SciELO Books / SciELO Livros / SciELO Libros CÍCERO, M.T. Discussões Tusculanas [online]. Translated by Bruno Fregni Bassetto. Uberlândia: EDUFU, 2014, 528 p. Estudo Acadêmico collection, no. 4. ISBN: 978-65-5824-028- 0. Available from: http://books.scielo.org/id/72kk4. https://doi.org/10.14393/edufu-978-85-7078-308-0. All the contents of this work, except where otherwise noted, is licensed under a Creative Commons Attribution 4.0 International license. Todo o conteúdo deste trabalho, exceto quando houver ressalva, é publicado sob a licença Creative Commons Atribição 4.0. Todo el contenido de esta obra, excepto donde se indique lo contrario, está bajo licencia de la licencia Creative Commons Reconocimento 4.0. Discussões Tusculanas Marcos Túlio Cícero Bruno Fregni Bassetto (trad.) Marcos Túlio Cícero Editora da Universidade Federal de Uberlândia Av. João Naves de Ávila, 2121 – Campus Santa Mônica – Bloco 1S – Térreo Cep 38408-100 – Uberlândia – Minas Gerais Tel: (34) 3239-4293 www.edufu.ufu.br Universidade Federal de Uberlândia CĔĒĎĘĘģĔ OėČĆēĎğĆĉĔėĆ ĉĆ CĔđĊİģĔ ĉĔ EĘęĚĉĔ AĈĆĉĵĒĎĈĔ Alexandre Guimarães Tadeu de Soares (UFU) Anselmo Tadeu Ferreira (UFU) Carlos Arthur Ribeiro do Nascimento (PUC/SP) Fausto Castilho (UNICAMP) Marcio Chaves-Tannús (UFU) Marcos César Seneda (UFU) RĊĎęĔė Elmiro Santos Resende VĎĈĊ-RĊĎęĔė Eduardo Nunes Guimarães DĎėĊęĔėĆ ĉĆ EĉĚċĚ Joana Luiza Muylaert de Araújo Adriana Pastorello Buim Arena Alessandro Alves Santana Cibele Crispim Francisco José Torres de Aquino Lília Gonçalves Neves Luiz Carlos de Laurentiz Luiz Fernando Moreira Izidoro Sílvio Carlos Rodrigues CĔēĘĊđčĔ EĉĎęĔėĎĆđ C ĔēĘĊđčĊĎėĔĘ Marcos Túlio Cícero Tradução Bruno Fregni Bassetto ĈĔđĊİģĔ ĉĊ ĊĘęĚĉĔ ĆĈĆĉĵĒĎĈĔ 4 Editora da Universidade Federal de Uberlândia Copyright © Edufu – Editora da Universidade Federal de Uberlândia/MG Copyright da edição original © M. Tulli Ciceronis. Tusculanae Disputationes, Leipzig, Teubner, 1918. Recognovit M. Pohlenz. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução parcial ou total sem permissão da editora. Equipe de realização Editora de publicações Maria Amália Rocha Projeto gráβico Ivan da Silva Lima Editoração e capa Layanne Amarães Martins Ivan da Silva Lima Revisão Maria Cristina Gonçalves Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas da UFU , MG, Brasil C568tP Cícero. Discussões Tusculanas / Marco Túlio Cícero ; tradução Bruno Fregni Bassetto. – Uberlândia, EDUFU, 2014. 528 p. Inclui bibliogra fi a. Edição bilíngue. Título original: Tusculanae Disputationes. ISBN 978-85-7078-308-0 1. Filosofia antiga. 2. Ética antiga. I. Bassetto, Bruno Fregni. II. Título. CDU: 1(37/38) Sumário PREFÁCIO 7 LIVRO I 19 LIVRO II 145 LIVRO III 215 LIVRO IV 303 LIVRO V 387 Notas do tradutor 499 7 PREFÁCIO [...] cum omnium artium, quae ad rectam vivendi viam pertinerent, ratio et disciplina studio sapientiae, quae PHILOSOPHIA dicitur, contineretur, hoc mihi Latinis litte- ris inlustrandum putavi, non quia philosophia Graecis et litteris et doctoribus percipi non posset, sed meum semper iudicium fuit omnia nostros aut invenisse per se sapientius quam Graecos aut accepta ab illis fecisse meliora. Cic . Tusc. Disp. , I, I, 1 porque o interesse e o conhecimento de todas as artes, que se referem ao modo correto de viver, são mantidos pela dedicação à sabedoria, que se denomina ϔ iloso ϔ ia , julguei minha obrigação aclarar isso em latim, não porque não pudesse compreender a βilosoβia tanto pela língua grega como por seus mestres, mas porque meu pensamento sempre foi de que os nossos ou teriam descoberto tudo por si mesmos com mais sabedoria do que os gregos ou melhorado o que deles