Paço de Arcos e das localidades circundantes. 2 – A VPA pretende valorizar todas as formas de criação e os próprios criadores, divulgando as suas obras. 3 – A VPA defende todas as liberdades, em particular as de informação, expressão e criação. Ao mesmo tempo, afirma-se independente de quaisquer forças económicas e políticas, grupos, lóbis, orientações, e pretende contribuir para uma visão humanista do mundo, para a capacidade de diálogo e o espírito crítico dos seus leitores. 4 – A VPA recusa quaisquer formas de elitismo e visa compatibilizar a qualidade com a divulgação, para levar a informação e a cultura ao maior número possível de pessoas. Propriedade: Associação Cultural “A Voz de Paço de Arcos” Sede: Rua Thomaz de Mello nº4 B 2770-167 Paço de Arcos Direção: Presidente - José M. R. Marreiro Tesoureiro - Cândido Vintém Secretário - Nelson Carvalho da Silva Redação: Rua Thomaz de Mello nº4 B 2770- 167 Paço de Arcos E-mail: avozpacoarcos@gmail.com N.I.F.- 513600493 | E.R.C. nº 126726 Depósito Legal: 61244/92 Diretor: José M. R. Marreiro Coord. Edição Online: Renato Batisteli Pinto Coord. Edição Papel: Margarida Almeida Editor: Jorge Chichorro Rodrigues E-mail: jchichorro@avozdepacodearcos.org Sede do Editor: Rua Thomaz de Mello nº4 B 2770-167 Paço de Arcos Revisão: Luís Amorim E-mail: luisamorimeditions@gmail.com Impressão: www.artipol.net Sede do impressor: Rua da Barrosinha, n.º 160 | Barrosinha Apartado 3051 | 3750-742 Segadães, Águeda Portugal Colaboradores: António Alfredo; Carlos Albuquerque; Catulina Guerreiro; Eduardo Barata; Fátima Pissarra; Francisco Capelo; Graciela Candeias; Isabel Barata; Jorge C. Rodrigues; José Costa; José Martins; José Marreiro; Lúcia Saraiva, Luís Álvares; Luís Amorim; Margarida Almeida; Maria de Abreu Morais; Manuel Favita; Paulo Ferreira; Rogério Pereira; Romano Castro e Virgínia Branco Fotografia: José Mendonça, Luís Amorim, Margarida Almeida, Américo Patrício, Ana Amorim, António Passaporte, Carlos Ricardo, Céu Chocolatier, Lina Rock e aguarela de Serrão de Faria Capa: Imagem cedida pela Fundação Marquês de Pombal Paginação: Andreia Pereira Tiragem: 2000 exemplares Online: avozdepacodearcos.org E-mail: info@avozdepacodearcos.org Publicidade: josemarreiro@gmail.com Tel. : 919 071 841 (José Marreiro) Diretor Honorário: José Serrão de Faria Sub diretora Honorária: Maria Aguiar Mestre Luís Vieira-Baptista Imagem cedida pela Fundação Marquês de Pombal 3 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 EDITORIAL E sta nossa edição tem na capa o Mestre Luís Vieira-Baptista, re- centemente falecido. Este nosso ilustre associado, visionário e inovador, dedicou a vida à arte e ao património cultural, e será lembrado entre aqueles que com ele privaram, pela sua enorme generosidade, e pelo rigor e paixão que pôs em cada projeto. Foi o criador do Visionismo, um movimento em que está bem patente a sua capacidade de abrir novos horizontes e de propor novos olhares sobre a arte e a cultura portuguesas. Também há poucos dias, partiu outro nosso amigo e colaborador, o encenador argentino Adolfo Gutkin, nascido em Buenos Aires e radicado no nosso país desde a década de 80, ten- do-se tornado cidadão português, em 1994. Homem do teatro, viveu e traba- lhou em Cuba antes de vir para Portu - gal. Fundou duas companhias de teatro: o Teatro do Mundo e o Maizum , antes de criar o IFICT (Instituto de Formação, Investigação e Criação Teatral), o qual formou centenas de atores, produtores e técnicos. Foi entrevistado por Maria Aguiar para o nº 14 (Dezembro de 2017) do jornal “A Voz de Paço de Arcos”, fa - zendo a capa com um retrato feito por Serrão de Faria. Assinale-se também, o falecimento do juiz-conselheiro Fran- cisco José Chichorro Rodrigues que, de 1974 a 1979, nos anos quentes a seguir ao 25 de abril, de forma exemplar, sem se deixar intimidar pelo momento vivido, e antes encarando-o com notável cora- gem e serenidade, foi juiz na comarca de Oeiras. Registe-se o número elevado de fo- tos recebidas para o Concurso de Fo- tografia, 135, tendo decorrido a entrega de prémios no Centro Cultural José de Castro, no dia 25 de outubro. Está a decorrer, no Mercado de Paço de Arcos, uma mostra de artes, que se prolongará até 15 de novembro, com encerramento no domingo e segunda - -feira. Nesta mostra, organizada pela Associação Cultural “A Voz de Paço de Arcos”, haverá a exposição de fotogra - fias antigas de Paço de Arcos, tratadas em computador por Vitor Martinez. Marcarão também presença, a pintura, a escultura, o azulejo, o mosaico e a ce - râmica de artistas do concelho. Estarão expostos, e para venda, livros novos de autores locais, com preços por eles defi- nidos; igualmente livros usados estarão em exposição e serão vendidos a preços simbólicos e/ou gratuitos. Os visitantes desta mostra de artes poderão desfrutar de momentos