9 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 - Teorias utilizadas na pesquisa ………………………………………..… 45 10 LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 - Quantos animais estão sob sua responsabilidade ………...................43 GRÁFICO 2 - Qual a espécie do animal ………………………....………….................44 GRÁFICO 3 - Como adquiriu o(s) seu(s) animal(is)...................................................45 GRÁFICO 4 - Que tipo de ambiente seu animal vive……………………....……..…...46 GRÁFICO 5 - Se mantém o animal preso, passeia com ele todos os dias……….....47 GRÁFICO 6 - Seu animal já foi ao Veterinário……………………………...…….…....48 GRÁFICO 7 - Seu animal toma vacina…………………………………………….…...49 GRÁFICO 8 - O que são Zoonoses………………………………………………...…...50 GRÁFICO 9 - O que significa o termo guarda responsável……………………….....51 GRÁFICO 10 - Você costuma ver com frequência animais abandonados na rua……...............................................................................................................….....52 GRÁFICO 11 - O que você faz ao ver um animal abandonado ou sofrendo maus tratos………………………………………………………………………….……………...53 GRÁFICO 12 - Você conhece algum telefone para denunciar o abandono e os maus trato de animais………..……………………………………………....……....................54 11 LISTA DE SIGLAS CBEE - Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas CCZ - Centro de Controle de Zoonoses CHIKV - Chikungunya CPF - Cadastro de Pessoa Física DEET - Dietiltoluamida FUNASA - Fundação Nacional de Saúde IPEA - Instituto de Pesquisa Ecologia Aplicada LVA - Leishmaniose Visceral Americana OMS - Organização Mundial de Saúde ONG - Organização Não Governamental SUS - Sistema Único de Saúde UFLA - Universidade Federal de Lavras UVZ - Unidade de Vigilância de Zoonoses 12 SUMÁRIO INTRODUÇÃO……………………………………………………………………………...14 1. ABANDONO E NEGLIGÊNCIA DE ANIMAIS……………………………………….15 1.1 Adoção do Anima……………………………………………………………………....15 1.2 Motivos que levam a família a negligenciar o animal ……………………..……….16 1.2.1 O papel do estado na questão do abandono de animais…………………....17 1.3 Consequências emocionais do abandono dos animais…………………………...19 2. CONSEQUÊNCIAS DO ABANDONO DE ANIMAIS À SOCIEDADE……………...21 2.1 Zoonoses: conceituação……………………………………………………………….21 2.1.1 Exemplos de zoonoses………............………………………………………...22 2.1.2 Zoonoses no Brasil……………………………………………………………...30 2.1.3 Relação com abandono de animais…………………………………………...36 2.2 Acidentes Automobilísticos……………………………………………………………38 2.3 Demanda de abrigos…………………………………………………………………..39 3 PLANO DE INVESTIGAÇÃO…………………………………………………………..40 3.1 Problema de Pesquisa………………………………………………………………...40 3.1.1 Objetivo geral……………………………………………………………………...40 3.1.2 Objetivos Específicos…………………………………………………………...40 3.2 Instrumentos de pesquisa e metodologia..………………………………………….40 3.3 Caracterizações dos participantes….……………………………………….……….41 3.4 Procedimento de coleta de dados……...…………………………………………....41 13 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DE RESULTADOS…………………………….......42 4.1 Quadros com as teorias utilizadas na pesquisa………………………………..........42 4.2 Apresentações do Questionário...........................................................................43 CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………………………........56 REFERÊNCIAS………………………………………………………………………….....58 APÊNDICE…………………………………………………………………………………..61 0 14 INTRODUÇÃO O objetivo do presente trabalho é analisar os principais motivos que levam ao abandono e negligência de animais, bem como as consequências que isto pode trazer tanto para saúde física e emocional do animal, quanto para a sociedade. O principal fator que leva ao abandono é o despreparo das famílias ao adotar um animal, em relação aos cuidados necessários durante toda a vida deste, e do estado na falta de regulamentação do crescimento populacional de animais, principalmente de companhia. Entre as consequências que o abandono de animais pode gerar estão: sentimento de insegurança e comportamento agressivo no animal, acidentes de trânsito, e superlotação de abrigos. O dano maior está na área da saúde pública, pois com o abandono de animais a ocorrência de casos de zoonoses no Brasil é cada vez maior. Nos dias atuais, as zoonoses e a doenças transmissíveis comuns ao homens e animais tem sido objeto de maior atenção em todo mundo. Os mudanças sociais e demográficas têm intensificado a importância de adquirir e difundir o conhecimento sobre zoonose. O presente trabalho está organizado de maneira que, no primeiro capítulo serão apresentados as consequências emocionais e físicas para o animal, já no segundo capítulo, são relacionados o impacto do abandono para a sociedade. Com a finalidade de apresentar o problema de pesquisa, bem com os objetivos gerais e específicos, instrumento de pesquisa, caracterização dos participantes e o procedimento para a coleta de dados, será apresentado o capítulo três, “Plano de Investigação”. No capítulo quatro, “Apresentação e análise de resultados”, serão apresentados os resultados da pesquisa e associados às teorias utilizadas nos capítulos teóricos. Por fim, no capítulo cinco intitulado “Considerações finais”, tem como propósito responder o problema de pesquisa e objetivos com base nos resultados da pesquisa e na associação com as teorias utilizadas no desenvolvimento do trabalho. 15 1 ABANDONO E NEGLIGÊNCIA DE ANIMAIS Neste capítulo serão apresentados dados sobre adoção de animais, os motivos que levam a família ou estado a negligenciá-los e as consequências posteriores ao abandono para os animais. 1.1 Adoção do animal Uma proposta, aprovada na Assembleia Legislativa no início de julho de 2018 e sancionada pelo governador do Estado, obriga os pet shops, as clínicas e os hospitais veterinários a colocarem cartazes que incentivam a adoção de animais. O cartaz deverá ser de forma clara e visível à população, com o nome da ONG ou entidade responsável pelo animal, telefone e email para contato e informações de conscientização sobre a importância da guarda responsável. Os animais só poderão ser adotados se estiverem devidamente vacinados e VERMIFUGADOS. "O objetivo da medida é evitar o abandono de cães e gatos" (LANCASTER, 2018). O primeiro requisito para adotar um animal é ter a idade maior ou igual a 21 anos. Sendo assim, para adotar um animal, toda a família deve estar de acordo com a adoção, pois uma desavença ou discordância familiar proveniente da chegada do adotado pode levar a um abandono ou à devolução dele para a ONG1, e isto é um trauma que o animal vai ter durante sua vida. Para formalizar a adoção deverá ser apresentado a cédula de identidade, CPF e o comprovante de residência. Com isso