receberam. BASSETTO, Discussões tusculanas, I, I, 1 Cícero pode ver agora suas Tusculanae Disputationes cotejadas com a versão Discussões Tusculanas do Prof. Dr. Bruno Fregni Bassetto, e, nesse primeiro cotejo, quisemos pôr em caixa alta o termo-tema Philosophia /Filosoβia, por constar logo no primeiro parágrafo do Livro I e por ser co- locada como a sustentação de “todas as artes”. Todo o saber sistematizado nas várias áreas só terá sentido para Cícero, se vier apoiado pelo estudo da Filosoβia e por sua βinalidade, que é a busca da Sabedoria. Trata-se de uma obra βilosóβica de Marco Túlio Cícero, escrita em meados de 45 a.C., sob a forma de diálogo ou debates distribuídos em cinco temas/ dias/livros, como se pode ler na abertura do Livro V: 8 • Marcos Túlio Cícero Quintus hic dies, Brute, ϔ inem faciet Tusculanarum dis- putationum, quo die est a nobis ea de re, quam tu, ex omnibus maxime probas, disputatum [...] virtutem ad beate vivendum se ipsa esse contentam. Cic. Tusc. Disp., V, I, 1 Este quinto dia, Bruto, dará um fecho às discussões tus- culanas, dia em que foi por nós discutido aquele assun- to que tu aprecias muito mais que os outros. [...] que a virtude, para se viver feliz, se satisfaz a si mesma. O eixo temático ou a res é sempre a Filosoβia: trata-se pois de discussões acadêmicas, diríamos de cunho retórico, mas cada um dos cinco dias tem um tema, encerrando-se, no caso do Livro V, com o tema da virtude como único caminho para a felicidade. Nos quatro livros anteriores, Cícero, como reβlexão a que os próprios reveses da vida o tinham levado – estamos no ano 45 a.C.e ele, com 61 anos de idade –, busca mostrar como a Filosoβia é o “remédio para todos os males”, libertando-nos do medo da morte, da dor, da aβlição e das perturbações, abrindo caminho para a felicidade e a virtude – ad rectam vivendi viam São cinco os temas propostos para cada “dia” de dis- putatio : Livro I: Malum mihi videtur esse mors (Cic . Tusc. Disp. , I, V. 9), isto é, o tema da morte como um mal, que pode ser assim resolvido, em síntese, no βinal: Pois não fomos criados e engendrados temerariamen- te nem por acaso, mas seguramente houve certa força que cuidasse do gênero humano, que não o gerasse e alimentasse, porque, tendo suportado inteiramente to- dos os trabalhos, cairia então no mal eterno da morte: consideremo-la de preferên cia um porto e um refúgio preparado para nós. Discussões tusculanas • 9 non enim temere nec fortuito sati et creati sumus, sed profecto fuit quaedam vis, quae generi consuleret hu- mano nec id gigneret aut aleret, quod cum exanclavis- set omnes labores, tum incideret in mortis malum sem- piternum: portum potius paratum nobis et perfugium putemus. (Cic . Tusc. Disp. , I, XLIX, 118) Livro II: Dolorem existimo maximum malorum omni- um (Cic . Tusc. Disp. , II, [V],14), ou seja, o tema desse livro é o mal da dor, e, debate feito, pode-se concluir: Mas se βizermos tudo para fugir da desonra e alcançar a honestidade, teremos o direito de menosprezar não só as ferroadas da dor, como também os relâmpagos da sorte, particularmente quando aquele refúgio esti- ver preparado pela discussão da véspera. Nam si omnia fugiendae turpitudinis adipiscendaeque honestatis causa faciemus, non modo stimulos doloris, sed etiam fulmina fortunae contemnamus licebit, praesertim cum paratum sit illud ex hesterna disputatione perfugium. Cic . Tusc. Disp. , II, [XXVII], 66 Livro III: O livro III tem por tema as aβlições da alma, as- sim exposto pelo interlocutor no exórdio: Videtur mihi cadere in sapientem aegritudo . (Cic . Tusc. Disp. , III, IV, 7), ao que Cícero logo acresce: Humanum id quidem, quod ita existumas. Non enim e silice nati sumus, sed est natura in animis tenerum quid- dam atque molle, quod aegritudine quasi tempestate quatiatur ( Cic . Tusc. Disp. , III, VI, 12), assim traduzido por Bassetto: Entretanto, é humano que assim penses. Pois não nas- cemos da pedra, mas existe por natureza nos espíritos algo tenro e delicado, que é sacudido pela enfermida- de como pela tormenta. 