musicais e de poesia. Finalmente, assinale-se a homena- gem anual que a Associação Cultural faz a José de Castro, que desta vez se realizará no dia 16 de novembro, a partir das 16 horas. Será feita uma romagem ao monumento em sua homenagem, no Largo 5 de Outubro, em Paço de Arcos. Às 17 horas, será representada uma peça de teatro no Centro Cultural que tem o seu nome. Jorge Chichorro Rodrigues 4 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 O Mestre Luís Vieira-Baptista, curador e amigo de longa data da Fundação Marquês de Pombal, faleceu no passado dia 4 de outubro de 2025. Visionário e inovador, dedicou a sua vida à arte e ao património cultural, mar - cando todos quantos com ele privaram, pela generosidade, rigor e paixão que colocou em cada projeto. Reconhecido como o criador do Visionismo Portu- guês , Luís Vieira-Batista apresentou pela primeira vez esta corrente estética, em 1991, no Convento do Beato, em Lisboa. Essa nova corrente artística espelhou a sua capacidade de romper fronteiras e propor novos olhares sobre a arte e a cul - tura portuguesa e consolidou o seu nome no panorama das artes visuais contem - porâneas, levando-o a realizar diversas exposições ao longo dos anos, tanto em território nacional como internacional. Nesta homenagem, recordamos com gratidão, o percurso partilhado, a ami - zade leal e a dedicação que sempre de- monstrou, deixando uma marca indelé - vel que permanece viva nas obras que deixou, quer no Salão Nobre Luís Viei- ra-Baptista, da Fundação Marquês de Pombal, no Palácio dos Aciprestes, em Linda-a-Velha, quer nas diversas obras espalhadas por Oeiras, das quais salien- tamos “À Porta do Mar-Nave Visionista”, situada junto à praia de Santo Amaro. Obrigado, Luís Vieira-Baptista por muito ter honrado a cultura com visão e humanidade. Arqtº. A. Romano Castro Mestre Luís Vieira-Baptista HOMENAGEM 5 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 T ive o grato prazer de o co - nhecer em 1982, por razões profissionais, e por, a certa altura, passarmos a ser vizinhos em Caxias. Mantivemo-nos em contato, sempre muito agradável e útil para mim, até muito recen - temente, enquanto a sua saúde o permitiu. No próximo número do nosso jornal voltaremos a falar dele. Prestamos o nosso testemunho de apreço e respeito à sua memó - ria, e os nossos sentidos pêsames à sua bonita e grande família. José Marreiro Aguarela de Serrão de Faria Morreu Adolfo Gutkin, grande mestre de teatro que muito influenciou o teatro português. 6 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 CAMINHOS N o dia 29.10.25, comparecemos na Li- vraria-Galeria Verney, para assistir- mos a uma tertúlia promovida pela Dra. Fátima Pissarra, tendo como tema, a solidão, uma das grandes causas do empo - brecimento da qualidade de vida na última idade. Foi oradora, a Dra. Rosa Araújo, diretora nacional da Associação “Coração Ama - relo”, que com a sua grande experiência, conhecimento, dedicação e entusiasmo, transmitiu à vasta e interessada assistência, os aspetos mais importantes da problemá - tica do envelhecimento humano, como é dado conta noutro local deste jornal. A Livraria-Galeria Verney, integrada na rede municipal de bibliotecas, apresenta um vasto e diversificado programa de ter- túlias, conferências, lançamentos de livros e exposições que atraem grande frequên- cia, para além da sala de leitura, com livros, revistas e jornais, disponíveis aos lei - tores. Contornamos o edifício e atraves - samos o parque de estacionamento, recentemente re - novado e batiza - do com o mesmo nome da livraria adjacente, Parque Verney. Este parque, que agora é explora- do pela Empresa Parques Tejo, antes era-o pela Misericórdia de Oeiras, que tem a sua sede na linda moradia que está ao cimo. Contornando, temos novos prédios de habitação e comércio, onde está a loja da EDP, escritórios e várias lojas encerradas e em venda. Livraria Verney - Do início ao fim 7 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 Continuamos, descendo a Rua da Costa, que nos leva ao núcleo mais antigo de Oei- ras, com algumas casas recuperadas, vide as da CMO, do plano de habitação para jovens, e outras, muitas outras diria, aban - donadas a aguardar a necessária e urgente recuperação para que possam ser postas no mercado e minimizar o grave problema de habitação que atinge muitas famílias que aqui trabalham e, por isso, querem aqui vi- ver e não há como. A meio da Rua da Costa, vislumbra-se ao fundo o edifício do Palácio do Marquês de Pombal, agora ainda mais bonito após obras de recuperação. Prossegui - mos pela an - tiga Rua das Alcássimas, que também tem vários edifícios re - centemente recuperados, outros em boas condições, como naquele em que vivia o Maestro César Batalha, e onde vive a sua viúva, D. Ema Batalha, a par de outros que estão em ruínas. Em frente, avistamos a