a entidade que está doando o animal acompanhará processo de adoção com maior rigor. Em muitos casos, há a possibilidade de implantar microchips nos animais, o que facilita a localização do adotante caso o animal seja encontrado nas ruas novamente. Outra exigência é que o adotante assine um termo de responsabilidade em relação ao animal, concordando em cuidar e zelar bem por ele. 1 Organização não governamental 16 Ao assinar este documento, o não o cumprimento das regras pode levar o adotante a sofrer as penalidades legais em caso de maus tratos e abandono. A entrevista da pessoa que vai adotar o animal é uma parte muito importante, pois nela é que se sabe se a pessoa vai ter condições de arcar com alimentação, assistência veterinária, adestramento, proteção, entre outros cuidados. A taxa é cobrada por alguns órgãos que realizam a adoção para custear o preço do microchip e o Registro Geral de Animais. Adotar um animal de rua é uma coisa amorosa e solidária, mas antes de realizar tal ação é preciso saber se a família terá condições financeira ou tempo hábil para cuidados necessários, visto que um filhote cresce e pode viver até 12 anos ou mais. Para cuidar dele, implica-se disponibilidade, tempo e dinheiro, pois há custos de vacinação, prevenção à saúde, alimentação, higiene, etc. Caso o indivíduo interessado não possua as condições satisfatórias para a adoção, pode optar pela possibilidade em auxiliar instituições que ajudam e protegem animais (SANTANA, OLIVEIRA, 2006. p.67-104) 1.2 Motivos que levam a família a negligenciar e abandonar animais Em 2003, durante a Primeira Reunião Latino-Americana de Especialistas em Posse Responsável de Animais de Companhia e Controle de Populações Caninas, foi conceituado o termo de guarda responsável obedecendo o entendimento de ativistas de entidades de proteção ao animal, assim denominado guarda responsável (SOUZA, 2003) É a condição na qual o guardião de um animal de companhia aceita e se compromete a assumir uma série de deveres centrados no atendimento das necessidades físicas, psicológicas e ambientais de seu animal, assim como prevenir os riscos (potencial de agressão, transmissão de doenças ou danos a terceiros) que fica seu animal possa causar à comunidade ou ao ambiente, como interpretado pela legislação vigente. De forma simplificada o termo “bem-estar animal” significa assegurar ao animal tutelado todas suas necessidades básicas, assim garantindo uma boa condição de vida. 17 Porém, ao tratar os animais como mercadoria, os expondo em condições precárias - uma prática bem comum entre os comerciantes, a relação de afetividade que deveria existir entre humanos e animais é descaracterizada e pessoas com impulsos consumistas que os adotam ou os compram, após passado esta empolgação inicial, não sabem mais o que fazer com o animal comprado e, como solução mais simples, o fim que muitos deles têm é o abandono - como se fossem apenas uma mercadoria descartável (SANTANA; MARQUES, 2005, p. 548-552). Outro fator que leva ao abandono é o despreparo provido deste impulso. Ao adotar um animal não levando em conta os cuidados necessários tais como o tempo para interação, espaço e custos com a alimentação e saúde é quase certo que o animal não se adapta a rotina da família e será devolvido ao lugar de adoção, e caso o local não o receba de volta, é certo que ocorrerá maus tratos ou abandono, mais uma vez ignorando a dignidade animal, na qualidade de ser que sente, sofre, tem necessidades e direitos (ISHIKURA et al, 2017, p. 23–30). O despejo de animais por motivo de irresponsabilidade dos donos irá trazer consequências mais graves ainda, como o aumento da densidade animal, maior número de ocorrências de zoonoses e danos psicológicos ao animal (SANTANA, OLIVEIRA, 2006, p.67-104). De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que só no Brasil existem mais de 30 milhões de animais abandonados, entre 10 milhões de gatos e 20 milhões de cães. Em cidades do interior, esse número pode chegar a até 1/4 da população (PARRA; BATTAINI, 2017). Vale citar que os maus tratos e o abandono de animais são crimes, como previstos pelo Art. 32, da Lei Federal nº. 9.605 de 1998 (Lei de Crimes Ambientais) e o Art. 164 do Código Penal, que prevê o crime de abandono de animais para aqueles que introduzirem ou deixarem animais em propriedade alheia sem consentimento. 1.2.1 O papel do estado na questão do abandono de animais Há muitos anos o ser humano vem construindo uma relação afetiva entre animais de companhia, como o cão e o gato, considerados “os melhores amigos do 18 homem”, sendo que no Brasil 59% da população possui um cão ou gato como animal de companhia (FARACO; SEMINOTTI, 2003.). Na cidade de São Paulo, 44% dos domicílios apresentam um cão ou gato, que são utilizados como guardas ou animais de estimação (MAGNABOSCO, 2006). Segundo a OMS, os cães de uma comunidade podem ser caracterizados como: supervisionados, restritos e controlados; de família; de vizinhança ou comunidade; e independentes, selvagens ou ferais. Porém a elevada reprodução desses animais, a falta de conhecimento dos donos de suas necessidades afetivas e fisiológicas, o manejo inadequado e os aspectos sociais e culturais, associados à situação socioeconômica da população, contribuem ao abandono e consequentemente ao aumento populacional desses animais na rua. Os animais hoje encontrados nas ruas provavelmente nasceram com um lar, mas acabaram sendo abandonados (CÁRCERES, 2004), e apesar desta questão ser uma preocupação de muitos, as medidas existentes ainda são ineficazes, já que o crescimento desgovernado é maior do que as taxas de controle (PARANHOS, et al; 1996; p.39-44). No Brasil, de acordo com a Lei nº 24.645 de 1934 que estabelece medidas de proteção aos animais, o artigo 1º dispõe que todos os animais são tutelados pelo Estado. Dessa maneira é correto afirmar que os cuidados com animais em situação de rua é um dever do poder público, porém essa medida só é necessária por conta da população desinformada que não mede as consequências que o abandono trará para os animais e para a sociedade, principalmente à saúde pública (PARA; BATTAINI, 2017) Atualmente existe leis baseadas no bem estar animal, como no Município de São Paulo, onde há a Lei Municipal nº 13.131, de 18 de maio de 2001, conhecida como “Lei Trípoli”, que controla o registro, vacinação, guarda, apreensão e destinação de animais, além do controle reprodutivo de cães e gatos e educação para a guarda responsável, ressaltando que o infrator está sujeito a multas (LIMA; LUNA, 2012). Porém, a densidade populacional de animais domésticos, continuará crescendo e as medidas legislativas não serão totalmente eficazes se questões como o abandono e negligência não forem discutidos de uma forma mais ampla, trazendo para centros urbanos e áreas rurais, esta discussão acerca dos direitos que um animal tem, para poder viver com dignidade e sobre adoção consciente. 