A Voz de JORNAL DEFENSOR DOS INTERESSES DA VILA DE PAÇO DE ARCOS E DAS LOCALIDADES CIRCUNDANTES FUNDADO EM 1979 POR ARMANDO GARCIA, JOAQUIM COUTINHO E VÍTOR FARIA Diretor: José Manuel Marreiro | Bimestral | N.º 56, Dezembro de 2024 DISTRIBUIÇÃO GRATUÍTA JORGE MIRANDA OBRIGADO ! 2 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 FICHA TÉCNICA ESTATUTO EDITORIAL 1 – A VPA é um jornal bimestral de informação geral na área da cultura e da língua portuguesa, em particular na defesa dos interesses dos habitantes da vila de Paço de Arcos e das localidades circundantes. 2 – A VPA pretende valorizar todas as formas de criação e os próprios criadores, divulgando as suas obras. 3 – A VPA defende todas as liberdades, em particular as de informação, expressão e criação. Ao mesmo tempo, afirma-se independente de quaisquer forças económicas e políticas, grupos, lóbis, orientações, e pretende contribuir para uma visão humanista do mundo, para a capacidade de diálogo e o espírito crítico dos seus leitores. 4 – A VPA recusa quaisquer formas de elitismo e visa compatibilizar a qualidade com a divulgação, para levar a informação e a cultura ao maior número possível de pessoas. Propriedade: Associação Cultural “A Voz de Paço de Arcos” Sede: Rua Thomaz de Mello nº4 B 2770-167 Paço de Arcos Direção: Presidente - José M. R. Marreiro; Tesoureiro - Cândido Vintém; Secretário - Luis Amorim Redação: Rua Thomaz de Mello nº4 B 2770-167 Paço de Arcos E-mail: avozpacoarcos@gmail.com N.I.F.- 513600493 | E.R.C. nº 126726 Depósito Legal: 61244/92 Diretor: José M. R. Marreiro Coord. Edição Online: Renato Batisteli Pinto Coord. Edição Papel: Margarida Maria Almeida Editor: Jorge Chichorro Rodrigues E-mail: jchichorro@avozdepacodearcos.org Sede do Editor: Rua Thomaz de Mello nº4 B 2770-167 Paço de Arcos Revisão: Luís Amorim Impressão: www.artipol.net Sede do impressor: Rua da Barrosinha, n.º 160 | Barrosinha Apartado 3051 | 3750-742 Segadães, Águeda Portugal Colaboradores: Antonieta Barata; António dos Santos; António Pena; Carlos André; Eduardo Barata; Graciela Candeias; I. Alves Ribeiro; João Raposo; Jorge Chichorro Rodrigues; Jorge Marques; José Lopes; José Marreiro; José Mendonça; Luís Àlvares; Luís Amorim; Margarida Almeida; Maria João Coutinho; Mário Matta e Silva; Miguel Partidário; Miguel Teixeira; Paulo Ferreira; Teresa Manuel; Tiago Miranda e Virginia Branco Fotografia: José Mendonça, Luís Amorim, Natercia Correia, Jorge Marques e Margarida Almeida Aguarelas : Serrão de Faria Capa: Foto de Albérico Alves Paginação: Andreia Pereira Tiragem: 2000 exemplares Online: avozdepacodearcos.org E-mail: info@avozdepacodearcos.org Publicidade: josemarreiro@gmail.com Tel. : 919 071 841 (José Marreiro) Diretor Honorário: José Serrão de Faria Sub diretora Honorária: Maria Aguiar Capa - Jorge Miranda Fotografia de Albérico Alves 3 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 EDITORIAL C hegamos ao final de 2024 com a consciência de termos cumprido muito satisfatoriamente a nossa função de jornal que une a comunidade, rica e diversa na sua composição. Regis - támos, contra os ventos contrários que sopram de todo o lado, resultados de que nos podemos orgulhar, com entrevistas a figuras relevantes ligadas à nossa região, apontamentos sobre eventos culturais aqui realizados, com destaque para o poder da palavra e da poesia (ou não esti- vesse o Parque dos Poetas a lembrar-nos, em Oeiras, vizinho de Paço de Arcos, que somos um país de poetas), ou roteiros e locais de grande valor histórico e patri - monial que enobrecem a nossa comuni- dade. Estamos muito agradecidos aos leitores, patrocinadores e colaboradores, que têm contribuído para o nosso dinamismo e para a sedimentação da nossa identidade. Estamos gratos em particular às associa - ções congéneres, sendo de relevar o apoio dado pela União de Freguesias de Oeiras e Paço de Arcos (UFOPAC) e pela Câmara Municipal de Oeiras. Ao longo do ano, foram várias as iniciativas com sucesso, como a realização de passeios culturais e do concurso de fotografia e a colaboração com eventos promovidos pela Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos, no Forte de São Bruno, em Caxias; saliente- -se também a parceria com a Luchapa e em particular com José Mendonça, que se empenhou na organização da Marato - na de Poesia de Oeiras e noutros eventos poéticos. Em 2025, a Associação comemorará o seu 10º aniversário, a 23 de junho, e o jornal fará 46 anos. Estamos a preparar co- memorações consentâneas com essa efe- méride, contando que as mesmas sirvam para uma nova fase de desenvolvimento do nosso projeto, com a edição do nosso jornal a dotar-se de meios digitais que vêm complementar o tradicional papel. Esperamos reforçar as visitas culturais e colaborar de forma solidária e eficaz com outros projetos similares. Para esse efeito, é fundamental que os nossos caros lei- tores continuem a prestar-nos atenção e que novos associados apareçam, além de que é indispensável que as nossas