10 • Marcos Túlio Cícero Partindo dessa grande sensibilidade ante a dor huma- na, haurida tão amargamente pelo sexagenário Cícero, que logo adiante, citando Crantor, completa ́ Nam istuc nihil dol- ere non sine magna mercede contingit inmanitatis in animo, stuporis in corpore. ́ (“Pois, isso de não sentir nenhuma dor não acontece sem prejuízo da grandeza do espírito e sem entorpecimento do corpo.”). Após o debate, pode-se inferir como conclusão este excerto: et tamen, ut medici toto corpore curando minimae eti- am parti, si condoluit, medentur, sic philosophia cum universam aegritudinem sustulit, etiam, si quis error alicunde, extitit, si paupertas momordit, si ignominia pupugit, si quid tenebrarum obfudit exilium, aut eorum quae modo dixi si quid extitit. (Cic . Tusc. Disp. , III, XXXIV, 82). entretanto, como os médicos medicam mesmo as me- nores partes, caso também doam, ao tratar do corpo todo, do mesmo modo a βilosoβia, ao eliminar toda espécie de dor, elimina também caso qualquer desvio de algum lugar tenha subsistido, caso a pobreza tenha dado suas mordidas, caso a desonra tenha sido pun- gente, caso algum exílio tenha envolvido de trevas, ou se algo restou daquilo que acabei de mencionar. Livro IV: Non mihi videtur omni animi perturbatione posse sapiens vacare / “Não me parece que o sábio possa es- tar livre de toda perturbação do espírito”. (Cic . Tusc. Disp. , IV, IV, 8). O tema proposto para este debate são as perturbações da alma, as paixões e os desejos, que não podem caber no espírito do Sábio. Observe-se o que conclui, confrontando o original ciceroniano e a tradução de Bassetto: Discussões tusculanas • 11 Sed et aegritudinis et reliquorum animi morborum una sanatio est, omnis opinabilis esse et voluntarios ea reque suscipi, quod ita rectum esse videatur. Hunc errorem quasi radicem malorum omnium stirpitus philosophia se extracturam pollicetur. [84] Demus igitur nos huic excolendos patiamurque nos sanari. His enim malis insidentibus non modo beati, sed ne sani quidem esse possumus. Aut igitur negemus quic- quam ratione con ϔ ici, cum contra nihil sine ratione recte ϔ ieri possit, aut, cum philosohia ex rationum conlatione constet, ab ea, si et boni et beati volumus esse, omnia adiumenta et auxilia petamus bene beateque vivendi. ( Cic . Tusc. Disp. , IV, XXXVIII, 83-84) Há, porém, uma única cura tanto da dor como das de- mais doenças do espírito: todas são conjecturais e vo- luntárias e sob esse aspecto são aceitas, de modo que assim pareça correto. A βilosoβia promete extirpar ra- dicalmente esse desvio como a raiz de todos os males. 84. Portanto, entreguemo-nos a ela para nos aperfei- çoarmos e consintamos em sermos curados. Pois, com esses males inatos, não podemos ser não só felizes, mas nem sequer saudáveis. Neguemos então ou que algo seja feito com razão porque, contrariamente, nada pode ser feito de modo correto sem a razão, ou porque a βiloso- βia o comprove por um conjunto de argumentos, solici- temos a ela todos os suportes e auxílios de viver bem e com felicidade, caso queiramos ser bons e felizes. Finalmente, no livro V, a quaestio ou res , à moda de conclusão, dando o fecho à sequência de males que, como se provou nos debates anteriores, em nada abalarão a constân- cia do Sábio, por ser ele o