19 1.3 Consequências emocionais do abandono aos animais Em 2014, foi realizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) um levantamento de donos que abandonam seus animais, entre eles cachorros e gatos, e neste levantamento verificou-se que mais de 30 milhões de animais são abandonados, em grande maioria deles os cachorros, que totalizam cerca de 20 milhões. Já o número de gatos abandonados aproxima-se de 10 milhões. Ocorre que este número, agora, pode ser bem maior pelo que é visto nas vias públicas: são animais que sobrevivem apenas da sorte para encontrar alimento, água, e um lugar pra dormir em dias frios e chuvosos. Segundo pesquisas feitas pela OMS em Araçatuba, no interior do estado de São Paulo, por exemplo, há mais de 35 mil animais; e destes 35 mil, cerca de 2,6 mil estão abandonados. Em Bauru, que possui quase 50 mil cães e gatos, seu centro de zoonoses não soube informar o número de animais abandonados. Uma parcela desses animais consegue encontrar um abrigo administrado por um órgão não governamental. E desses poucos animais que se encaminham às ONG´s, apenas uma pequena parte tem como destino final um lugar onde há moradia fixa e bons cuidados, de 20 cães e gatos que são adotados, 5 voltam para as ONG´s. De acordo com Pamela Durando, conselheira da Proteger, é preciso que as pessoas façam a adoção consciente dos animais. “Já são cães e gatos sofridos, tirados de uma condição triste, vítimas de maus tratos e que foram abandonados. A ONG demanda cuidados até chegar à adoção, mas o que tem acontecido é que as pessoas vão até a feira, adotam e desistem” (DURANDO, 2015). Por causa das devoluções de animais, as ONG´s têm sofrido com a superlotação: os espaços são limitados e quando um animal é adotado, abrem um espaço para outro. Quando eles são devolvidos o prejuízo afeta tanto as ONG´s quanto os animais. Atualmente, as ONG´s abrigam um total de 100 animais, em média, entre cães e gatos. Muitos em lares temporários até chegar a data das feiras de adoção. Mas as casas de abrigo não estão em condições de abrigar todos os animais, ressalta Pamela Durando. Os animais de estimação, que desde filhote estão acostumados a serem cuidados por pessoas, não estão adaptados a viverem sozinhos, já que criam uma dependência perante o ser humano; com essa dependência, quando são 20 abandonados, procuram alguém para cuidar deles e muitas vezes caem em mãos de pessoas cruéis, que os maltratam fazendo com que eles percam a confiança nos humanos. Além disso, a maioria dos animais abandonados, por terem sido criados desde filhotes por pessoas, quando são abandonados têm dificuldade de sobrevivência, pois, sozinhos não conseguem encontrar alimentação, água, abrigo e proteção contra os perigos que as ruas apresentam, como possíveis atropelamentos. O animal em situação de abandono também pode trazer problemas para a saúde pública: animais desprovidos de cuidados e referências ficam expostos a doenças como leptospirose, leishmaniose e raiva, possíveis de serem transmitidas para humanos ou para outros animais. Esses animais nem sempre estão vacinados e castrados, sem controle de reprodução, aumentando o problema de transmissão de doenças e o número de animais nas ruas, sem cuidados ou proteção. Outro aspecto importante é o impacto nas populações de animais silvestres locais. Cães e gatos abandonados caçam para se alimentar, podendo levar à diminuição da fauna dos parques, além de, também, ameaçar os animais silvestres com doenças transmissíveis. Ainda, há de se levar em consideração o risco de acidentes com lesões graves e até fatais causados por animais abandonados, principalmente envolvendo veículos nas vias públicas. Destaca-se, também, que abandono é uma das piores formas de agressão a um animal, podendo ser enquadrado como crime de maus-tratos, previsto na Lei Federal nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais), passível de detenção de 12 meses e multa, e a pena pode ser aumentada em caso de morte do animal. Neste capítulo foram apresentadas informações sobre a negligência e abandono de animais, como suas causas e consequências ao animal. No próximo capítulo serão apresentadas as consequências do abandono à sociedade, além de ser estabelecida uma relação mais aprofundada entre abandono de animais e zoonoses. 21 2 CONSEQUÊNCIAS DO ABANDONO DE ANIMAIS À SOCIEDADE Neste capítulo serão apresentadas as consequências que o abandono de animais pode trazer à sociedade, como acidentes automobilísticos, a alta demanda de abrigos que os órgãos públicos não conseguem atender, além dos riscos à saúde pública com a disseminação de zoonoses. 2.1 Zoonoses: conceituação O termo zoonose é uma palavra de origem grega formada por “zoo”, que significa "animal" e “nose”, que significa "doença". Segundo a definição da OMS zoonoses são “doenças ou infecções naturalmente transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos”, podendo ser transmitidas tanto do homem para o animal, quanto do animal para o homem. Admite-se que as zoonoses ocorram desde os tempos pré-históricos da humanidade; no entanto é no período neolítico, a partir de oito mil anos antes de Cristo, que as condições favoráveis para transmissão de agentes de doenças transmissíveis entre animais vertebrados e seres humanos se ampliaram, pois foi nesta época que se iniciou o desenvolvimento da agricultura, a domesticação dos animais, além da organização do começo de uma vida urbanizada em aldeias (SILVIO2). Com a urbanização global avançando nos dias atuais, a disseminação de zoonoses vem sendo cada vez maior, pois animais e humanos nunca estiveram tão próximos quanto agora. A invasão de espaços com uma fauna desconhecida, a facilidade e velocidade em viajar, o comércio e a migração animal também contribuem para a propagação de doenças antes limitadas a zonas geográficas específicas (ACHA; SZYFRES, 2003) As zoonoses, além de afetarem a saúde pública, interferem negativamente na economia (ACHA; SZYFRES, 2003) Sua repercussão econômica se observa na produtividade laboral perdida por doença; a diminuição do número de viagens e turismo nas 2 https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/337876/mod_folder/content/0/zoonoses%20conceitos.pdf?for cedownload=1. 22 zonas afetadas; a redução da riqueza pecuária e na produção de alimentos; a morte e eliminação dos animais infectados e as restrições impostas ao comércio internacional. As zoonoses podem causar grandes prejuízos a economia de um país, provocando um impacto negativo na saúde da população. 