fachada do pré - dio municipal de habitação jovem e a loja de vinhos, onde o Vinho Carcavelos é rei e senhor. Quando lhe for possível, faça uma vi - sita e prove este produto da antiga e afamada região vinícola. Continuamos, em direção à CMO, pela Rua Cândido dos Reis, passando pela an- tiga loja de f e r r a g e n s , por edifícios recuperados, mas também aqui vários, há muito 8 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 tempo, aban - donados, e outros, no caso de lojas, vagas, a aguardar no - vos projetos. Passamos pelo belo e antigo edifício mu - nicipal que alberga a Biblioteca Operária Oeirense, instituição de grande importân- cia no panorama cultural da vila, que pro- porciona aulas e sessões culturais de várias áreas, que vão desde a música e do canto à pintura. Logo a seguir, um pequeno espaço de res- tauração muito agradável com a sua espla - nada florida. Segue-se o Largo do Avião Lusitânia, onde temos o busto do Maestro César Batalha, o bonito jardim do Pelou - rinho, o arco do “sobe e desce”, a Estrada de Oeiras, avistando-se ao fundo, a Quinta de Cima e os edifícios do Instituto Agrá - rio, que substituiu a antiga Estação Agronómica, e também, o edifício cama - rário, primeiro “Paços do Concelho”, onde presentemente funciona o Gabinete de Co- municação. Subimos a Rua 7 de Junho, onde de novo nos deparamos com prédios em ruínas, pe - gados com prédios da CMO, situações que se mantêm há décadas que, certamente, por não existirem instrumentos legais que obriguem os proprietários a recuperá-los, ou a vendê-los a quem os recupere. No meio desta rua, temos o restaurante Spica, com uma agradável esplanada, e o muito conhecido e apreciado, Pombalino, antigo restaurante de comida portuguesa, que há décadas mantém um serviço de qualidade. Atravessamos a Rua Marquês de Pombal e subimos a bonita e afetuosa Rua Febus Moniz, decorada com balões e que apre- senta todos os seus edifícios recuperados. Num deles vai abrir, brevemente, um res- taurante ao lado do Café-Esplanada “Os Netos”, que faz parte dos locais obrigató- rios de passagem da maioria dos Oeirenses. Subimos em direção à Livraria-Gale- ria Verney, para terminar estes Caminhos onde os havíamos começado. Texto: José Marreiro Fotografia: José Mendonça CAMINHOS 9 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 ENTREVISTA - AMÉRICO MANUEL CATARINO PATRÍCIO C hama-se Américo Manuel Cata- rino Patrício (adiante AP), nasceu em 1953 no Farol do Cabo da Roca, uma infância marcada por um gigante imprevisível: o Oceano Atlântico, ondas com três metros de altura, toneladas de água a rebentar contra as arribas escar- padas, desenhando um mar de espanto e maravilhamento... Terão sido estes os primeiros sons que embalaram os seus sonhos de menino, o “ faroleirozinho ” que nunca o seria e que guarda fundo o amor ao mar, aos faróis e a toda a sua envolvência. Naquele cenário agreste viveria os primeiros anos da sua vida. Faróis e faroleiros atraem-nos com a sua aura de mistério, são a luz que nunca se apaga. Quando a tragédia se anuncia e os sinais sonoros de perigo atravessam a noite, emitem mensagens de esperança e de resistência: não desistam, lutem, nós estamos aqui a guiá-los, a zelar pelas vos- sas vidas! Américo Patrício nasceu numa “casi- nha” construída em 1722, por ordem do “oeirense” Marquês de Pombal. A bele- za selvagem, a localização geográfica no ponto mais ocidental da Europa conti- nental, a imponência do farol branco e vermelho, fazem do Cabo da Roca um dos ex-libris de Sintra. Luís Vaz de Camões imortalizou o local com as palavras hoje gravadas num monumento local: “(...) onde a terra se acaba e o mar começa” (“Os Lusíadas”, Canto III ). Trezentos anos depois, o farol continua a orientar a navegação marítima, a salvar vidas. No Cabo da Roca, conta o nosso en- trevistado, viviam nove famílias, muitas crianças: meninas e mais meninas! Um ÚNICO menino: ele! Criança curiosa, com sede de saber, era muito acarinhado pela comunidade “faroleira”: andava de casa em casa, muito solicitado por todos. A Mãe acusava o “toque”: o seu menini- nho sempre a girar de um lado para o ou- tro e ela, a querê-lo, como todas as Mães, mais tempo junto de si... Há uma “irmandade”, laços fortes que unem para a vida estes homens e as suas CENTRO NÁUTICO DE PAÇO DE ARCOS: UM NOVO AMANHÃ Farol do Cabo da Roca - foto de Américo Patricio Luz Acendo o lume e penso: alguém, na noite, acende um farol para que eu não me perca. E essa pequena chama é toda a ternura que o mundo tem Eugénio de Andrade 10 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 famílias! En- contram-se para almoçar, mantêm viva a cumplicida- de e o afecto dos tempos difíceis que partilharam! A profissão de faroleiro era dura, mui- to exigente. O farol funcionava dia e noite, os faroleiros faziam todo o trabalho manualmente, 24 sobre 