CENTRO UNIVERSITÁRIO FAM AGÊNCIA ODEON O MEIO DIGITAL NA ARTE URBANA E A VOZ DE ARTISTAS INDEPENDENTES NA RUA AUGUSTA São Paulo 2022 AGÊNCIA ODEON O MEIO DIGITAL NA ARTE URBANA E A VOZ DE ARTISTAS INDEPENDENTES NA RUA AUGUSTA Projeto de pesquisa desenvolvido ao Curso de Produção Audiovisual do Centro Universitário FAM para a apresentação do tema escolhido para o Projeto Integrado: a análise do uso do meio digital e suas variadas ferramentas na arte urbana na divulgação do trabalho e arte de artistas independentes, especificamente localizados na rua augusta, considerando os princípios pós - modernistas e a singularidade do estudo e da análise semiótica https://www.youtube.com/watch?v=GWb1jAe0PoA Orientador: Carlos Eduardo de Almeida Sá São Paulo 2022 REALIZAÇÃO 338958 Eduardo Moraes Aguiar 341519 Guilherme Andrade Lima 341845 João Pedro Alevato 342134 Leo Ikeda Maesima 343269 Lucas Dantas de Melo 344517 Reginaldo dos Anjos Celestino Neto RESUMO É tido como objetivo desse trabalho acadêmico, a percepção da sociedade com a arte urbana e como os espaços urbanos tem mudado a forma com que nos comunicamos, tirando o mito de que toda arte urbana, seja graffiti, lambe - lambes, sticker bombing e até os qr code sejam prejudiciais para o ambiente social que nós estamos inseridos. A história da utilização de graffitis mais rudimentares, tal como a própria arte rupestre e os desenhos nas paredes de Pompéia, até a utilização do graffiti como expressão política e social, uma emancipação da voz das minorias quebrando com os valores e pensamentos definidos pela maioria, como uma forma de ter sua voz ouvida e o seu ponto de vista, visto. A utilização da reprodutibilidade como forma de veicular ideias, notícias e pr odutos, onde qualquer muro ou poste pode ser uma vitrine. Vemos também o quão importante é essa arte analógica para os dias de hoje, seja por tomar um lugar proibido para si e expressar sua ideia, seja para simplesmente a divulgação comercial de um álbum de música novo. Mostrando também que a arte analógica aliada a arte digital se tornam uma excelente arma de divulgação das suas ideias, seja pelo custo baixo ou pela quantidade de reprodução feita por um único ideal, o de fazer pensar. Palavras - chave: RU A AUGUSTA PÓS - MODERNIDADE ARTE URBANA MÍDIA DIGITAL ERA DA INFORMAÇÃO GRAFFITI SEMIÓTICA SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO - PROPOSTA E HISTÓRIA 2. ARTE DE RUA a. GRAFFITI b. STICKER BOMBING c. LAMBE - LAMBE 3. O DIGITAL 4. ESTUDO DE CAMPO 5. SEMIÓTICA a. FIGURA 1 b. FIGURA 2 c. FIGURA 3 6. CONCLUSÃO 7. REFERÊNCIAS 6 INTRODUÇÃO - PROPOSTA E HISTÓRIA O objeto de pesquisa tem como foco abordar e analisar diversos meios de comunicação, produzidos como arte de rua para a divulgação dos trabalhos de diversos tipos de artistas undergrounds em meio a era digital, especificamente nos seguintes meios de comuni cação: cartazes, lambe - lambe, sticker bombing , graffiti e stencil art Na era da informação a tecnologia e meios digitais podem ser observados se entremeando com o analógico, o físico. Ao observar a arte de rua e o seu papel em meio a era digital pode - se r ealizar o levantamento de inúmeras curiosidades e questionamentos. A forma como ela é submetida, absorvida e principalmente como ela ainda se faz presente, como meio de reprodução, valorização e divulgação de um leque infinito de trabalhos artísticos. Lambe - lambes, cartazes, stickers e grafites podem ser definidos como sinônimos de arte urbana. Na rua Augusta, espalhados cada vez mais pelas suas paredes, revelam e divulgam os trabalhos de diversos artistas independentes -- tatuadores, músicos, produtore s, bandas e os próprios grafiteiros, taggers . Basta percorrer um pequeno trajeto na rua Augusta para perceber e identificar, de repente, seja uma frase, rápida, completa e objetiva ou até mesmo algo mais conceitual, como uma imagem ou uma arte gráfica, tra nsmitindo, em um rápido contato, a mensagem que aquele determinado artista quis passar. Antes de ganhar as redes sociais e adentrarem na Era digital, esses meios de comunicação percorreram um longo caminho histórico e revolucionaram a forma de atingir uma grande parte da cultura em massa, tornando as paredes da Rua Augusta numa espécie de vitrine, transformando os trabalhos artísticos de meros produtos em imagens e assim adquirindo valor, o valor da imagem. 