2.1.1 Exemplos de zoonoses Neste capítulo serão apresentadas informações acerca do assunto de zoonoses, bem como exemplos e sintomas das doenças no homem e no animal. As informações foram baseadas em dados fornecidos pelo Ministério da Saúde e por Acha; Szyfres(1986). Mais de 200 zoonoses são conhecidas, sendo causa de considerável morbidade e mortalidade em grupos demográficos vulneráveis, especialmente crianças, idosos e trabalhadores ligados às áreas da saúde pública e veterinária. As zoonoses monitoradas por programas nacionais de vigilância e controle do Ministério da Saúde são: peste, leptospirose, febre maculosa brasileira, hantavirose, doença de Chagas, febre amarela, febre de chikungunya e febre do Nilo Ocidental.3 A) PESTE: A peste é uma doença infecciosa aguda, transmitida principalmente por picada de pulga infectada, e tem três formas principais: bubônica, septicêmica e pneumônica. Têm basicamente as mesmas características, apenas se diferenciando na transmissão e os sintomas. Sendo a peste Bubônica a mais comum no Brasil, a pneumônica secundária à peste bubônica ou septicêmica e a septicêmica aparecendo na fase terminal da peste bubônica não tratada. A peste bubônica afeta as glândulas linfáticas, causando inchaço e inflamação nessas áreas. A peste septicêmica ocorre quando a infecção se espalha para o sistema circulatório, ou seja, para o sangue. No geral ela ocorre como uma complicação da peste bubônica, uma vez que a bactéria 3 Manual de vigilância, prevenção e controle de zoonoses, 2016, p.8 23 pode sair do sistema linfático e atingir o sangue. Se a bactéria atinge os pulmões, no geral pelo sangue, o paciente desenvolve peste pneumônica, que é transmitida de pessoa para pessoa. AGENTE ETIOLÓGICO: bactéria gram-negativa Yersinia pestis TRANSMISSÃO: Bubônica- picada de pulgas infectadas. Pneumônica- tem maior transmissibilidade entre as três, é transmitida de pessoa para pessoa por meio de objetos infectados com muco ou pelo ar. Septicêmica- picada de pulgas infectadas. SINTOMAS: Bubônica- calafrios, cefaleia intensa, febre alta, dores generalizadas, mialgias, anorexia, náuseas, vômitos, confusão mental, congestão das conjuntivas, pulso rápido e irregular, taquicardia, hipotensão arterial, prostração e mal- estar geral. Pneumônica- Quadro clínico de evolução rápida, com febre repentina, calafrios, arritmia, hipotensão, náuseas, vômitos, a princípio, os sinais e sintomas pulmonares são discretos e ausentes. Septicêmica- O início é fulminante, com febre elevada, pulso rápido, hipotensão arterial, fraqueza, dificuldade em respirar, dificuldade de falar, hemorragias cutâneas, às vezes mucosas e até nos órgãos internos. DIAGNÓSTICO: Exame e cultura de amostras de sangue, escarro ou pus PREVENÇÃO: Retirar tudo o que possa atrair roedores (como galhos, rochas empilhadas, lixo, lenha amontoada e alimentos) ao redor da casa; Usar luvas ao manusear animais que possam estar infectados (por exemplo, ao retirar a pele de um animal); Usar repelentes, como DEET (dietiltoluamida) quando houver possível exposição a pulgas de roedores (por exemplo, durante acampamentos, caminhadas ou ao trabalhar ao ar livre); Aplicar produtos que controlem pulgas em animais 24 domésticos; Se os animais domésticos circularem por áreas externas em que haja peste, não deixá-los dormir na cama de uma pessoa; Evitar contato com roedores silvestres e suas pulgas; Evitar contato com animais sinantrópicos4,pois eles podem estar infestados por pulgas infectadas. TRATAMENTO: Estreptomicina ou outro antibiótico B) LEPTOSPIROSE: AGENTE ETIOLÓGICO: Leptospira interrogans. TRANSMISSÃO: É uma doença infecciosa transmitida ao homem pela urina de roedores, principalmente por ocasião das enchentes. A doença é causada por uma bactéria chamada Leptospira, presente na urina de ratos e outros animais (bois, porcos, cavalos, cabras, ovelhas e cães também podem adoecer e, eventualmente, transmitir a leptospirose ao homem). Durante as enchentes, a urina dos ratos, presente nos esgotos e bueiros, mistura-se à enxurrada e à lama. Qualquer pessoa que tiver contato com a água ou lama pode infectar-se. As leptospiras penetram no corpo pela pele, principalmente por arranhões ou ferimentos, e também pela pele íntegra, imersa por longos períodos na água ou lama contaminada. O contato com esgotos, lagoas, rios e terrenos baldios também pode propiciar a infecção. SINTOMAS NOS ANIMAIS: em roedores, a doença dificilmente apresenta sintomas. em cães, a infecção pode variar de a não apresentação de sintomas a quadros clínicos graves. A forma mais grave é a hemorrágica, que se instala repentinamente com febre por 3 a 4 dias, seguida por rigidez nos membros posteriores, hemorragias na cavidade bucal com propensão a necrose e faringite. O próximo estágio pode apresentar gastroenterite hemorrágica e nefrite aguda. SINTOMAS NO HOMEM: Os sintomas no homem são muito variáveis, desde casos leves, que quase não apresentam sintomas, a casos mais graves com cefaleia, febre, vômitos, mal-estar geral, às vezes, meningite, encefalite e, em casos raros, até a morte se a doença progredir sem diagnóstico. DIAGNÓSTICO: O método laboratorial escolhido depende da fase evolutiva em que se encontra o paciente. Na fase precoce, as leptospiras podem ser visualizadas 4 Animais sinantrópicos são aqueles que se adaptaram a viver junto ao homem, ainda que sem sua vontade. Exemplos são:abelhas, aranhas, baratas, pombos, carrapatos,etc. São animais que podem transmitir doenças e/ou causar agravos à saúde do homem. 25 no sangue por meio de exame direto. Na fase tardia, as leptospiras podem ser encontradas na urina, cultivadas ou inoculadas. Os métodos sorológicos são muito escolhidos para o diagnóstico da leptospirose. Os mais utilizados no país são o teste ELISA-IgM e a microaglutinação (MAT). PREVENÇÃO: Obras de saneamento básico (drenagem de águas paradas suspeitas de contaminação), Controle de roedores - destino adequado do lixo, armazenamento apropriado de alimentos, desinfecção e vedação de caixas d´água, utilização, por parte dos funcionários, de proteção adequada. TRATAMENTO: Antibioticoterapia (uso de antibióticos) C) FEBRE MACULOSA BRASILEIRA: AGENTE ETIOLÓGICO: bactéria Rickettsia rickettsii. TRANSMISSÃO: doença infecciosa, febril aguda e de gravidade variável, a transmissão da Febre Maculosa, em seres humanos, é basicamente por meio da picada do carrapato infectado pela bactéria causadora da doença. No Brasil, a maior parte dos casos de Febre Maculosa ocorre na região sudeste e os animais que geralmente são hospedeiros desse tipo