24 horas a vigiar o estado do mar, a navegação, a antecipar o perigo à esprei- ta! AP – O Farol trabalhava com quatro faro- leiros, quatro dias em terra, quatro no mar; um faroleiro fazia o turno do dia, o outro o da noite, os outros dois garantiam a ma - nutenção dos geradores de energia: havia sempre um gerador suplente para o caso de uma avaria inesperada. Destes homens e deste equipamento dependiam vidas hu- manas! AVPA – O Mar faz parte do seu ADN e do da sua família... AP – Tive a sorte de nascer num farol, o que me proporcionou uma infância muito rica; o mar é um dos fios condutores da minha vida, embora tenha percorrido caminhos diversos dos do meu Pai. Guardo memórias felizes da Direção-Ge- ral de Faróis que dependia do Ministério da Marinha: nítida, vive em mim a magia das festas de Natal para os faroleiros e fa- mílias! A criançada delirava! Tínhamos um conjunto musical formado por faroleiros, o Maestro era o Sr. Neto. A vocalista era a Rosário Miranda. Sabe que a encontrei há dias? Está bem, ficou an- siosa para ler a entrevista. O convívio anual fortalecia os laços que nos uniam. Frequen- to este espaço onde nos encontramos agora - o Grupo Náutico - desde os seis anos de idade! AVPA – E o Maestro, o Sr. Neto? Que é fei- to dele? AP – Já morreu, mas tem um neto farolei- ro, actualmente Chefe de Faróis. Trabalha aqui ao lado, na Direcção-Geral de Faróis... ESCRITO NAS ESTRELAS É hoje Director do Centro Náutico do Clube Desportivo de Paço de Arcos, car- go que também ocupou em 2008. Foi di- rector das modalidades de pista e campo (Hóquei em Patins), Vice-Presidente e membro do Conselho Geral, da Comissão de Segurança da Regata Patrão Lopes, em cuja organização continua envolvido. Tem as habilitações de Patrão de Costa e de Advanced Open Water Diver ( PADI – Pro- fessional Association of Diving Instructors ). Fez o curso de mergulho no Centro Por- tuguês de Actividades Subaquáticas (CPAS), presidido pela Dra. Margarida Farrajota, uma referência nacional e in- ternacional “(...) na história do mergulho em Portugal (...)” . Entrevista publicada no nº 58 do Jornal “A Voz de Paço de Arcos”. PRIORIDADES E PERSPECTIVAS FUTURAS AP – Tenho como objectivo primeiro reactivar a Escola de Vela do Centro Náuti- co. Enquanto não se concretizar, os nossos atletas da modalidade, 37 dos quais federa- Américo Patrício - foto de Margarida Maria Almeida ENTREVISTA - AMÉRICO MANUEL CATARINO PATRÍCIO 11 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 Regata Patrão Lopes/2025 - foto de Américo Patrício dos, continuam a treinar na Marina de Oei - ras, por questões de falta de segurança nas actuais instalações do Centro Náutico. AVPA – É o homem certo no lugar certo: o que o levou a assumir este compromis- so em tempo de reforma, supostamente uma fase da vida em que podemos usu- fruir de dias mais tranquilos? É público que a situação do Centro é difícil, a Esco- la de Vela não funciona, a degradação das instalações, a rampa inoperável, as difi - culdades financeiras... estava consciente que o caminho seria difícil... Como acon- teceu esta aventura tão “aventurosa”? AP – Hesitei aceitar o desafio. A minha fi- lha mais nova, a Raquel, pratica surf e tem uma forte ligação com o mar. Quando lhe expus as minhas dúvidas, incentivou-me a aceitar, a ir em frente! Foi pragmática, as- sertiva: Pai, tens de aceitar! Não vais virar as costas. Vais recuperar o Centro Náutico! Tu és capaz, tenho a certeza! Foi tão convincente que... aqui estou eu! A situação é complexa, não é tarefa fácil, não há milagres, mas tenho esperança: é difícil, mas não é impossível! Gostaria que tudo fosse mais rápido. AVPA – Grande Raquel! As mulheres são muito convincentes, é um mecanismo de defesa para enfrentarem um mundo que lhes é mais hostil que para os homens. Quantos filhos tem? Também têm o mar no ADN, imagino ... AP – Duas filhas, a mais nova, muito liga- da ao mar, faz Surf, a outra também tem essa ligação, mas está mais distante – em Singapura. A minha mulher era uma apai - xonada pelo mar, tal como com as minhas duas netas o são. Estou rodeado por quatro mulheres... Temos uma pequena embarcação de seis metros, “O Cabo da Roca”, damos umas voltas por aí... As duas estudaram e trabalharam em Espa - nha e, no aeroporto, pediam logo para irem ver o mar! A mais nova, a Raquel, quando está stressada vai surfar umas ondas... AVPA – Para além dos problemas já men- cionados, quer referir outras questões prementes a resolver? Como pensa pôr de pé a Escola de Vela? 12 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 AP – O problema central é sempre o mesmo; a rampa, questão que tem reper- cussões negativas noutras áreas. Está em processo de execução a sua resolução, a Câmara Municipal de Oeiras está a fazer os preparativos para a tão desejada reconstru - ção. Este é o nosso projecto mais