7 GRAFFITI Uma prática que é reencontrada em d iversos momentos da história – como em Pompeia e Herculano, preservados pela cinza vulcânica que historiadores datam de 78 a.C – o graffiti é tão velho quanto a própria escrita, e desde sempre são a voz do trabalhador, do artista, do cidadão. Insultos, dec larações, salves ou apenas assinaturas, nada diferente do que temos nos muros do nosso planeta. Jacqueline DiBiasie Sammons, arqueóloga do The Ancient Graffiti Project, projeto que aplica novas tecnologias para registrar grafitti antigos coloca, “As pessoa s que deixaram o graffiti não eram os romanos de elite e famosos que lemos hoje; eram pessoas comuns que viviam vidas normais antes do desastre acontecer” A história do graffiti como a arte de rua pós - moderna começa dos Estados Unidos no começo da década d e 70, especificamente para as periferia negra e latino - americana de Nova Iorque, com Julio 104 e Taki 183 e da Filadélfia com Corn Bread . A ambição inicial dessa manifestação foi fazer com que a maior quantidade de pessoas visse e que estivessem no maior n úmero de locais possíveis. Seja num vagão de trem ou num hidrante, os primeiros escritores ou taggers queriam que suas artes fossem vistas e que eles saíssem do anonimato. 8 ( Mirko Tobias Schäfer / Flickr) | camadas de lambe - lambes na Rua Augusta "Os muros, paredes e postes da cidade enchem nossos olhos com mensagens gráficas dos grafites, pichações e stickers. As novas tecnologias digitais proporcionam uma relação mais autônoma e produtiva com os universos musicais e imagéticos; a facilidade de produção, distribuição e apropriações de sons e imagens transformam os jovens em prossumidores” (KERCKHOVE, 1997) 9 Independente de qual seja o local de origem, a arte em si começou como algo simplista, bruto e caricato, que ao longo de alguns anos foi evoluindo para obras mais elaboradas e coloridas, graças à engenhosidade e esperteza dos artistas, o nde adaptaram bicos de limpadores de fogão em suas latas de tinta spray para criar novos efeitos e linhas. Indiscutivelmente foi na cidade de Nova Iorque onde o graffiti e a arte de rua evoluíram, amadureceram e se distinguiram de outras formas antigas de graffiti, tomando o seu lugar na sociedade e alterando a paisagem urbana permanentemente. Contando com um ecossistema muito vivo dentro das cidades, onde cada lugar temos formas de ver as manifestações de outra maneira, vai além de pensamentos ou críticas. Segundo Martha Cooper, “Para o prefeito de Nova Iorque, Ed Koch, o grafitti nada mais era que uma falta de ordem autoritária e a presença do graffiti rompia com a ordem visual, promovendo assim um sentimento de confusão e medo.” O graffiti como arte de rua chegou ao Brasil no final da década de 70, no mesmo momento da ditadura militar, sendo utilizado como uma forma de protesto e crítica ao governo no dado momento. Próximo das ideias de Ed Koch, os governantes brasileiros, também pensavam no graffiti com o forma de promover uma ruptura na ordem visual e que era uma enorme ameaça para com os militares. Devido à pressão política e a censura, os artistas se tornaram ainda mais clandestinos, fazendo com que a visibilidade diminuísse consideravelmente durante o período. 10 STICKER BOMBING Muitos desses artistas também tentam passar informação à sociedade, através de adesivos (sticker bombing), realizando intervenções nos muros da Augusta, para tentar despertar a atenção social das pessoas. O sticker é uma arte contemporânea pós grafite, ond e se tem um conceito de colar adesivos passando uma mensagem de uma forma alternativa, discreta, sem o barulho e falta de praticidade das tintas spray ou o vazamento dos canetões O grande diferencial dos stickers está na forma como ele instiga o seu públ ico. Considerados como uma alternativa aos meios de comunicação tradicionais, os stickers se multiplicam e ganham forma de expressão, proporcionando uma experiência urbana, através de um olhar