de carrapato são a capivara e o cavalo. SINTOMAS NO HOMEM: Febre acima de 39ºC e calafrios, de início súbito, Dor de cabeça intensa, Náuseas e vômitos, Diarreia e dor abdominal, dor muscular constante, inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés, gangrena nos dedos e orelhas, paralisia dos membros que inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões causando parada respiratória. A morte é pouco comum, quando se aplica o tratamento precocemente. DIAGNÓSTICO: Através de Hemograma: observa-se alteração no padrão das células sanguíneas como anemia, diminuição de plaquetas, enzimas: algumas enzimas do corpo podem estar aumentadas, demonstrando indício de alguma infecção. PREVENÇÃO: Usar calças, botas e blusas com mangas compridas ao caminhar em áreas arborizadas e gramadas, evitar andar em locais com grama ou vegetação alta, usar repelentes de insetos: atualmente já existem repelentes contra carrapatos no mercado, verificar se você e seus animais de estimação estão com carrapatos: após três horas de exposição a áreas de risco é preciso verificar se há a presença de algum carrapato no corpo. Após esse período, o inseto já terá transmitido a bactéria para a pessoa, remover um carrapato com uma pinça: pegue com cuidado 26 o carrapato. Não aperte ou esmague o carrapato, mas puxe com cuidado e firmeza. Depois de remover o carrapato inteiro, lave a área da mordida com álcool ou sabão e água. TRATAMENTO: Antibióticos específicos D) HANTAVIROSE: AGENTE ETIOLÓGICO: vírus RNA; família Bunyaviridae. TRANSMISSÃO: os ratos silvestres são os hospedeiros naturais do Hantavírus. O homem é infectado ao inalar a poeira formada a partir do ressecamento da urina e das fezes dos roedores. SINTOMAS NOS ANIMAIS: os ratos silvestres são portadores assintomáticos (não apresentam sintomas), podendo apresentar grande perigo caso haja contaminação principalmente em colônias de ratos e camundongos. SINTOMAS NO HOMEM: os primeiros sintomas da infecção por Hantavírus se assemelham aos da influenza: febre, dores musculares, cefaleia, náuseas, vômitos, calafrios e tonturas. Nos casos mais graves, o doente sofre hemorragia e insuficiência renal ou pulmonar. Em cerca de 5 dias, mais de 50% das vítimas morrem. DIAGNÓSTICO: isolamento do vírus. PREVENÇÃO: impedir a presença de roedores silvestres nos biotérios (local onde são criados e mantidos animais vivos de qualquer espécie para estudo laboratorial) utilização, por parte dos funcionários, de proteção adequada. TRATAMENTO: Não existe um tratamento específico. E) DOENÇA DE CHAGAS: AGENTE ETIOLÓGICO: protozoário Trypanosoma cruzi. TRANSMISSÃO: É transmitida pelo protozoário Trypanosoma cruzi tanto para humanos, quanto para outros mamíferos. Pode ocorrer por via oral, ou ainda pela ingestão de vetores infectados com o T. cruzi. As transmissões por via transplacentária e por amamentação são menos frequentes, mas também ocorrem. SINTOMAS NOS ANIMAIS: Febre, a adenomegalia, a hepatoesplenomegalia, a conjuntivite unilateral, a miocardite e a meningoencefalite, quando o caso é agudo. Na fase crônica, o animal apresenta fraqueza, intolerância a exercícios, síncope e morte súbita. 27 SINTOMAS NOS HUMANOS: febre prolongada (mais de sete dias), dor de cabeça, fraqueza intensa, inchaço no rosto e pernas. Na fase crônica, a maioria dos casos não apresenta sintomas, porém algumas pessoas podem apresentar: problemas cardíacos, como insuficiência cardíaca, problemas digestivos, como megacólon e megaesôfago. DIAGNÓSTICO: O diagnóstico se baseia na presença dos sintomas, principalmente o inchaço no rosto e pernas, e febre prolongada. PREVENÇÃO: A prevenção da doença de Chagas está fortemente relacionada à forma de transmissão. Uma das formas de controle é evitar que o inseto “barbeiro” forme colônias dentro das residências, por meio da utilização de inseticidas ou mosquiteiros. TRATAMENTO: O remédio, chamado benznidazol, é fornecido pelo Ministério da Saúde, gratuitamente, mediante solicitação das Secretarias Estaduais de Saúde e deve ser utilizado em pessoas que tenham a doença aguda assim que ela for identificada. F) FEBRE AMARELA: Há dois diferentes ciclos epidemiológicos de transmissão: ● silvestre; ● urbano. Apesar desses ciclos diferentes, a febre amarela têm as mesmas características sob o ponto de vista etiológico, clínico, imunológico e fisiopatológico. AGENTE ETIOLÓGICO: Vírus amarílico, arbovírus do gênero Flavivirus e família Flaviviridae TRANSMISSÃO: O vírus da febre amarela é transmitido ao homem e macacos através da picada de fêmeas de mosquitos infectadas. Esses mosquitos são chamados de Haemagogus e Sabethes, vivem em área de mata, principalmente nas copas das árvores. SINTOMAS: Os sintomas iniciais incluem febre súbita, calafrios, dor de cabeça, dor nas costas, dor no corpo, náuseas, vômitos e fraqueza. A maioria das pessoas melhora após os sintomas iniciais. No entanto, cerca de 15% dos casos apresenta um breve período de melhora e, então, desenvolvem uma nova fase mais grave da doença. Nesses casos, a pessoa pode desenvolver febre alta, icterícia (coloração amarelada da pele e do branco dos olhos), hemorragia (especialmente a 28 partir do trato gastrointestinal) e, eventualmente, choque e insuficiência de múltiplos órgãos. De 20 a 50% das pessoas que desenvolvem a forma grave da doença morrem. DIAGNÓSTICO: Confirmação laboratorial dos casos suspeitos. PREVENÇÃO: A melhor forma de evitar é por meio da vacinação, que está disponível nas unidades de saúde. Também se recomenda proteção individual com o uso de roupas de mangas compridas, repelentes e mosquiteiros. TRATAMENTO: Não há tratamento específico para a doença. IMAGEM 1: ciclos epidemiológicos silvestre e urbano de transmissão. Fonte: Ministério da saúde, 2017 G) FEBRE DE CHIKUNGUNYA: AGENTE ETIOLÓGICO: Vírus chikungunya (CHIKV) TRANSMISSÃO: Transmitida pela picada do mosquito Aedes Aegypti. Por ter uma transmissão bastante rápida, é necessário ficar atento a possíveis criadouros do mosquito e, assim, eliminar estes locais para evitar a propagação da doença. SINTOMAS: A infecção por Chikungunya começa com febre, dor de cabeça, mal estar, dores pelo corpo e muita dor nas juntas (joelhos, cotovelos, tornozelos, etc), em geral, dos dois lados, podendo também apresentar, em alguns casos, manchas vermelhas ou bolhas pelo corpo. Cerca de 30% dos casos não chegam a desenvolver sintomas. 