urgente; sem rampa, não conseguimos ter embarca - ções na água nem receber as que querem entrar, porque ela funciona como backup em relação à grua. Se houver embarcações que não possamos meter na água com a grua, recorremos à rampa. Brevemente, a situação mudará com a rampa funcional. Depois disso, partiremos de imediato para relançar a nossa Escola de Vela. Temos de ter todas as condições de segurança. Se - gurança é uma questão sine qua non para o funcionamento da Escola de Vela que tanto ambicionamos! AVPA – Apesar da dimensão dos obstácu- los e dos problemas, da responsabilidade que assumiu, nunca se arrependeu? Um empreendimento desta magnitude ocu- pa-lhe muito tempo, mas será também estimulante cumprir uma missão ligada ao “seu” rio, ao “seu” mar... AP – Sim, sem dúvida. Recebi o apoio dos utentes, dos pescadores, também é muito positivo. Vamos trabalhar com empenho, responsabilidade, estabelecer acordos, parcerias. Estar em sintonia com a Câmara Municipal de Oeiras é essencial. AVPA – É uma obra importante para a valorização da área ribeirinha. O nos- so concelho promove muito o desporto e merece um Grupo Náutico renovado, vivo e vivido. Qual a marca pessoal que gostaria de deixar? AP – A Escola de Vela a funcionar. Quere - mos ter aqui os nossos jovens! Este é um plano do qual não me desvio um milíme- tro! Gosto muito de Vela, especialmente de ver crianças nos Optimist! AVPA – O Centro integra o glorioso Clu- be Desportivo de Paço de Arcos (CDPA). Têm autonomia? AP – Estamos integrados no CDPA, muito focados, mas, naturalmente, há diferentes prioridades. AVPA – O Hóquei é a “menina bonita”, do CDPA. Os êxitos das velhas glórias atra- vessam os tempos (Jesus Correia, Emídio Pinto, Correia dos Santos...). Em segundo lugar, vem a Patinagem Artística e, em terceiro lugar, as modalidades náuticas, em especial a Vela nas suas diversas clas- ses. O Tejo, a sua extensão são um convite ao desporto náutico, facto que potencia a relevância do Centro e justifica o investi - mento que venha a ser feito. AP – O Centro tem diversas valências: a Escola de Vela, a de “parque de estacio- namento” de barcos dos utentes – temos 200/300 barcos de sócios e utentes que pa- gam uma mensalidade e temos capacidade para receber mais barcos até 6 metros de comprimento, quando a “famosa” rampa estiver em condições. Aos fins-de-semana, ENTREVISTA - AMÉRICO MANUEL CATARINO PATRÍCIO Regata Patrão Lopes/2025 - foto de Américo Patrício 13 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 os pescadores amadores saem para o mar, damos algum apoio aos profissionais da pesca, temos utentes de recreio e, claro, o desporto. Temos acordos com escolas, fazem aqui ac- tividades extra como, por exemplo, Canoa - gem... AVPA – A quem pertence este espaço? AP – Pertence a três entidades distintas, a muralha é propriedade da Marinha, o ter - reno pertence à Administração do Porto de Lisboa, o edifício em que funcionamos foi construído pela Câmara Municipal e foi- -nos oferecido: nossas, apenas as paredes... AVPA – “A sorte protege os audazes”, ex- pressão atribuída a Virgílio na “Eneida”, aplica-se-lhe lindamente! Um empreen- dimento desta envergadura é para pes- soas audazes, a sorte vai protegê-lo... Há investidores nacionais e internacio- nais interessados neste paraíso? AP – Neste momento, não temos as condi- ções mínimas para esse efeito, o problema passa por aí, mas sim, irá acontecer mais tarde. HINO AOS FARÓIS DO MEU PAÍS AVPA – Neste local onde decorre a nossa entrevista, avista-se o “seu” Farol do Bu- gio, lá ao fundo, à entrada da barra do Tejo. Diz-lhe muito, suponho: o seu Pai foi ali faroleiro, passava lá as suas férias grandes, nadar como um peixe todos os dias, brincadeiras mil, tanto mar, tanto mar... Foram tempos felizes? AP – Levava os meus amigos para lá, as brincadeiras eram sempre na água, o mar era um imenso parque de diversões, arran- jávamos óculos para ver o fundo do mar, as rochas, os peixes, éramos felizes! AVPA – Mergulhavam em apneia? AP – Sim, mais tarde fui convidado para fa - zer o curso de mergulho do Centro Portu - guês de Actividades Subaquáticas. Estava a decorrer um curso para biólogas marinhas, penso que foi por volta de 1988... AVPA – O seu Pai foi transferido do Farol do Cabo da Roca para o Farol de Santa Marta, em Cascais, facto que mudaria a sua vida, abrindo-lhe novos caminhos. O velho Farol é hoje o moderno Museu de Santa Marta. O historiador Joaquim A LIBERDADE DE LER “A VOZ DE PAÇO DE ARCOS” NO FORMATO DIGITAL Digitalize o código ou aceda a avozdepacodearcos.org LEIA - ASSINE - COMPARTILHE Farol do Bugio - foto de Américo Patrício 14 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 Boiça, oeirense, filho de faroleiro, foi o historiador responsável pelo programa museológico e de musealização do espa- ço, um trabalho de excelência que conta