iniciati- vas continuem a atrair o tecido empresa - rial da nossa comunidade. Lamentamos o desaparecimento de as - sociados e de colaboradores, em 2024, no - meadamente do historiador e professor Jorge Oliveira Miranda, a quem o nosso jornal e o nosso concelho muito ficaram a dever, graças ao seu trabalho de inves - tigação e de divulgação cultural, que se encontra amplamente publicado e está disponível nas bibliotecas municipais de Oeiras e Cascais. Por fim, registamos aqui o nosso rego- zijo pelo facto de ter sido atribuído o im - portante Prémio Pessoa a Luís Tinoco, prestigiado compositor residente em Paço de Arcos. A ele daremos uma especial atenção nos próximos números do nosso jornal. Jorge Chichorro Rodrigues 4 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 ARTIGO DE CAPA - HOMENAGEM É sempre doloroso ver partir um homem que, de forma humilde e empenhada, se entregou de corpo e alma à história e à cultura da sua terra. Nas - cido em Cascais, Jorge Miranda, professor e historiador, adotou Oeiras para residir em 1971. Era, pois, um “filho” desta região que vive a mirar o Atlântico e a receber o sol de forma privilegiada – uma região cuja histó - ria ele quis averiguar para depois divulgar através de artigos em jornais, em trabalhos de investigação, em conferências, ou no ensino. Aos quinze anos, era empregado de escritório, e aos dezasseis começou a cola - borar com o jornal A Nossa Terra , mais tarde Costa do Sol , do qual foi durante várias déca- das subdiretor e diretor. Deu aulas em insti - tuições públicas e privadas, entre as quais a Escola de Hotelaria e Turismo do Estoril, a Escola de Teatro de Cascais e a Universida - de Sénior de Oeiras. Joaquim Coutinho, o fundador do nosso jornal, convidou-o para colaborar neste, onde escreveu diversos artigos. Pai de quatro filhos e avô de sete netos, bom con- versador e contador de histórias, possuidor de uma vasta biblioteca, com milhares de livros, apaixonado pelas matérias que tão bem dominava, Jorge Miranda, além de uma rica e extensa atividade como histo - riador da nossa região, teve uma importan - te ação cívica, não se coibindo de exprimir as suas convicções de forma livre e lúcida. Uma das suas queixas era que se desse tão pouca importância no nosso país à investi- gação da história local. Jorge Miranda deixou-nos vários trabalhos dispersos, em vários jornais da região, e espera-se que muitos deles venham a ser p u b l i c a d o s em livro. Pu - blicado está o nº 1 da His- tória do Concelho de Oeiras, Pombal e Oeiras (Espaço e Memória, Oeiras, 2017). Aguar- da-se publicação da coletânea dos apon- tamentos históricos que, entre 1999 e 2005, escreveu semanalmente no Jornal da Região de Oeiras. Os seus textos serviram de base para três volumes que preparou em cola- boração estreita com Guilherme Cardoso e Carlos A. Teixeira sobre São Domingos de Rana, Carcavelos e Alcabideche. Em 1986, recebeu o Prémio “Imprensa Regional” da Sociedade Histórica da Independência de Portugal. A Câmara Municipal de Oeiras agraciou-o com a Medalha de Mérito Mu- nicipal (Grau Ouro) em 1993 e a Câmara Municipal de Cascais atribuiu-lhe a Meda- lha de Mérito Cultural em 2013. Foi já apo- sentado que fez o curso de História na Fa- culdade de Letras de Lisboa. Integrou, no quadro do associativismo cultural, o Concelho de Fundadores da Fundação D. Luís 1 (Cascais), a Associação Cultural de Cascais (como co-fundador), a Sociedade de Propaganda de Cascais, a So - ciedade de Língua Portuguesa, a Espaço e Memória – Associação Cultural de Oeiras (associado nº 1), a Universidade Sénior de Jorge Manuel Araújo Oliveira Miranda 20/6/1936 – 15/12/2024 5 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 Oeiras, a Associação Cultural de Oeiras, o Grupo de Amigos do Museu da Pólvora Negra (Barcarena), e tinha uma especial predileção pela Biblioteca Operária Oei - rense. Entre os vários trabalhos que publicou, refiram-se os seguintes: «Aspectos da situação do escravo em Oeiras, na segunda metade do século XVIII» , Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa, III série, nº 91, 1989, p. 11-12. «Em torno do poder local no Reguengo de a par de Oeiras, no século XVII» , Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa, Série III, nº 91, 2º tomo, 1989. «A extinção do concelho de Oeiras (1895-1898) : um caso político-partidário» , Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa, Série IV, n.