Figura 91: Araneae: Theraphosidae e Ctenidae (A e B); Amblypygi (C); Thelyphonellus amazonicus (Uropigy) (D); Cryptocellus sp. (Ricinulei) (E); Spidotrespida (Diplopoda) (F). Fotos: F. Godoi; J. Rafael; J. Araújo. ..................................................................................177 Figura 92: Espécies de escorpiões encontradas na área do empreendimento. Chactidae: Chactopsis amazonica e Brotheas amazonicus, demais espécies pertencem à família Buthidae. ............................................................................................................................178 Figura 93. Ordens de insetos capturados com os três métodos de coleta utilizados na área do empreendimento. ..........................................................................................................180 Figura 94: Crematogaster evallans (A e B), Wasmannia auropunctata (C e D), Leptogenys sp. (E e F), Eciton burchelli (G e H). ...................................................................................184 Figura 95. Ordens de Chilopoda e Diplopoda encontradas nas armadilhas de interceptação e queda (pitfall). ....................................................................................................................185 Figura 96. Proporção em abundância das ordens das espécies encontradas no estudo. ...190 Figura 97. Abundância das famílias de peixes encontradas no estudo...............................193 Figura 98. Exemplar da espécie Hemiodus sp. ..................................................................194 Figura 99. Exemplar da espécie Potamorhina latior. ..........................................................194 Figura 100. Esquema representativo do encontro dos rios Solimões/Amazonas e Negro nas proximidades da área onde será construído o Porto Lajes. As setas significam a direção das correntes e conseqüentemente, a direção da deriva de larvas de Characiformes provenientes do rio Solimões. ............................................................................................219 x Lista de Tabelas Tabela 1. Esforço de captura empregado para a captura de quelônios na área do empreendimento por cada tipo de armadilha (HTF – hoop trap com um funil; HTFF – hoop trap com dois funis; TN – trammel net). ................................................................................26 Tabela 2. Coordenadas Geográficas dos pontos amostraddos na área de estudo. ..............33 Tabela 3. Tipos vegetacionais encontrados na Área de Influência Direta. ............................45 Tabela 4. Valores de diversidade de espécies registradas nas comunidades vegetais na AID. .............................................................................................................................................54 Tabela 5. Espécies arbóreas da floresta na área de influência direta (AID). .........................55 Tabela 6. Valores de diversidade de espécies registradas nas comunidades vegetais da floresta de terra firme na área diretamente afetada. .............................................................76 Tabela 7. Espécies arbóreas da floresta de terra firme encontradas na área diretamente afetada. ................................................................................................................................76 Tabela 8. Distribuição espacial das espécies vegetais da floresta de terra firme encontradas na área diretamente afetada.................................................................................................83 Tabela 9. Valores de diversidade de espécies registradas nas comunidades vegetais da floresta alagada na área diretamente afetada. .....................................................................86 Tabela 10. Espécies arbóreas da floresta alagada encontradas na área diretamente afetada. .............................................................................................................................................86 Tabela 11. Distribuição espacial das espécies vegetais das florestas alagadas encontradas na área diretamente afetada.................................................................................................96 Tabela 12. Espécies raras registradas na floresta de terra firme e floresta alagada nas áreas de influências AID e ADA do Porto das Lajes. ....................................................................110 Tabela 13. Espécies de macrófitas aquáticas identificadas na área de influência do empreendimento. ...............................................................................................................126 Tabela 14: Capturas de pequenos mamíferos na área do Porto Lajes. ..............................128 Tabela 15: Sucesso de captura e riqueza de espécies de pequenos mamíferos verificada na área do Porto Lajes ............................................................................................................128 