a fascinante história dos faróis, a sua evo- lução tecnológica, a vida dos faroleiros ao longo de cinco séculos. Um alerta para a importância da preservação de um patri- mónio cultural riquíssimo. As duas famílias – Boiça e Patrício – esti- veram juntas nos Faróis de Santa Marta e de São Julião da Barra. Hoje, com as novas tecnologias e a automatização, o trabalho está facilitado? AP – Sim, sem dúvida. Contudo, os faro - leiros têm muito trabalho, têm que ter co- nhecimento da vertente técnica, monitori - zam outros faróis à distância, noite e dia. A presença humana é valiosa, é ela que vigia a tecnologia ! AVPA – Voltemos à transferência da famí- lia Patrício para o Farol de Santa Marta, como aconteceu? AP – Na Azoia, aldeia próxima do Cabo da Roca, não havia transportes, os recursos fi- nanceiros eram escassos, estudar era uma miragem. A minha família foi transferida para o Farol de Santa Marta, em Cascais, para que o “rapaz” pudesse ir estudar. As- sim foi: fiz a admissão ao liceu, à escola téc- nica, todo um mundo novo à minha espe - ra... Matriculei-me nos Salesianos, a mensali- dade era suportada pelos serviços sociais da Marinha; quem tivesse mais de três ne- gativas por mês tinha de pagar a mensali- dade; como o dinheiro era poucochinho, todos nos esforçávamos ao máximo para não sobrecarregarmos os nossos Pais. AVPA – Não seguiu a carreira do seu Pai, foi trabalhar para as OGMA - Oficinas Gerais de Material Aeronáutico - onde foi responsável pelas instalações para as ligações com a Boeing . Quer explicar ? AP – Frequentava a Escola Fonseca Benevi- des, em Alcântara. Nos intervalos, íamos às docas ver os barcos e, obviamente, as me - ninas inglesas que chegavam. Assistíamos aos embarques dos soldados que partiam para a guerra colonial, uma tragédia! Mais tarde, a rendição daqueles militares passou a ser feita de avião, Salazar requisitou dois Boeings à TAP. É aí que eu entro, no con- texto das comunicações com estes aviões. Era necessário montar instalações técnicas para dar assistência às comunicações e eu era um dos responsáveis. Neste contexto, estive em Timor, fiquei apaixonado por aquela terra, por aquela gente humilde e sofrida. Foi uma expe- riência impressionante. Ninguém imagina, quando vemos a guerra à distância, quanto sofrimento, quanta desumanidade, quanta dor, quanta morte... sempre os interesses comerciais como detonadores da matança e da rapina, Timor-Leste é rico em petró- leo... Miséria extrema, muita fome, quando lhes dávamos o pão que trazíamos da cantina, lembravam bandos de pombos em luta ENTREVISTA - AMÉRICO MANUEL CATARINO PATRÍCIO Mergulhando na Indonésia - foto Arquivo de Família 15 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 por umas migalhas. Anos depois, voltei à Indonésia, estivemos numa ilha que me fez recordar Timor, encontrei a mesma humil - dade, a mesma doçura nas pessoas locais... ERA UMA VEZ UMA NAVALHINHA VERMELHA AVPA – Quer contar-nos a história da na- valhinha vermelha? AP – Fui sempre atraído por máquinas. A navalhinha vermelha é uma relíquia! Era miúdo, quatro, cinco anitos, estava no Cabo da Roca. Um dia, um técnico foi reparar o rádio do farol. Juntei-me a ele, queria aju- dá-lo, ia buscar as ferramentas de que ele precisava, sempre muito curioso. Ele ti - nha uma navalhinha para “descascar” fios eléctricos! Quando terminou a reparação, fechou a navalhinha e ofereceu-ma; fiquei encantado, era vermelha e tinha o emble - ma do Benfica, guardo-a até hoje e, naque- le dia, passei a ser “militante” do clube da Luz! Este episódio foi decisivo na minha vida, teve influência na escolha da minha carreira profissional, como técnico de rá- dio. AVPA – O nível da poluição marinha é elevado. A costa portuguesa tem 2500 km de extensão e, lamentavelmente, não te- mos um Ministério do Mar. Os oceanos enfrentam grandes desafios, a biodiversi - dade, vital para a vida na terra, está amea- çada Falemos do Tejo, da pesca ilegal pratica- da pelas embarcações de recreio e por “pescadores” sem l icença de pesca , do in- cumprimento do período de defeso que, de forma incompreensível, vigora apenas até à barra do rio, da pesca de arrasto que varre o fundo marinho, destruindo os ha- bitats essenciais para muitas espécies que ali desovam e que vão desaparecendo ou rareando. As aves marinhas da nossa costa são as mais ameaçadas da Europa, algumas em risco de extinção (pardela-balear, maçari- co-real, papagaio-do-mar, gaivota-tridác- tila, cagarra...). Mergulham em busca de alimento e ficam presas nas redes de ar - rasto onde morrem afogadas Os cruzei- ros que atravessam o Tejo são poderosos instrumentos de poluição, etc , etc, etc... Acredita que ainda há tempo e vontade para reverter a catástrofe anunciada? AP – Sou optimista. Os jovens estão mais informados, preocupam-se mais, dispõem de mais informação e formação. Vai