º 92, 1990/98, p. 83-92. ARAÚJO (Manuel de), «Joane Anes – Ho- mem-bom de Oeiras» , Jornal da Costa do Sol nº 1192, 7-3-1991. A obra do pintor Silva Oeirense (1797-1869) , abertura do catálogo da exposição realiza - da em Outubro de 1992. «A autonomia de Oeiras e a formação do espaço geográfico concelhio» , Actas do I Encontro de História Local do Concelho de Oeiras, Câmara Municipal de Oeiras, Lisboa, 1993, p. 145-154. ARAÚJO (Manuel de), « Os Reguengos de Oeiras », Jornal da Costa do Sol nº 1355, 21 de Abril de 1994, p. 17. ARAÚJO (Manuel de), «A capela do Senhor Jesus dos Navegantes, em Paço de Arcos», Jornal da Costa do Sol nº 1365, 30 de Junho de 1994, p. 10. «Para uma História dos Lazeres no Concelho de Oeiras », catálogo da exposição. Câmara Mu- nicipal de Oeiras, 1995. Coordenação e pes- quisa de Manuela Hasse e Jorge Miranda. «Para a História da Imprensa de Oeiras – Paulo da Fonseca, editor de A Gazeta d’Oeiras », des - dobrável, Abril de 1997. Viagem pelas Lendas do Concelho de Oeiras , Câmara Municipal de Oeiras. Oeiras, 1998. «Oeiras e a expansão – Contributos para a sua história» , in 1º Ciclo de Estudos Oeirenses – Oeiras – A Terra e os Homens. Câmara Municipal de Oeiras, Novembro de 1998, p. 197-224. «Caspolima e Porto Salvo» , Jornal da Região – Oeiras nº 167, 29-6-2000. «Os morgadios do Rabi-Mor» , Jornal da Região – Oeiras nº 168, 6-7-2000. «Porto Salvo: a capela, a irmandade e vontade do povo» , Boletim Cultural da Assembleia Distrital de Lisboa, IV série, nº 95 (2º tomo), 2009, p. 79-88. «Pescadores aliados da Inglaterra nas Inva- sões Francesas», O Correio da Linha, 24 de Agosto de 2012, p. 4-5. «O Pelourinho – um símbolo da autonomia oei- rense» , revista Espaço & Memória 1, Maio 2017, p. 34-37. É, pois, com muita tristeza que a nossa terra vê partir um homem de tanto valor que a ela se entregou de corpo e alma, tor- nando possível conhecer melhor a sua his - tória, o seu património e as suas gentes. Sai - bamos estar à altura do seu legado, lendo a sua obra que enobrece a nossa região. A Voz de Paço de Arcos não esquece a amizade de Jorge Miranda, aquando uma grave crise que fez perigar a sua continui- dade, ao publicar no Jornal da Costa do Sol, de que era diretor, os artigos de A Voz de Paço de Arcos. Jorge Chichorro Rodrigues 6 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 CAMINHOS O Bairro Comendador Joaquim Matias foi construído na década de 60 do século 20, acompanhando um surto de desenvolvimento económico que criou muitos empregos na região de Lisboa. Muitas fábricas, muitos escritórios, muitas empresas de diversas atividades que atraíram a esta região milhares de trabalha - dores vindos de todo o país. Não existiam casas para tantas necessida - des, o alugar um quarto, ou uma parte de casa, nas localidades, ou a construção clan - destina que proliferou por toda a cintura de Lisboa, não era solução para centenas de famílias. A Linha do Estoril, então Costa do Sol, nomeadamente o Concelho de Oeiras, era um vasto território agrícola que passou a ser urbanizado. Surgiram urbanizações de vivendas, ou prédios de 3 andares, ini - cialmente, mas rapidamente começaram a surgir projetos com prédios de maior di - mensão. É neste cenário que surge em Paço de Arcos um projeto de apartamentos de tipo - logias de reduzida dimensão (T0, T1, T2), para venda para habitação ou para rendi - mento (arrendamento), a preços compa- tíveis com o rendimento de muitas das re - feridas famílias, portanto, com capacidade creditícia para recorrer ao financiamento bancário, que então também se desenvol- veu. Este novo conceito surgiu pela mão de vários empresários da construção civil, tendo sido um deles o empresário João Pi- menta, empresa J. Pimenta, Lda., que a par de outros projetos que tinha em an- damento, em Cas - cais e na Amadora (Reboleira), teve a iniciativa de cons - truir este bairro em Paço de Arcos, junto à Marginal, e não muito distante da estação de ca - minho de ferro. A capacidade de iniciativa desta empresa acompanhada de uma agressiva campanha publicitária, e com uma força de vendas muito ativa junto dos potenciais compra - dores, que incluíam muitos emigrantes e militares (Guerra Colonial), fez com que o bairro rapidamente estivesse vendido e ha - bitado. Após a aprovação do projeto inicial, e dada a necessidade de ter um Pavilhão para o CDPA, este foi construído por conta da empresa no terreno destinado a jardim, e oferecido ao clube, a troco da permissão de subir os prédios em altura, e ter assim uma compensação. O Bairro Comendador Joaquim Matias - Paço de Arcos 7 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 A principal artéria do bairro é a Av. Bon - neville Franco que percorre lateralmente todo o bairro. Nesta avenida, e em frente ao bairro, temos a Escola Superior Náuti - ca Infante D. Henrique, que foi construí- da pouco tempo depois, e que referimos noutro local, realçando a comemoração do centenário da sua fundação, em Lisboa, e para aqui transferida em 1972. Em frente à porta principal da Escola, temos o referido Pavilhão do CDPA, que aguarda as obras de requalificação previs- tas pela CMO, há já algum tempo, pelo que esperamos ter em breve notícias sobre a sua execução. A importante atividade des - portiva que ali é desenvolvida bem merece. Assim que o Bairro começou a ser habita- do, e perante o grande número de morado - res/consumidores, logo começaram a insta- lar-se os mais diversos comércios e serviços nas lojas existentes. Falaremos nas lojas, já que são funda- mentais para a qualidade de