social, artístico e cultural, e, muitas das vezes, fazendo o le vantamento de uma postura crítica. A reprodutividade e facilidade de produção em massa dos stickers faz com que a obra possa ser democratizada, divulgada, saindo de um nicho e atingindo outros grupos sociais. Os stickers não necessariamente precisam exist ir em prol de uma causa, alguns apenas possuem a vontade de colorir a rua e seus muros com suas artes desenvolvidas em torno de um conceito visual, em diferentes formatos, cores e tamanhos. Aplicados também em mobiliários urbanos, como postes, lixeiras e a té mesmo bancas de jornais, ganham espaço, com a intenção de colocar mais arte na rua ao invés de publicidade. 11 LAMBE - LAMBE Surgidos na cidade em meados do século XX, os lambe - lambes se tornaram um meio de divulgação de trabalho de fotógrafos freelancers , a nônimos e populares. Desenvolvidos a princípio através de uma câmera - laboratório, que era uma espécie de caixa de madeira com uma lente apoiada em um tripé. Técnica ligada ao graffiti , o lambe - lambe possui a alma da arte de rua, cuja proposta une informaçã o, divulgação, crítica e uma forma de intervenção urbana. Tendo sua origem como uma forma de "propaganda popular", utilizada com propósitos diferentes, que vão desde uma transmissão de ideias e pensamentos, ferramenta de protesto, divulgação de artes, com mensagens transmitidas através de textos e imagens. Sendo uma das mais populares formas de divulgação e expressão das ruas, o lambe - lambe espalha suas mensagens em postes, bancas de jornais, muros e onde mais possa ter um alcance maior, utilizando cores, expressões, poesia e arte para expor e divulgar os trabalhos e pensamentos de artistas independentes. Como resultado, muitos artistas começaram a surgir, criando arte usando esse meio. Ao contrário do graffiti em spray ou da arte das musas, o lambe - lambe permitiu que elas criassem sua própria arte com mais facilidade, focando apenas em sua aplicação em locais estratégicos muitas vezes, áreas de alto tráfego. Hoje, ainda é possível ver o lambe - lambe sendo usado para publicidade integrando tecnologias do digital – nomes de usuário do Instagram, códigos de realidade aumentada como os QR Codes e Spotify Code s ou até mesmo links encurtados. 12 O DIGITAL Na era da informação, a tecnologia e meios digitais podem ser observados se entremeando com o analógico, o físico. Além da democratização do conteúdo pela facilidade do acesso, a era digital e suas tec nologias aumentam a velocidade da divulgação da informação. Segundo Horácio Wanderlei Rodrigues, “A sociedade atual encontra - se visceralmente interligada com as tecnologias desenvolvidas na terceira e quarta revolução industrial. Seus indivíduos, sua cultura, seus valores, sua economia, seus produtos dependem e estão conectados digitalmente.” A tecnol ogia tem um papel transformador para inovar e revolucionar a divulgação dos trabalhos dos artistas, e com o seu avanço oferece novas opções e ferramentas para divulgação de trabalho e sua voz, assim fazendo com que seu trabalho seja reconhecido por mais pe ssoas. Um peso importante nessa balança é o preço. Temos ferramentas de marketing de fácil uso a um clique de distância e de graça, tais como Canva, Instagram, ou Tiktok, por exemplo. Com a explosão tecnológica da era pós - moderna e o fácil acesso aos meios digitais com a inclusão digital. Estima que 79,3% da população brasileira com 10 anos ou mais de idade possuem um celular. A avalanche de conteúdos nas redes faz com que certos trabalhos artísticos passem despercebidos, um exemplo seriam os lambe - lambes e stickers que perdem sua aura da rua ao serem portados apenas no digital. Uma saída que artistas independentes tem é amalgamar as redes com o real. Com o tempo certos padrões são avistados nas obras. O que já foi um número de telefone ou e - mail virou o us ername do instagram e a leitura do QR code como uma porta para outras mídias. 