de - morar tempo, mas as coisas vão melhorar. Está em curso um projecto e instrumentos de planeamento para proteger a área cos - teira do Cabo Espichel (e da zona do mar adjacente) que prevê a protecção e preser- vação dos fundos marinhos e das espécies residentes. AVPA – Continua a fazer mergulho? Faz pesca? AP – Não gosto de pescar. Um dia, saí com as minhas filhas no nosso barco, elas devol- viam ao mar o peixe que eu apanhava e eu As irmãs mergulhando no Funchal - foto de Américo Patrício 16 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 percebi que estavam certas. Já não faço mergulho, te- nho 71 anos! Perdi um com - panheiro que mergulhou com o Cousteau, nos Aço - res. Chamava-se Lacerda, um homem experiente e, por entusiasmo ou por falta de condições na embarca - ção, morreu na sequência de um mergulho. Impus - -me um limite de idade, parei. Os meus melhores mergulhos aconteceram nos Açores e em Cabo Verde. No México, integrei uma “excursão suba- quática”, demasiado comercial para o meu gosto. Imagine, a 17 metros de profundida - de, colocaram a imagem de uma Nossa Se- nhora de-não-sei-quê que os mergulhado- res-turistas eram levados a visitar. Surreal... Também foi muito bom o último mergu - lho com as minhas filhas, no Funchal e em Cabo Verde. As duas têm carta de ma- rinheiro e de patrão local, mas sentem-se mais seguras com o Pai por perto. AVPA – E as orcas? Como explicar os seus ataques? Vamos começar a massacrá-las até à extinção? Há soluções pacíficas? AP – Tenho falado com muita gente sobre o problema: elas deslocam-se em direcção ao Sul para ter as crias. Atacam os lemes porque os confundem com atuns. Quando o leme parte, a água entra e afunda a em - barcação. A solução humanizada é cons - truir um tampão que impeça a entrada de água quando o leme se parte! AVPA – Dirigiu e organizou, com apoio de dois amigos, a recente regata Patrão Lopes. Pensa que as novas gerações co- nhecem a história de gene- rosidade deste homem? AP – Receio que as crianças não apreendam o sentido humanista da vida deste he - rói. Nasceu em Olhão, veio trabalhar para o Serviço de Socorros a Náufragos. Na épo- ca, os salvamentos eram feitos em barcos a remo, ele salvou largas dezenas de náufragos, com risco da própria vida. Este exemplo de amor ao ou - tro não pode ser esquecido. Este ano, participaram 34 embarcações à vela, catamarans , optimists . A regata reali - za-se sempre no último dia das Festas de Paço de Arcos em Honra do Senhor Jesus dos Navegantes, paralelamente com a pro- cissão marítima, com a bênção dos barcos e do mar: a imagem do Senhor Jesus dos Na- vegantes é transportada em embarcações, a “Procissão do Mar” termina na Praia dos Pescadores. Para o ano, gostaria de arranjar um barco grande, até pode ser um cacilheiro, para as pessoas seguirem a procissão no rio. AVPA – Vamos ganhar um renovado e moderno Centro Náutico que atrairá muita gente, praticantes de modalida- des náuticas, desportivas, de pesca ou de puro lazer. Boas notícias para quem ama e respeita o mar. Em nome do Jornal “A Voz de Paço de Ar- cos”, desejamos-lhe o maior sucesso pes- soal e para o “seu” Centro Náutico. Muito obrigada pela total disponibilidade em nos receber. Margarida Maria Almeida (escreve de acordo com a antiga ortografia) ENTREVISTA - AMÉRICO MANUEL CATARINO PATRÍCIO Em Timor-Leste com dois indí- genas - foto Arquivo de família 17 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 HOMENAGEM C om os animais deveríamos aprender a gratidão. Com os animais deveríamos apren - der que não se morde a mão a quem nos dá de comer. Com os animais deveríamos aprender que a liber- dade faz parte do ser, como o sol faz parte do céu ou a água jorra da fonte. Com os animais deveríamos apren - der que só se tem o direito de matar para sobreviver fisicamente ou em legí- tima defesa. Com os animais devería - mos aprender que a entreajuda deve ser tão natural como o brilho do sol ou os pingos da chuva. Com os animais de - veríamos aprender que os momentos são para ser vividos em plenitude, no fundo dos mares, na altura dos céus, ou na solidez da terra. Com os animais deveríamos aprender que o tempo deve ser vivido sem que ele nos escravize ou cause angústia. Com os animais deve - ríamos aprender que não é correto pro- vocar sofrimento de forma gratuita, ou por puro exibicionismo. Com os animais deveríamos aprender tantas coisas e, no entanto, são tantos os que os maltratam, os desprezam, os consideram inferiores, certamente porque não têm as qualida- des que eles têm. Mas aqueles que os amam, aqueles que os protegem, aqueles que veem neles uma alma, aqueles que interagem com eles no dia a dia e sabem reconhecer neles nobres sentimentos, esses têm o grande privilégio de saber que tudo no universo está ligado entre si e chamar “animal” a um ser humano é um insulto aos