possuidor da Virtus . Insiste o in- 12 • Marcos Túlio Cícero terlocutor: – Non mihi videtur ad beate vivendum satis posse virtutem. , ou seja, “– Não me parece que a virtude possa ser suβiciente para se viver com felicidade.” (V, V, 12). Este ex- certo parece sintetizar a posição do Autor: Itaque eam tergiversari non sinent secumque rapient, ad quemcumque ipsae dolorem cruciatumque ducen- tur. Sapientis est enim proprium nihil quod paenitere possit facere, nihil invitum, splendide constanter gra- viter honeste omnia, nihil ita exspectare quasi certo fu- turum, nihil, cum acciderit, admirari, ut inopinatum ac novum accidisse videatur, omnia ad suum arbitrium re- ferre, suis stare iudiciis. Quo quid sit beatius, mihi certe in mentem venire non potest (Cic . Tusc. Disp. , V, XXVIII, 81) Por isso, as virtudes não permitirão dar as costas à vida feliz e a arrastarão consigo para qualquer dor ou tormento a que elas mesmas forem levadas. Pois é próprio do sábio nada fazer de que ele possa se arrepender, nada contra sua vontade, fazer tudo de modo brilhante, perseverante e sério, e assim nada de futuro esperar como certo, ficar surpreso com nada que acontecer, de modo que pareça ter acon- tecido algo inesperado e novo, submeter tudo ao julgamento próprio e manter suas avaliações. O que seja mais feliz que isso, sem dúvida não me pode vir à mente. O Grupo de Pesquisa LATIVM – Latim e Estudos Diacrônicos quis oferecer para os estudiosos da Filosoβia, sobretudo, a oportunidade de estudar Cícero o tão próximo quanto possível da versão original. O Prof. Bassetto, vice- líder desse Grupo, apresenta-nos essa versão primorosa para ser constantemente confrontada com a versão latina. Discussões tusculanas • 13 Primou pela busca da βidedignidade ao original, para que os estudiosos possam debruçar-se no que o “βilósofo romano” Cícero tem a contribuir com a História da Filosoβia. Costuma-se atribuir a Roma o papel de transmisso- ra da cultura grega, muitas vezes sem destacar o seu con- tributo para o fomento e divulgação tão fundamentais no que conhecemos por Ocidente. Se foi o Grego que “domi- nou seu vencedor e introduziu as artes no agreste Lácio”, como diz Horácio, há que relevar-se que Roma construiu suas próprias Artes, a sua própria Filosofia “que as man- têm”, e alfabetizou o Ocidente com sua língua veicular de toda uma tradição greco-helenística e judaico-cristã, não apenas impedindo que as relíquias do passado se perdes- sem, mas especialmente exibindo e disseminando o que ela produziu e continuou a recriar no longo período clás- sico humanístico que se estendeu pelo menos até o século XVIII. Foi o Latim, com seu acervo, que alimentou as esco- las nascentes nas auras monásticas, palacianas ou epis- copais, a ponto de em poucos séculos transformarem-se em universidades a pontilharem por toda a a Europa, pro- piciando o surgimento dos “tempos modernos”, com suas novas ciências, com sua vasta produção artístico-literária, seja na língua de Cícero, seja em múltiplos “ volgari elo- quenti ”, que viriam a arvorar-se em línguas modernas, no momento em que souberam tornar-se veiculares dessa vasta herança linguístico-cultural. Mas teria Roma de fato criado sua Filosofia? O ob- jetivo que o sexagenário Cícero expressa logo no citado primeiro parágrafo – " meum semper iudicium fuit omnia nostros aut invenisse per se sapientius quam Graecos aut accepta ab illis fecisse meliora" – teria sido atingido? Muito já se escreveu sobre o papel eclético de Cícero e muito já se vem revendo sobre a sua verdadeira contribuição. Retoma ele as escolas gregas, categoricamente invectiva contra os adeptos de Epicuro, fala muito bem dos