vida da popu- lação. Começamos pelo próprio Pavilhão que dispõe de 2 espaços, o Bar, que até há poucos dias era explorado pelo Sr. Francis- co, “Xico”, e que, brevemente, abrirá pelas mãos do Sr. Manuel (Quitanda e Clube Náutico), uma loja de açaí, café & Bar, o Sambô, e em edifício recuado, o Ginásio do clube. De seguida, na esquina com a Rua Veiga Beirão, temos: O restaurante Quitanda, já referido, a Farmácia Pargana, a Escola de Condução “Eco Drive”, e o Minipreço. En - tramos na Rua Marquês de Fronteira com 8 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 a nova loja de imobiliário, Century 21, o Centro Médico Clara Saúde, e o Centro de Dia da Misericórdia de Oeiras, onde duas dezenas de residentes seniores, passam o dia em grupo e desenvolvendo atividades adequadas às suas condições físicas e men- tais. Na cave do prédio, com entrada pela Rua Filipe Taylor, temos o antigo, e muito co- nhecido pela sua qualidade, Restauran- te Borges. Seguimos para a Rua António Aleixo, onde encontramos lojas de produ - tos e serviços variados, tais como, minimer - cado, snack bar, barbearias, cabeleireiros. Voltamos na Rua José Henriques Coelho e temos: A Tasquinha do J, o Degrau, a Bou- tique dos Sabores, a Magia do Café, a Pa- daria da Vila, a Adigal, e o Parque Infantil. De novo na avenida principal, com o seu Quiosque, o espaço para jogar cartas, o Su- permercado Alegre, e o afamado restau - rante de comida alentejana, o Zé Varunca. Entretanto, na Rua Quirino Lopes, o pronto a comer Salva Vidas e o Café Âncora, e na Rua Adelino Amaro da Costa, a loja o Cesto de Fantasias, a Cabeleireira Nicola Styles, a Lavandaria Azul-Self Ser- vice. Na Rua Peixinho Júnior, temos o que falta cumprir na urbanização, a demolição, ou recuperação e adaptação a uma função adequada, do edifício construído para ser Centro Comercial, mas que está encerra- do, sem atividade, pelo que se tornou num mono prejudicial ao bairro, pelo seu estado de degradação, e que será cada vez mais problemática a sua permanência tal como está. Ao lado, um espaço de estudo IEAC-GO, Instituto de Estudos Avançados em Ca - tolicismo e Globalização. Junto ao último prédio, que começou por ser um Hotel e depois transformado em apartamentos, temos a Praceta Luís de Freitas Branco. CAMINHOS 9 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 Para terminar, voltamos ao local da par - tida, portão da Escola Superior Náutica, para referir o estabelecimento fronteiro, o espaço âncora da urbanização, que é o Res- taurante, Marisqueira Cervejaria e Petis- queira, que há 56 anos presta um alto ser- viço a Paço de Arcos, pela mão do seu pro - prietário e fundador, dedicado empresário que mantém a casa sempre atualizada, e pela qual passaram milhares de pessoas residentes do bairro, alunos, professores e funcionários da Escola Náutica, para além de clientes provindos de outros bairros e lo - calidades. É merecedor do nosso reconhecimento, e consideração, pelo muito que tem dado, e continua a dar, à vida económica da Vila, e ao apoio ao CDPA. Poucos saberão o seu nome completo, o primeiro nome é Francisco, mas para os clientes o seu nome é o mesmo que é para os amigos, o XICO. Terminamos referindo que este bairro continua a ser conhecido pelo nome abre - viado do seu construtor, J. Pimenta, apesar dos muitos esforços para que seja designa- do pelo seu verdadeiro nome, Bairro Co - mendador Joaquim Matias, ilustre proprie- tário, empresário e benemérito de Paço de Arcos. E, assim acabamos 2024, voltaremos em 2025, com novos Caminhos, novas notícias locais. Um ano feliz para todos. Texto: José Marreiro Fotografia: José Mendonça 10 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 ENTREVISTA - LÚCIA MARIA FERREIRA N atal é festa de família, amor, ale - gria por estarmos juntos mais um ano. Também mesa farta – para alguns - presentes comprados no difícil equilíbrio entre o que gostaríamos de ofe- recer e o alcance da nossa carteira. Natal é isto e o seu oposto: contradi - ção, consumismo exacerbado ignorando um Planeta em fúria. Natal é solidão, fa - mílias que dormem na rua, promessa enganosa de Paz, Amor e Fraternidade em que ninguém acreditará. Na manhã de 25 de Dezem - bro, mais crianças terão sido bombardeadas, mortas en - quanto dormiam. Gaza, as Gazas destes dias sangren- tos não permitem a esperan - ça! Os ventos sopram a favor dos genocidas, dos senhores da guerra. Vamos viajar por outros natais pela mão da amiga Lúcia Maria Ferreira (LMF) que nos contará histórias de espantar. Nasceu num agosto do século XX, em Sobreiró de Baixo, concelho de Vinhais, Trás-os-Montes. Em plena ditadura, rei- nava a pobreza extrema, a fome. Tudo faltava! Comida, roupa quente, calçado, educação, cuidados de saúde. A propa - ganda elogiava as alegrias da pobreza, a alegria singela do pão e vinho sobre a mesa (“Uma casa portuguesa/pão e vinho sobre a mesa...”, cantava Amália Rodri - gues). Testemunhou e mantém vivas as memórias da mi - séria desses dias de