nossos amigos animais. Jorge Chichorro Rodrigues (homenagem a Jane Goodall, primatóloga e grande amiga dos animais, falecida no dia primeiro do mês de outubro) Os Animais Nossos Amigos Jane Goodall 18 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 DESPEDIDA Última hora P aço de Arcos ficou em choque, morreu um dos seus defen - sores mais queridos, o Carlos André, professor, que durante a sua vida dedicou tanta energia e o seu tempo à defesa das causas respeitan - tes à sua querida vila. Esteve em todas as frentes, CDPA (Clube Desportivo de Paço de Arcos), Bombeiros, Junta de Freguesia, Assembleia Municipal, Órgãos do seu Partido de sempre e para sempre, o Partido Socialista, as - sociado de várias associações cultu - rais, entre elas a Associação Cultural “A Voz de Paço de Arcos”, de que foi Presidente do Conselho Fiscal e agre - gador de amigos paçodearquenses que constituíram o grupo “ Os Bardi - nos”. A Voz de Paço de Arcos expressa forte sentimento de tristeza pelo seu pre - coce desaparecimento do nosso seio, e endereça, aos seus familiares e ami - gos, os sentidos pêsames por tão dura perda. José Marreiro 19 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 HISTÓRIA LOCAL E sta Fortificação, a Bataria do Guin- cho , foi construída, como a maioria de todas as outras, sobre um extenso aglomerado de rochedos e a 4 m acima do nível do mar, precisamente na ponta extre - ma do “Guincho” (nome do Sítio e onde já existia um Posto), no limite da enseada e a Oeste de Cachias. Inicialmente de arquitetura militar sim- ples, de planta em forma de pentágono irregular para aproveitamento da ponta rochosa, apresentando, casamata e larga esplanada de tiro, suficiente para aquarte- lar uma Bataria. Mais tarde (1877), foi acrescentada uma nova divisão na esplanada, para armaze - nar o equipamento dos Torpedos e mais tarde ainda (1942-1952), foi fechada a espla- nada, constituindo um Forte. Com o alçado principal encostado a terra firme e com portal de verga recta de can- taria vulgar encimado por Pedra de Armas Real e a seguinte inscrição na lápide : “REINANDO EL REI NOSSO SNOR DOM IOAO 4 SE FES ESTA OBRA POR MANDADO DO CONDE De CANTANHEDE DOS SEVS CONSs DO ESTADO E GVERRA VEEDOR DE SVA FZda NO ANNO DE 1649” A planta da Bataria está dividida em 2 cor - pos: - No edifício da casamata com estrutura rectangular, existem 4 divisões com jane - las laterais, para o Comandante, para os Soldados, para a cozinha e para os arma - zéns da pólvora e armamento. As latrinas localizavam-se nas laterais. - Na esplanada de tiro, rodeada por espes- so muro de defesa, foram abertas 6 canho- neiras e mais tarde a 7ª, todas viradas ao mar. Na união dos dois corpos, a esplanada e a casamata, em cima desta, nas últimas obras, foram construídas duas guaritas de observação. Planta perspetivada (agora editada) Começada a edificar, muito provavelmente em 1644, já sob o Plano de Defesa instituído e com a supervisão do Governador de Ar- mas, D. António Luís de Meneses, foi dada como construída e operacional em 1649, fi- cando equipada com 4 peças de artilharia. Localizada entre o Forte de S. Pedro e a Ba- taria na ponta de Laveiras (mais tarde For- te de S. Bruno), o objectivo da sua acção seria “cruzar fogos” com estas Fortificações sobre o invasor. Forte Nª. SENHORA de Porto Salvo Planta original 20 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 61 Outubro 2025 A imagem da Bataria até 1942 Notas: - O Sítio “Guincho”, assim se cha - mava, pois nele viviam os Guinchos (ou Garrunchos), aves da família das Gaivo- tas e afins, que habitam nos rochedos, pescando e alimentando-se de pequenos peixes, distinguindo-se bem pelos seus estridentes guinchos. Daí a primeira de - signação. Quanto à última, Giribita, estou em crer que terá ligações com a cultura da vi- nha em toda a encosta entre Cachias e Paço dArcos, sendo os produtos, obti - dos e comercializados, (como vinhos, licores, aguardentes, etc.), em parte ex- portados e embarcados no “Porto das Uvas”, o novo nome do Sitio (nos finais de 1800) antes da designação de Giribi- ta (desde os princípios do século XX), e referindo-se ao popular termo brasi- leiro dado â sua aguardente “ jeribita ”. O nome de Nossa Senhora de Porto Sal- vo , segue, desde sempre, a nossa crença da protecção divina de todos os Santos, e este muito particularmente após um co - nhecido milagre histórico que deu origem à edificação, num morro em Porto Salvo, duma Ermida dedicada a Nossa Senhora. A actual imagem do Forte Durante os anos de 1942 a 1952, a Bataria foi intervencionada em toda a sua edifica- ção com importantes obras, ficando com a estrutura dum Forte, embora agora des- tinado a outras funções. SITUAÇÕES DE RELEVÂNCIA Não há referências quanto aos seus pri- meiros Governadores (assim eram desig- nados os Comandantes que teriam as pa- HISTÓRIA LOCAL