13 O uso do QR Code em um cartaz, panfleto, lambe - lambe ou sticker chama a atenção das pessoas e assim oferece a eles uma maneira rápida e fácil de serem encontrados na internet c om um único scan. A leitura do QR Code é feita através da própria câmera do celular. O aparelho identifica o código e, em seguida, revela o conteúdo armazenado. Atualmente, smartphones Android e iOS já possuem um leitor próprio integrado à câmera nativa, e o Chrome oferece ferramentas para a criação de QR Codes. A realidade aumentada é a ferramenta certa para o artista divulgar suas obras, links da internet, músicas, ou seus perfis em redes sociais e, portanto, ter sua presença digital e física em paralelo. Isso deriva da necessidade humana de interação, que adentrou na esfera digital, fazendo com que técnicas que podiam ser vistas como ultrapassadas e arcaicas tivessem uma revitalização junto de uma modernização. 14 Um código Spotify é uma tag digitalizável semelhante a um QR code, que pode ser usada para compartilhar ou acessar rapidamente um conteúdo no Spotify. © 2021 Spotify AB GALERIA 15 Torá Com Fritas 16 “A ideia pro lambe veio depois de acompanhar e admirar o trabalho de Arush, o artista que realizou a arte do lambe - lambe. Os dois personagens retratados seríamos nós dois conversando. Entre nós tem um código como os códigos de áudio do Spotify e também alg uns “alephs”, a primeira letra do alfabeto hebraico. O estilo de arte do Arush retrata bastante os judeus do oriente médio, judeus mizrachi. ” Ângela Goldstein, Podcast Torá Com Fritas SheipStickers Sheip declara sobre seu sticker com seu nome de usuário do Instagram ao lado: o desenho surgiu do aprimoramento de desenhos feitos sob a letra “P” mas que não tem um significado, no estilo encontra - se os traços do graffiti misturado com cartoon. Para ele, colar stickers e fazer graffiti são uma terapia. Até gráfi cas acabam ganhando certa publicidade e usam do seu username do instagram em impressões, gerando uma relação de simbiose entre artista e meio. Assim como as boas relações de grafiteiros e pequenas gráficas voltadas à cultura em volta da 17 arte de rua, grande s empresas de publicidade também passaram a usar o lambe - lambe como mais um veículo de mídia impr essa. Exemplos como a banda Simple Plan , Girl in Red e Wet Leg mostram que a indústria cultural também se apropria da arte de rua. Uma intervenção que se inici a como cultura popular com um povo marginalizado, na pós - modernidade passa a ser produto da cultura de massa, marketing. 18 Banda Lítera “ Nós sempre fizemos esses adesivos para o lançamento de discos. Tivemos outros stickers como o Você já viveu um amor impossível, e colamos cinquenta e dois mil adesivos dele pelo mundo inteiro” . O vocalista da banda André Neto também conta que a intenção d esses stickers é sempre a de provocar as pessoas no seu cotidiano. Quando as pessoas se deparam com a pergunta e tentam responder mesmo que de forma interna. E isso contribui para que as pessoas possam refletir no dia a dia. O Álbum Arquétipos, Encontro Co m a Sombra, foi lançado em 2019 e diversos stickers perduraram até a data de confecção deste trabalho. É notável o empenho da banda de rock gaúcha em suas mídias sociais – @literaoficial – colando stickers por todo o Brasil, em Portugal, França e Estados U nidos, por exemplo. Sua presença no espaço virtual é forte, e anda lado a lado com a intervenção artística do sticker bombing, utilizando de um QR Code que direciona o leitor diretamente à página do Spotify da banda. 19 ESTUDO DE CAMPO Existe um ecossi stema muito vivo e diverso na arte urbana da Augusta. Pode - se até dizer que essa é a graça da arte urbana. A imprevisibilidade entre o hoje e o amanhã é o que a torna única. Caminhar pelo mesmo trecho todos os dias a caminho do trabalho não te garante ver sempre as mesmas artes expostas no mesmo lugar. Um dia lá estão, no outro não mais, foram substituídas por outras realizadas por outros artistas, com outras técnicas, de outras origens, para outros propósitos. A vitrine que a arte urbana utiliza é a maio r possível, é a do convívio, a do dia - a - dia, mas em sua maioria, realizada onde não é legalmente permitida, e talvez seja isso que cause um maior impacto no receptor, pois ele se depara com a arte em um lugar inesperado, e isso causa um choque, uma reflexã o, do porque aquilo está onde está.