chumbo, décadas de 40, 50, 60... Cresceu, estudou – com dificuldades - fez-se mulher. Reside em Oeiras. Grata às portas que abril abriu, só então a sua aldeia raiana pôde viver, pe- la primeira vez, a magia da luz à distância de um inter- ruptor, a magia da água ca - nalizada a jorrar da torneira. Em Sobreiró de Baixo, pas - savam os postes e cabos que levavam a electricidade aos “ricos” da vila vizinha, igno - rando as necessidades das populações que “sobrevoa- vam”. Os “pobrezinhos” do nosso subdesenvolvimento não contavam para nada. As gentes da sua infância emigraram, abriu-se um mundo novo, hoje a pobreza é residual, mas existe. Mui - tos raianos regressam ao paraíso perdido, reerguem as velhas casas de pedra dos seus Pais. Procuram uma vida autêntica, despojada. Chegam casais jovens com no - vos saberes, novas formas de fazer. Procu - ram um bem precioso: tempo! Uma nova forma de ser e de estar. É bem disposta, afectuosa. Os 80 anos perfilam-se na esquina do tempo, nada que a perturbe. Sorriso aberto de quem está bem consigo e com a vida. Continua a Natal: A esperança já não mora aqui! 11 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 dar-se aos outros - conhecemo-nos a fazer voluntariado, muitos anos depois man - tém-se activa neste registo. Chama-me “querida Margarida”, acho graça, gosto! Lareira - Um coração a bater AVPA – Falemos do Natal da sua infância, das memórias que guarda da sua meninice numa época de carências mil... Que cheiros, sabores, vozes, permanecem em si? LMF – Na minha aldeia fazia muito, muito frio mas, na nossa casa, havia ca - lor afectivo, os natais eram muito quenti- nhos. Eram também os dias dos grandes nevões, a paisagem pintada de branco, de uma beleza quase irreal, mágica; fazía- mos bonecos e bolas de neve, patináva - mos na placa de gelo que cobria os poços. Na noite do nascimento de Jesus, a “tribo” numerosa reunia-se na nossa casa, todos juntos à volta da grande mesa da cozinha. Recuo no tempo e lá estamos nós sen - tados à lareira. As casas eram de pedra, geladas, o vento assobiava pelas frestas. A lareira sempre acesa – para os que tinham lenha - era conforto, calor, luz! Aquecia a casa e os nossos corpos enregelados. O fogo, o chamado lume de chão, cozinhava a ceia de Natal: bacalhau ou polvo cozi - do com as batatas e as couves que a terra generosa dava, regadas com bom azeite. Ainda hoje assim é. Na cozinha espaçosa, vinte pessoas à volta de uma mesa grande onde todos ca - biam: os meus Pais, eu e o meu irmão, a tia solteira que vivia na nossa casa (a nos- sa segunda Mãe), os meus padrinhos com os seus dez filhos. Confusão, barulheira, bebés a chorar – todos os anos o milagre de uma nova vida - todos a falarem ao mesmo tempo, doze crianças, um alegre “salsifré”... O pão para molhar no azeite era caseiro, amassado pelas mulheres. A velha mas - seira onde levedava a massa ainda existe, restaurada, bem conservada. O cheiro do pão cozido no grande forno da cozinha, inundava a casa com um perfume irresis - tível, crescia-nos água na boca... A comida era escassa, nem uma só mi - galha se desperdiçava! Nós éramos reme - diados, uns afortunados a salvo do deses - pero da fome, de quem não tinha como dar de comer aos filhos; o inverno era ain- da mais dramático, a fome apertava forte, atingia as populações das aldeias raianas, das serras, dos casebres miseráveis. Éramos uma família de amor, todos se gostavam, havia muito respeito entre nós. Naquela noite especial – vivia-se en- tão uma religiosidade profunda - todos tinham o suficiente para comer e beber, sem excessos, claro... As famílias eram numerosas, tinham muitos filhos – os que deus quisesse, di- ziam - nós éramos apenas dois irmãos, excepção aos ranchos de miúdos descal - ços, rotos, ranhosos (porque constipados), a tiritar de frio, cheios de frieiras, feridas cutâneas causadas pelo frio. Doloro- sas, atacavam as orelhas, as mãos e pés, o rosto. Quanto mais filhos, maior era a miséria. O dinheiro rareava, prevalecia o 12 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 sistema de trocas. Havia amor, como ho - je, também desamor, como hoje. Havia sobretudo muita dor, desespero no olhar espantado de crianças e adultos... AVPA – A sua noite de Natal era outra coi- sa... LMF – Sim, sim! O Natal era sempre na minha casa porque a cozinha era gran- de, havia espaço para todos, a lareira era XXL. Tanta alegria no ar, a criançada tem sempre um encanto especial! Muito mais tarde ouviria pela primeira vez falar de prendas. Ainda que tivéssemos dinheiro para as comprar, não havia lojas. Penso que nem sabia o que isso era. Prenda, prenda valiosa era ter comida na mesa, calorzinho bom, risos, a família reunida... - Mãe, porque é que o Menino Jesus não vem à nossa casa? - Filha, como queres tu que ele saiba onde é a nossa casa? Deve ter procurado e não encontrou! Ou então: - Filha, não vês que ele deve estar mui- to cansado? O mundo é grande, cheio de casas, teve que ir descansar... Para o ano ele vem, vais