29 DIAGNÓSTICO: Exames laboratoriais de sorologia e de biologia molecular. PREVENÇÃO: Assim como a dengue, zika e febre amarela, é fundamental que as pessoas reforcem as medidas de eliminação dos criadouros de mosquitos aedes aegypti nas suas casas, trabalhos e na vizinhança. TRATAMENTO: É feito de acordo com os sintomas, com o uso de analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios para aliviar febre e dores. Não existem vacinas contra a chikungunya. H) FEBRE DO NILO OCIDENTAL AGENTE ETIOLÓGICO: vírus do gênero Flavivirus. TRANSMISSÃO: O vírus da Febre do Nilo Ocidental é transmitido por meio da picada de mosquitos infectados, principalmente do gênero Culex (pernilongo). Os hospedeiros naturais são algumas espécies de aves silvestres, que atuam como amplificadores do vírus e como fonte de infecção para os mosquitos. Também pode infectar humanos, equinos, primatas e outros mamíferos. O homem e os equídeos são considerados hospedeiros acidentais e terminais, já que a contaminação do vírus se dá por pouco tempo e em níveis insuficientes para infectar mosquitos, encerrando o ciclo de transmissão. SINTOMAS NOS ANIMAIS: As aves como são hospedeiros naturais podem ou não apresentar quadros clínicos da doença. As aves que são sensíveis aos sintomas, apresentam: sintomas de depressão, anorexia e consequentemente perda de peso, sono excessivo e leucocitose, tremores de cabeça, cegueira, demência, ataxia, perda da consciência a sua volta e fraqueza nas patas (BRUNO e COELHO, 2005). Já os equinos apresentam sintomas como: ataxia, perda de apetite, depressão, perda de equilíbrio contração muscular, paralisia facial, diminuição da visão, enrijecimento no pescoço, marcha confusa, convulsões, voltas em círculos e incapacidade para ingerir (OSTLUND, et al, 2000; OSTLUND, et al, 2001; OIE, 2008). SINTOMAS NO HOMEM: Estima-se que 20% dos indivíduos infectados pelo vírus da Febre do Nilo Ocidental desenvolvam sintomas leves ou nem apresentem sintomas. A forma leve da doença apresenta sintomas como: febre aguda de início abrupto, frequentemente acompanhada de mal-estar, anorexia, náusea vômito, dor nos olhos, dor de cabeça, e dor muscular. DIAGNÓSTICO: Detecção de anticorpos IgM contra o vírus do Nilo Ocidental em soro 30 PREVENÇÃO: Não existem formas efetivas de se prevenir a Febre do Nilo Ocidental, exceto evitar a presença de insetos nas áreas onde vivem os seres humanos. TRATAMENTO: Não existe vacina ou tratamento antiviral específico para a Febre do Nilo Ocidental. O tratamento é sintomático para redução da febre e outros sintomas. IMAGEM 2: Ciclo de transmissão da febre do Nilo Ocidental Fonte: Ministério da saúde, 2017. 2.1.2 Zoonoses no Brasil Desde o início do século passado, unidades responsáveis pela execução das atividades de controle de zoonoses vêm sendo estruturadas no Brasil, a partir da criação dos primeiros canis públicos construídos nas principais capitais. As atividades dessas unidades foram aos poucos sendo ampliadas, a partir do início da década de 1970, com a criação dos primeiros Centros de Controle de Zoonoses (CCZ), que tinham suas ações voltadas para o recolhimento, a vacinação e a eutanásia de cães, com vista ao controle da raiva (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016, p.8). 31 Com o passar dos anos, outros programas de saúde pública foram sendo incorporados à rotina operacional dessas unidades, como entomologia, controle de roedores, de animais peçonhentos e de vetores, sendo este último favorecido pela descentralização das atividades de controle de endemias, até então trabalhadas principalmente pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016, p.8). A partir da década de 1990, o Ministério da Saúde estruturou a aplicação de seus recursos para que fosse possível o apoio aos municípios na implantação de unidades de zoonoses integradas ao Sistema Único de Saúde (SUS). Essas unidades estão localizadas principalmente em capitais, regiões metropolitanas, municípios sedes de regionais de saúde, municípios de fronteira e em alguns municípios mais populosos, sendo denominadas de Unidades de Vigilância de Zoonoses (UVZ), conforme a Portaria MS/SAS nº 758, de 26 de agosto de 2014 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016, p.8). As zoonoses estão espalhadas no mundo de acordo com as diversas alterações ambientais, socioeconômicas e culturais. Os casos vêm aumentando gradualmente devido às constantes modificações causadas pelo o homem no ambiente, na maioria das vezes, os casos de doenças estão em regiões onde as populações são carentes, possui hábitos precários de higiene e baixa renda, propiciando um espaço maior para a infecção por agentes patogênicos (LIMA et al., 2017). As doenças zoonóticas mais conhecidas são doenças de chagas, raiva, leishmanioses, leptospirose, febre amarela, dengue e malária, transmitidas por vetores que convivem com humanos através de sinantropia5 (SANGUINETTE, 2015). Uma doença preocupante no Brasil é a Raiva. O vírus da Raiva pertence ao gênero Lyssavirus, da família Rhabdoviridae. É uma doença transmitida ao homem pelo patógeno presente na saliva e secreções do animal infectado, principalmente pela mordida. O morcego é o principal responsável pela manutenção da cadeia silvestre no Brasil, já o cão, em alguns municípios, permanece sendo fonte de contaminação em áreas urbanas (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2011b). Os casos de atendimentos notificados antirrábicos em humanos têm aumentado nos últimos dez 5 Sinantropia: Termo que designa a capacidade de adaptação de animais ao meio urbano, condição essencial à conversão de animais em pragas. 32 anos. Em 2000, foram registrados pelo menos 234 mil atendimentos, no ano de 2009, 440 mil ocorrências, aproximadamente 84% dos atendimentos tiveram exposição a animais domésticos (BABBONI & MODOLO, 2011, p 349-356). Desde a década de 80, o número de casos de raiva tem diminuído devido ao aumento do tratamento após exposição embora haja um número alto de casos de abandono pelos doentes, o paciente não imunizado compromete sua própria sobrevivência (VELOSO et al., 2011). Um animal, principalmente cachorro, ao ser abandonado desenvolve traumas que o levarão a ter comportamentos de insegurança, medo e agressividade, este animal abandonado em áreas urbanas poderá mais facilmente contrair o vírus e transmitir a doença ao humano através da mordida, aumentando cada vez mais os casos de Raiva no Brasil. O ciclo da leishmaniose começa quando o mosquito-palha (um dos nomes populares dados ao flebotomíneo) pica um animal infectado e adquire o protozoário Leishmania. Em seguida, o inseto infectado pode transmitir a doença ao ser humano e a outros animais antes não infectados. O contingente rural concentrava número de casos da enfermidade no passado, mas ela acabou se instalando nas cidades, como consequência da destruição de florestas e do próprio processo de urbanização. Em Mato Grosso do Sul, os casos de leishmaniose