Acadêmicos, ado- 14 • Marcos Túlio Cícero ta em boa parte o que propõem os Estoicos, mas o que de fato “ fecisse meliora ” e sapientius ? A presente versão das Tusculanarum Disputationum Libri V permitirá aos acadêmicos e docentes da Filosoβia res- ponder a essas e outras tantas questões. Temas tão candentes, como a morte e a imortalidade da alma, a dor βísica, as aβlições e as perturbações da alma, a virtude e a felicidade têm sido ob- jeto de pesquisa e de debate no correr dos séculos. Muito mais terá Cícero a contribuir nessa cadeia temática, com seus livros βilosóβicos dos anos 45 e 44, De natura deorum , Academica , De ϔ inibus bonorum et malorum , apenas para citar alguns dentre os vários que, para cumprir um desejo “longamente adiado”, agora, nos anos βinais de sua vida, leva a cabo, e que continu- am a ser um legado fundamental para a Filosoβia. A apresentação a latere das versões latina e portugue- sa permitirá continuamente uma ida às fontes para beber a ideia em sua genuinidade. Permitirá também aos estudiosos da Língua Latina a leitura da verdadeira prosa clássica latina, como forma de aprofundar cada vez mais o conhecimento da estrutura morfossintática, tão bem estruturada, mas de uma complexidade tão impactante à primeira vista. A tradução do Prof. Bruno, o mais próxima possível do original ciceroniano, servirá de guia e apoio para aprender o Latim lendo e enten- dendo a modelar prosa clássica. E quem lê Cícero, mais facil- mente poderá estudar, indo aos textos, a imensa obra legada nessa língua pelos mais de vinte séculos posteriores. Serão muitas as abordagens de textos latinos que permitirão a (re) leitura de tantos autores e livros da Literatura, da Gramática, da Filosoβia, da História, do Direito, da Botânica e praticamen- te de todas as áreas e subáreas do saber, seja dos tempos do Império Romano, seja no Período Medieval, na Renascença ou no Neoclassicismo, até mesmo nos últimos séculos. A presente tradução das Tusculanae Disputationes sem dúvida representará um marco nos estudos da Filosoβia Romana, como elo de continuidade entre o legado primor- Discussões tusculanas • 15 dial da Grécia e a Idade Média. Trata-se de restabelecer uma ponte a ligar o passado helênico e o dito Renascimento, que muitas vezes subestimou esse elo de continuidade histórica. João Bortolanza DISCUSSÕES TUSCULANAS 18 • Marcos Túlio Cícero LIBER PRIMVS I. [1] Cum defensionum laboribus senatoriisque muneribus aut omnino aut magna ex parte essem aliquando liberatus, rettuli me, Brute, te hortante maxime ad ea studia, quae retenta animo, remissa temporibus, longo intervallo intermissa revocavi, et cum omnium artium, quae ad rectam vivendi viam pertinerent, ratio et disciplina studio sapientiae, quae philosophia dicitur, contineretur, hoc mihi Latinis litteris inlustrandum putavi, non quia philosophia Graecis et litteris et doctoribus percipi non posset, sed meum semper iudicium fuit omnia nostros aut invenisse per se sapientius quam Graecos aut accepta ab illis fecisse meliora, quae quidem digna statuissent, in quibus elaborarent. 2 Nam mores et instituta vitae resque domesticas ac familiaris nos profecto et melius tuemur et lautius, rem vero publicam nostri maiores certe melioribus temperaverunt et institutis et legibus. quid loquar de re militari? in qua cum virtute nostri multum valuerunt, tum plus etiam disciplina. iam illa, quae natura, non litteris adsecuti sunt, neque cum Graecia neque ulla cum gente sunt conferenda. quae enim tanta gravitas, quae tanta constantia, magnitudo animi, probitas, βides, quae tam excellens in omni genere virtus in ullis fuit, ut sit cum maioribus nostris comparanda?