ver... Eu acreditava, a minha Mãe sabia tudo, todos sabemos que as nossas Mães não mentem... Bonecos eram os bebés quando nasciam AVPA – A sério? Nem um par de meias, re- buçados, uma boneca de trapos ??? LMF – Nadinha! Rebuçados talvez ven - dessem em Vinhais, 6 km a pé, não havia estradas, os carreiros cobertos de neve, tu - do era muito demasiado longe... As meias eram feitas pela minha Mãe e tia, de lã para o frio, de renda até ao joe - lho para a Primavera, lindas de morrer... Casacos, camisolas quentinhas de pura lã vinda da tosquia das nossas ovelhas. De- pois de lavada e tratada, era fiada. Os co - bertores de papa, as mantas, almofadas, tapetes, tudo feito pela Mãe e Tia. Mas picava muito, fazia coceira, não era macia como hoje. Bonecas? Sabia lá eu o que isso era! A minha Mãe anunciava-nos que a nossa Madrinha tinha comprado mais um me - nino – ao todo, comprou dez! - foram eles os adoráveis bonecos da minha infância. AVPA – Homens e mulheres, escravos de trabalho esforçado. Elas, além de amanha- rem a terra, tinham a lida da casa, sempre grávidas, muitas morriam no parto, a mor- talidade infantil levava os seus meninos, pedaços de si que chorariam para sempre. Envelheciam precocemente, uma vida de dor e trabalho. Os meninos que morriam eram os “Anji- nhos”, sem pecados e tinham a “felicidade” de ir direitinhos para o céu. Nesses dias sombrios, o sino da Igreja ti- nha um toque especial a anunciar a triste nova: um toque que parecia um choro, o sino chorava e nós também... Os dignatários de uma Igreja que se con- fundia com o regime, “vendiam” a resigna- ção para mascarar o crime de um regime que não cuidava do bem-estar do seu povo. Os pobrezinhos queriam-se conformados, agra- decidos com as migalhas que lhes calhavam. Voltemos ao Natal... Missa do Galo – Tradiçâo ibérica LMF – Revejo as grandes panelas de ferro preto, de três pés assentes nas “trem - pas”. Faziam-se filhoses – farinha, ovos, fermento caseiro (ainda por inventar o ENTREVISTA - LÚCIA MARIA FERREIRA 13 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 Fermento Royal). Amassava-se tudo à mão, com a força dos braços, fritavam-se, polvilhavam-se com um bocadinho de açúcar (não podia ser muito) e ei-las, do- ces tentações da minha infância! Na minha casa, comia-se o melhor arroz doce do mundo – o da minha Mãe! - e as fatias douradas, com pão de trigo, porque na terra fria só o centeio sobrevivia à neve e à geada. O pão de trigo era o ideal para fazer as alheiras e para as fatias douradas. Feito em casa, método natural, conserva- va-se muito tempo, sempre fresquinho. No Verão, com o calor, aguentava menos.. O arroz doce ainda hoje é o doce típico das festas da minha terra. O meu Pai, excelente conversador, con - tava histórias sobre pessoas da aldeia: o Ti Ângelo, o Ti Zé, a Ti Maria, inventava vozes, trejeitos, ríamos a bandeiras des - pregadas. Jogávamos às cartas, havia que manter a conversa e a lareira acesas para irmos à Missa do Galo, ponto alto da noi- te! AVPA – Sabe a origem desta designação? Uma das várias lendas diz que, quando Jesus nasceu, um galo galaró cantou muito alto, anunciando a boa nova do nascimento do filho do Messias. O Coró Có Có atravessou a Galileia, todos ficaram informados! Apenas em Portugal e Espanha tem esta designação, em todo o mundo é a Missa da Meia-Noite. LMF – A Missa do galo era uma festa: um ano na minha Terra, outro na aldeia vizinha, distante, metida num buraco. Para lá chegarmos, passávamos por car - reiros estreitos e perigosos. Éramos um grupo ruidoso e alegre de 20 pessoas. Os adultos transportavam fachos de palha que acendiam para iluminar o carreiro. Infelizmente há ainda muita pobreza, mas não há comparação possível. Visitem o Portugal profundo e perceberão o que digo. Contrabando – A arte da sobre- vivência AVPA – O seu Pai, para além de cuidar da terra, tinha outra ocupação? LMF – Era contrabandista, como a maioria dos homens da raia – a raia é o território situado entre o Norte de Portu - gal e a Galiza. Actividade ilegal, a pobre- za a isso obrigava, começavam nesta vida adolescentes ainda, com dezasseis, dezas - sete anos. Conseguimos nós imaginar o sofrimento daquelas Mães vendo os seus meninos arriscando a vida, sofrendo pri - vações? Carregados de café, tecidos, gado, noite dentro, gelados e receosos, atravessavam serras, rios, caminhos de cabras para fu - girem à Guarda Fiscal e aos Carabineiros do ditador Franco, espalhados ao longo da fronteira. Por companhia, as estrelas, a lua e os olhos dos lobos que os espiavam. Viviam no fio da navalha: não havia complacência, a vida dos pobres pouco valia. Repressão e resistência, coexistiam na dura luta pela sobrevivência. No re - gresso, carregavam os pesados fardos e, quando eram descobertos, largavam a carga, com ela o sustento da família. Es - condiam-se nas fragas para salvar a vida. O pagamento podia ser tabaco, tecidos, o que fosse necessário e pudessem vender. Na altura da emigração “a salto”, para