visceral humana – a mais perigosa, por afetar os órgãos internos de uma pessoa – eram predominantes nas regiões de fronteira. Isso mudou, segundo o infectologista Maurício Antônio Pompili, que observa o cenário da doença na saúde estadual. “De uns anos para cá, todos os municípios do Estado apresentaram notificações dela”, afirma. O Boletim da Secretaria Estadual de Saúde mostra que 1.605 casos de leishmaniose visceral humana foram registrados entre 2010 e 2017. Nesse mesmo período, 113 pessoas morreram em decorrência da doença. No primeiro semestre do ano de 2018, 69 casos da doença foram verificados somente na Capital, de acordo com a Secretaria Municipal de Saúde. Três óbitos foram confirmados até então, conforme os dados preliminares. Dentre os casos de leishmaniose visceral registrados na América Latina, o Brasil é responsável por 90% dos registros, sendo considerado o terceiro país com maior ocorrência no mundo (FURTADO et al., 2015). Segundo o mesmo autor, entre 1980 e 2008, foram registrados mais de 70 mil casos da doença no Brasil levando mais de 3.800 óbitos, além disso, o Maranhão é o estado com maiores números de casos registrados. 33 Quando afeta uma pessoa, a leishmaniose pode se manifestar como visceral (também chamada de tegumentar) ou cutânea, e tem possibilidade de cura em ambos os casos. Se afeta o animal – nas cidades, o cachorro é o principal alvo –, não tem cura, porém, tratar a doença pode garantir seu bem-estar e evitar que transmita a doença, caso seja picado pelo vetor. O especialista Mauricio Pompili também ressalta a diferença entre os tipos de leishmaniose. “A cutânea é aquela que provoca feridas de difícil cicatrização. A visceral é aquela que atinge os órgãos internos”. Em humanos, normalmente, tudo começa com uma febre. O sintoma pode aparecer em um dia, pular no outro e voltar depois. A pessoa infectada não fica em estado febril contínuo, a princípio. Só depois é que a febre começa a ficar mais constante e outros sintomas, como mal-estar, dor no corpo, perda do apetite e emagrecimento, surgem. Inchaço na barriga, decorrente do aumento do fígado e do baço, pode ser sinal de que a doença se encontra em estágio avançado (Correio do Estado, 2018) No animal, a doença é considerada “coringa”, segundo a veterinária Cristiane Wilheln. “Porque, às vezes, ele pode manifestar nada e, às vezes, pode manifestar todos os sintomas”, explica. Um dos sinais mais básicos é a falta de apetite, já outros sintomas como lesões na ponta da orelha e ao redor dos olhos, além de feridas pelo corpo que não cicatrizam, acabam deixando o problema mais evidente. Uma vez infectado, o cão pode receber tratamento e viver durante o mesmo tempo que um animal saudável. Cristiane destaca que a prevenção é o melhor caminho para evitar a contaminação e propagação da leishmaniose. As clínicas veterinárias que tratam a doença oferecem vacinas preventivas que devem ser aplicadas regularmente, a partir do quarto mês de vida do animal. Outra opção é a coleira e o óleo repelente. O custo desses últimos são mais baixos. Os mosquitos se desenvolvem em locais úmidos e ricos em matéria orgânica, como terrenos baldios, lugares comuns de cachorros abandonados irem para brincar ou até usarem de abrigo, o cão em si não transmite a doença para outros cães ou para humanos, mas uma vez contaminado se picado por um mosquito o torna transmissor da doença, disseminando cada vez mais a leishmaniose. 34 IMAGEM 3: Ciclo da leishmaniose Fonte: Ministério da Sáude, 2018. Outra zoonose preocupante no país é a leptospirose, doença infecciosa causada pela bactéria Leptospira, possuindo uma importância mundial. Entre os casos registrados de leptospirose entre os anos de 2010 a 2014 foram confirmados 20.810 casos em todos os Estados da federação, 1.694 óbitos, com maior prevalência nas regiões sul e sudeste. Os Estados com maior percentual de casos confirmados foram São Paulo (20,9%), Santa Catarina (10,7%), Rio Grande do Sul (10,6%) e Acre (10,5%), o que mostra o importante trabalho a ser feito acerca do saneamento principalmente nas populações vulneráveis onde não há acesso a esses recursos (BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016a). O rato de esgoto (Rattus novergicus) é o principal responsável pela infecção humana, em razão de existir em grande número e da proximidade com seres humanos, mas outros animais também podem contrair a doença e transmiti-la para o ser humano, como animais domésticos (cães e gatos) e animais de importância econômica (bois, cavalos, porcos, cabras, ovelhas). A infecção humana é resultado 35 da exposição à urina infectada de animais contaminados, diretamente ou indiretamente através de água ou solo infectados (Patologia de Febres Hemorrágicas Faculdade de Medicina da USP, 2013). Animais abandonados estão mais suscetíveis a entrar em contato com a urina contaminada, e conseguintemente se tornar um transmissor para o humano. A toxoplasmose, conhecida popularmente como a doença do gato, é uma infecção causada por um protozoário chamado Toxoplasma Gondii, encontrado nas fezes de gatos e outros felinos, que pode se hospedar em humanos e outros animais, é ocasionada pela ingestão de água ou alimentos contaminados e é uma das zoonoses mais comuns em todo o mundo. Os sintomas da toxoplasmose são variáveis e associados ao estágio da infecção, (agudo ou crônico). Os sintomas, que na maioria dos casos não se manifestam, incluem febre, cansaço, mal estar e gânglios inflamados. É importante saber que o contato com gatos não causa a doença. O perigo está no contato com as fezes contaminadas do felino e no consumo de água contaminada e alimentos mal lavados ou mal cozido. A toxoplasmose normalmente evolui sem sequelas em pessoas com boa imunidade, desta forma não se recomenda tratamento específico, apenas tratamento para combater os sintomas. Pacientes com imunidade comprometida ou que já tenham desenvolvido complicações da doença (cegueira, diminuição auditiva) são encaminhados para acompanhamento médico especializado. O tratamento e acompanhamento da doença estão disponíveis, de forma integral e gratuita, pelo Sistema Único de Saúde. Em caso de toxoplasmose na gravidez, é importante o acompanhamento no pré-natal e a pratica das orientações que forem repassadas pelas equipes de saúde. (Ministério da Saúde, 2013) No ano de 2010, 80 pessoas morreram no Brasil – 32 só no Sudeste –, um número que parece pequeno, mas é alto se for considerado que o problema tem tratamento e, principalmente, pode ser prevenido. Em todo o mundo, estima-se que mais da metade da população esteja infectada, a maioria sem saber. Para identificar a presença do toxoplasma, é preciso fazer um exame de sangue. (Globo, 2011) Foi relatado um total de 25 surtos da doença no Brasil nos últimos 50 anos, destes, 56% (14/25) concentraram-se entre 2010-2018. Quanto às vias de transmissão suspeitas, 36% (9/25) eram frutas ou verduras; 28% (7/25) carne e derivados; 16% (4/25) água, 12% (3/25) fezes de felídeos, 4% (1/25) leite e 4% (1/25) queijo. Considerando os alimentos suspeitos, concluiu-se que 72% (18/25) tinham oocistos como a forma biológica responsável pelo surto, 24% (6/25) cistos e 4% (1/25) 36 taquizoítas. A distribuição dos surtos no Brasil foi: Paraná 20% (5/25), São Paulo 16% (4/25); Goiás, Pará e Rio Grande do Sul 12% (3/25), Minas Gerais 8% (2/25) e Espírito Santo, Mato Grosso, Rio de janeiro, Rio Grande do Norte e Rondônia 4% (1/25). O número total de acometidos foi, aproximadamente, 2.270 indivíduos, variando de 3 a 748 pessoas (Universidade Estadual de Londrina, PR, 2018). Segundo a veterinária Solange Gennari, gatos que vivem nas ruas e com hábitos de caça são mais propensos a ter toxoplasmose. Mostrando, assim que abandonar gatos e outros animais é um risco para a saúde pública, e contribui para a disseminação de zoonoses (Globo, 2011) A alteração climática que vem acontecendo nos últimos tempos, tem cada vez maior influência na transmissão de doenças infecciosas, especialmente as transmitidas por vetores6, as quais ainda continuam sendo uma causa importante de mortalidade no Brasil e no mundo (BARCELLOS et al., 2009). 2.1.3 Relação com o abandono de animais O abandono de animais de estimação é uma prática frequente em todo o país e é influenciado por vários fatores como, por exemplo, as características do animal ou pelo estilo de vida do proprietário. Essa realidade promove prejuízos nos âmbitos da saúde pública, social, econômico e também no que se diz respeito ao bem-estar do animal. A saúde pública é, sem dúvida, a principal e mais delicada área relacionada com os animais que vivem na rua, majoritariamente por conta das zoonoses que eles podem transmitir como raiva, leptospirose, sarna, leishmaniose, micose, toxoplasmose e várias outras doenças de baixa ou alta gravidade. A população está totalmente vulnerável a contração dessas enfermidades, mesmo quem não possui contato direto com esses animais por conta de sua presença no meio público sem quaisquer tipos de supervisão ou cuidados veterinários (PARRA; BATTAINI, 2017, p. 1099-1103). 6 Organismos que servem de veículo para a transmissão de algum causador de doença. A diferença entre vetor e agente etiológico está no fato de que o primeiro transporta o agente etiológico, que é o responsável pela doença. 37 Em 1980, a solução encontrada pelos órgãos públicos para lidar com problema das zoonoses intensificado pela grande quantidade de animais abandonados era de captura e eutanásia. Em 1998 a partir da lei Federal 9.605 que tinha como propósito dar um tratamento mais digno aos animais, essa prática foi abandonada e a castração passou a ser a estratégia. O centro de zoonose passou a ser um centro de castração e abrigo dos animais abandonados. Mas o centro de zoonose está muito longe de atender a necessidade de acolhimento de todos os animais abandonados e mesmo com o aumento das campanhas de castração, animais domésticos continuam a procriar em larga escala, sendo que muito destes são também abandonados. O animal que está na rua gera inseguranças, pois se sabe que este pode ser portador de zoonose. Os cidadãos têm medo do possível comportamento dos animais desconhecido e que este possa trazer doenças para dentro de casa. A população infantil e idosa são os mais vulneráveis, as crianças por ter muito contato com os animais, e ter o costume de pôr a mão na boca, além de hábitos de geofagia que são comuns na infância facilitando assim o contágio. Já os idosos por sua baixa imunidade também são mais suscetíveis a ser contaminados (CAPUANO; ROCHA, 2005). Os animais abandonados podem estar em boas condições físicas ou não. Alguns proprietários abandonam seus animais por necessitar de cuidados que não tem condições ou disponibilidade para ofertar ao animal. Mesmo os animais saudáveis, após período de abandono sem cuidados é um forte candidato a contrair zoonoses. Uma pessoa que tenha intenção de ajudar um animal abandonado que teve contato vai pensar duas vezes antes de fazê-lo, pois sabe que está trazendo possivelmente doenças para dentro de casa e que vai ter que despender muito tempo e recursos financeiros para tratar o animal. A possibilidade do animal abandonado de voltar a ser cuidado é bem remota. Órgãos públicos e entidades civis não conseguem dar conta da demanda. O abandono de animais intensifica e mantém o problema das zoonoses. 38 2.2 Acidentes Automobilísticos Cerca de 475 milhões de animais de ruas são atropelados a cada ano nas rodovias brasileiras. Se contabilizados, este número pode chegar quase na casa dos bilhões. A grande maioria dos animais de rua que são atropelados não são notados pelos motoristas por serem de pequeno ou médio porte, no entanto, há cerca de 2 milhões de animais de grande porte mortos nas rodovias por ano. O estrago, neste caso, é ainda maior: como são animais de grande porte, os impactos são suficientes para provocar cerca de 300 mortes por ano. É impressionante pensar que 15 animais são atropelados por segundo no Brasil ou 1,3 milhão por dia. As estimativas foram feitas pelo Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE), da UFLA (Universidade Federal de Lavras), com base em 14 estudos científicos que abarcam todas as regiões do país em 2017 ocorreram 2,6 mil acidentes em rodovias federais envolvendo a presença de animais na pista, sendo 434 graves, com 103 mortes. Apesar de representarem apenas 2,2% dos acidentes de trânsito em geral e 1,3% dos acidentes com mortes nas estradas federais, as colisões e capotamentos envolvendo bichos superam os relacionados a defeitos nas vias, de acordo com o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) 2.3 Demanda de abrigos No Estado de São Paulo, tanto na capital como nas cidades de interior, os abrigos de prefeituras e as ONGs para cães abandonados estão superlotados. Este problema começou há dois anos, quando uma inovadora lei estadual proibiu as prefeituras de sacrificarem os cachorros capturados pelas carrocinhas. Quando esta lei foi aprovada, os defensores de animais ficaram muito felizes pois através dela a matança em canis iria acabar. Contudo, um efeito colateral acabou acontecendo: não sacrificar os animais de rua acabou deixando os canis superlotados e, com isso, cessou-se o resgate de animais de rua, pois não havia mais espaço e
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