França, passavam outros pobres como ele, milhares de camponeses que fugiam à pobreza, também políticos que fugiam à ditadura. Foi preso algumas vezes, tinha 14 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 amigos em Espanha, havia cumplicida - des, lá o libertavam. Dormiam ao relento, um olho aberto, outro fechado, com sorte nalgum casebre abandonado. Comiam uma côdea de pão com chouriço, um pinguito de vinho, pouco mais... A mi - nha Mãe, sempre em desespero, a chorar quando ele demorava a chegar, poderia estar ferido, ter morrido... O perigo fortaleceu-o, tinha uma men- talidade diferente da do portuguesinho de Trás-os-Montes. Muito aberto, infor- mado, uma outra forma de encarar a vida. Graças à sua coragem e determinação, pudemos estudar, cortar o ciclo da pobre - za, percorrer novos caminhos: estamos - -lhe imensamente gratos! AVPA – Em Moimenta da Raia, Vinhais, existe o ”Museu do Contrabando”, guardião de memórias, conserva testemunhos orais na primeira pessoa. O Museu realça o impacto económico e social do contrabando na me- lhoria da qualidade de vida das populações. Casulas – Comida de pobre, co- mida de rico LMF – Havia grandes nevões, ficávamos presos em casa semanas a fio, sem escola. Os poços congelavam, as couves ficavam queimadas. Era altura de comermos as casulas, um manjar dos deuses... Casulas são as cascas de feijão verde seco ao sol, para se conservarem até ao Inverno. Ficam de molho umas horas, depois são cozidas com carne de porco da salgadeira, chouriço do fumeiro! Hoje é cartaz turístico, um dos pratos mais tí - picos da zona, caríssimo! Adoro, costumo comer. As mulheres tinham no ADN a sabe - doria milenar da luta pela sobrevivência: quais formiguinhas, guardavam no Verão para ter no Inverno. A minha Mãe seca - va fruta: pêssegos, figos, ameixas, cerejas. Na adega, numa cama de palha, a fruta aguentava até ao próximo Verão. AVPA – Gente de fibra! Mulheres e homens sofridos, resistentes, heróis e heroínas anóni- mos: os Pobres! Como foram estudar? Foram os únicos da aldeia? LMF – Fui estudar para Chaves, para o Liceu, só vinha a casa nas férias. Partia a choramingar na camioneta da carreira, transporte colectivo da época... AVPA – Icónicas, lindas... design arredon- dado, uma escadinha externa na rectaguar- da, para subir a bagagem para o tejadilho... LMF – Agora o ensino é obrigatório. Antigamente, os rapazes iam para o se - minário – em todas as terras havia uma beata rica e influente - estudavam à borla. Cresciam, encontravam uma miúda gira (ou não...) e lá se ia o santo sacerdócio, as missas, a castidade: nenhum deles foi ordenado padre... das minhas amigas, ne - nhuma estudou. Eu e o meu irmão ficá - mos hospedados na casa de umas primas velhotas, um grande sacrifício para os meus Pais. O pagamento era com batatas, couves, feijão... O meu Pai dizia com desgosto que ven- deríamos a casa quando eles morressem. Enganou-se: anos depois, uma sobrinha reconstruiu-a, preservou a pedra da traça original, tudo o que foi possível: as me- mórias ancestrais, a masseira do pão, as candeias de azeite, o petromax... A minha sobrinha ama aquele chão, é ENTREVISTA - LÚCIA MARIA FERREIRA 15 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 a continuadora da família, através dela é um pouco como se os meus Pais cá esti - vessem. Faz algumas experiências agríco- las, faz agricultura biológica para os seus, plantou muitas árvores de fruto, comple - mentou uma Licenciatura com uma outra naquela área. O terreno é vasto, a vista é de cortar a respiração. Hoje, os meus Pais estranha - riam a piscina e quereriam saber o que é um turismo rural. Explicaríamos que a casa das sua vidas faz a delícia de muitos hóspedes que querem descansar e viver a natureza, desfrutar da beleza da sua serra, da hospitalidade das nossas gentes. Estra - nhariam a internet, o aeroporto a 50 mi - nutos. Sorririam com os risos das crianças a chapinhar na água. Do espanto nasceria Paz, as suas vidas não foram em vão. O Turismo Rural que preserva as me- mórias da família, situado na nossa aldeia - Sobreiró de Baixo - vestiu-se de novo, “embonitou-se”, chama-se hoje “Casa do Pedro”, fica situado na Rua do Pedro, sou conhecida como a Lúcia do Pedro! Por - quê? Simplesmente porque o proprietá- rio a quem o meu Pai comprou a casa, há 80 anos, se chamava Pedro... Os transmontanos são muito espe - ciais... AVPA – Obrigada por nos lerem ao longo do ano. www.avozdepacodearcos.org - Visitem o nosso site e digam do que gostam, do que não gostam, façam sugestões. Nós agradecemos. Sejam MUITO, MUITO FELIZES neste novo ano de 2025! Margarida Maria Almeida (artigo escrito nos termos do antigo Acordo Ortográfico) 16 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 E m maio de 2019, a FNAC convidou- -nos a fazer uma sessão mensal de poesia no seu espaço cultural, na loja do Oeiras Parque. Aceitámos e esco- lhemos a última quinta-feira de cada mês, designando a sessão como POESIA À QUINTA , com o apoio da “Luchapa - As- sociação Cultural”. Até hoje, realizámos sessões de poesia quase todos os meses. Apresentámos os seguintes autores: Al Berto; Antero de Quental; António Gedeão; António Ramos Rosa; Bernardo Soares; Camilo Pessanha; Cesário Verde; Cruzeiro Seixas; Fernando Namora; Fernando Pessoa; Gil Vicente; Guerra Junqueiro; Irene Lisboa; José Afonso; José Régio; José Saramago; Luís de Camões; Mário de Sá-Carneiro; Rui Caeiro; Sophia; Teixeira de Pascoaes. Tivemos também sessões temáticas: Mo - dernismo(s); Poesia e Canções de Protesto; Poesia no Feminino; Cantares Tradicio- nais do Alentejo; Homenagem a Mário Pi- çarra; Francisco José, Vida e Obra Musical; Adriano Correia de Oliveira. Em 2024, realizámos as sessões: -25/01/2024: “Luís de Camões, quinhentos anos depois”; -29/02/2024: “Cantares Tradicionais do Alentejo”, pelo Duo Fernando e Emília, com leitura de poemas de poetas alenteja - nos; -18/04/2024: “Poesia. Liberdade!”, por José Zaluar e Jorge Mendes; -30/05/2024: “Porque celebramos os 500 anos do nascimento de Luís de Camões”, pela Professora Doutora Annabela Rita; -27/06/2024: “Como Gostamos de Tertúlias (n.º12)”. Texto de Antonieta Barata; -30/09/2024: “Almeida Garrett: Tradição e Inovação”, pela Professora Doutora Anna - bela Rita; -17/10/2024: “António Ramos Rosa - O Ca- minho das Palavras!”, no dia do centenário do seu nascimento. Conceção e interpreta - ção: Eduardo Abrantes, Francisca Patrício e José Baião; -28/11/2024: “Joaquim Pessoa Sempre!”, por Ester L Cid, Carlos Mendes e Amigos; -5/12/2024: Alexandre O’Neill - Se uma Gai- vota Viesse...”, Coordenação: Margarida Maria Almeida. Para o 1.º Semestre de 2025 , estão progra - madas as seguintes sessões: -JAN (30/01): Como Gostamos de Tertú- lias (n.º13) - Conversa improvável entre os poetas: Alexandre Herculano; Eugénio de Castro; Júlio Dinis; Florbela Espanca. Texto de Antonieta Barata; -FEV (27/02): “Amor e Literatura”, pela Prof. Doutora Aparecida Costa; -MAR (27/03): “Júlio Dinis & Eça de Quei- roz”, pela Professora Doutora Annabela Rita; -ABR (10/04): “Orfeu não Morreu”, pelo Grupo “Até à Raiz”, com convidados espe- ciais: “Banda do Solfá”; -MAI (29/05): “Literatura e Paisagem” pela Professora Doutora Natália Constâncio; - JUN (26/06): “Mário de Sá-Carneiro”, por Nuno Loureiro. José Fernando Delgado Mendonça, “Poesia com Chá Luchapa” Poesia à quinta na FNAC do Oeiras Parque POESIA 17 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 N o dia 23 de Novembro, realizou - -se a homenagem a José de Cas- tro, iniciativa anual da Associa - ção Cultural “A Voz de Paço de Arcos” ao prestigiado e premiado actor, aqui nascido com o nome de José Manuel Maria da Conceição Pinhanços, em 16 de Novembro de 1931, tendo iniciado a sua carreira em 1952 e falecido preco- cemente, em Lisboa, a 6 de Outubro de 1977. Foi homenageado com um busto, no Largo 5 de Outubro, em Paço de Arcos, local onde se faz a romagem anual, para a colocação de coroas de flores e discur - sos de representantes do município, Dr. Pedro Patacho e UFOPAC, Drª. Madale- na Castro, bem como do Presidente da Associação Cultural “A Voz de Paço de Arcos”, José Manuel Marreiro. O programa de homenagem pros - seguiu no Auditório com o seu nome, através da peça de teatro “Os Dias de José”, à altura de estreia, representada por José de Castro e Eunice Muñoz, ago- ra na interpretação do Grupo de Teatro Nova Morada, uma cooperativa habi - tacional de Paço de Arcos, a levar ao palco esta peça com a encenação de Nuno Loureiro. Durante o evento, esteve patente uma exposição da Asso - ciação Cultural “A Voz de Paço de Ar - cos”, com jornais alusivos a José de Cas- tro, bem como aguarelas da autoria de Serrão de Faria, director do jornal entre 2015 e 2019, as quais fizeram as capas de algumas edições do jornal “A Voz de Paço de Arcos”. Ainda em exposição, al - gum material fotográfico alusivo a José de Castro e Eunice Muñoz, um retrato desta célebre actriz, pela pintora Sofia Simões e um outro retrato, mas foto - gráfico, do primeiro director do jornal e um dos seus três fundadores, Joaquim Coutinho. Luís Amorim (escreve de acordo com a antiga ortografia) HOMENAGEM Homenagem a José de Castro 18 Jornal A Voz de Paço de Arcos | 3ª Série | N.º 56 Dezembro 2024 CONTO P ela quadra natalícia a criança pedia nova carícia em forma de belo conto desejavelmente sem ponto que tivesse seu final, antes um contínuo ideal num enredo o mais terno que lhe fosse por eterno. E his- tória enfim começada deu por aten - ção contada como um especial desejo feito em meninice que não tenha ensejo em crescer por gulodice rumo ao estado adulto quando atingir o ser culto também é viver sua idade, de criança na verdade, a mágica lanterna esfregando e recolhendo vontade ca - minhando, para si em admiração nos desejos por adição em como mudando cores do céu sem temores e apanhan - do estrela à mão, em andamento por intenção chegará a rio que lhe cante a felicidade por diante. Basta o fechar de olhos para o ver de flores