Tabela 16. Registros diretos e indiretos de mamíferos de médio e grande porte na área de estudo. ...............................................................................................................................130 Tabela 17. Lista de espécies de mastofauna amostradas. .................................................134 xi Tabela 18. Densidades (ind/km2) para as espécies de mamíferos aquáticos registradas, com base na média diária de observação de animais. ...............................................................135 Tabela 19: Lista as espécies de anfíbios e répteis, registradas nas áreas amostradas do EIA do Porto Lajes. ...................................................................................................................139 Tabela 20. Lista das espécies de quelônios que ocorrem dentro dos limites do município de Manaus e o estado de conservação de cada uma segundo a Lista Vermelha das Espécies Ameaçadas da IUCN. .........................................................................................................150 Tabela 21: Lista de espécies de aves verificadas na área do Porto Lajes. .........................152 Tabela 22: Número de indivíduos, método de coleta e nome comum dos invertebrados coletados na área do Porto Lajes. Abreviações: P=pitfall; M=Malaise; I=Isca.....................169 Tabela 23. Formigas coletadas na área do empreendimento. ............................................182 Tabela 24. Classificação das espécies encontradas na área de estudo. ............................191 Tabela 25. Distribuição da Ictiofauna observada na área de estudo. ..................................193 Tabela 26. Resultado da diversidade de peixes encontrada no estudo. .............................195 xii II. DIAGNÓSTICO AMBIENTAL II. 3. MEIO BIÓTICO II. 3.1. Metodologia aplicada sobre os aspectos da flora Localização da Área de Influência Direta A delimitação de três (03) km da Área de Influência Direta (AID) do empreendimento foi determinada obedecendo ao requisito legal da Resolução CONAMA 01/86, para avaliação de impactos ambientais, constituindo-se em fator de grande importância para o direcionamento da coleta de dados necessários ao diagnóstico ambiental. As áreas de influência são aquelas afetadas direta ou indiretamente pelos impactos decorrentes do empreendimento durante o seu planejamento, implantação e operação. Essas áreas normalmente assumem tamanhos diferenciados, variando seus limites em função dos elementos de estudo considerados, o meio físico, biótico ou antrópico. O conceito Área de Influência Direta corresponde ao “território onde as relações sociais, econômicas e culturais e, as características físico-biológicas, sofrem os impactos de maneira primária, há uma relação direta de causa e efeito” (Resolução CONAMA 01/86). Para este estudo, determinou-se como Área de Influência Direta aquela que engloba aspectos ambientais que resultam em impactos diretos em parte da área do Lago do Aleixo, em especial a área urbanizada do entorno e o corpo hídrico. Os principais impactos ambientais que poderão ocorrer estão relacionados com a qualidade da água e com as relações de vizinhança, principalmente com o bairro da Colônia Antonio Aleixo, onde será localizado o empreendimento (Figura 1). 1 Figura 1. Área de Influência Direta do Porto das Lajes. O empreendimento apresenta relações de vizinhança diretamente com o bairro Colônia Antonio Aleixo, onde está situado e, indiretamente, com o Distrito Industrial II, parte do bairro Mauazinho, cidade de Manaus e algumas indústrias não identificadas do entorno. 2 Desenho experimental, coleta e identificação do material botânico da área de influência direta Para análise da cobertura vegetal foi utilizada ainda uma imagem orbital do satélite Quickbird de 2004, cuja zona de projeção foi de número 21, georreferenciada em UTM, datum WGS, composição RGB, para auxiliar na definição das fisionomias da cobertura vegetal e na descrição da vegetação. Entretanto, a identificação das fisionomias vegetacionais ocorrentes na área de influência direta foi realizado por meio de levantamento bibliográfico, adotando a nomenclatura do IBGE (2003) e carta imagem do IBGE na escala 1:250.000 (2005). Para identificação dos fragmentos florestais e dos corpos, também se utilizou imagem do Google Earth para as áreas de influência do complexo portuário Porto das Lajes. As imagens foram classificadas por interpretação visual das respostas espectrais da superfície analisada, utilizando-se para tal o software Arc Gis 9.0. Foram delimitados 22 pontos amostrais com uma área de 10mx50m, totalizando 1,1 ha localizados nos fragmentos florestais dentro da delimitação da área de influência direta (AID) (Figura 2). Na AID os pontos amostrais foram selecionados a partir da imagem de satélite num raio de 3 km do empreendimento. O método de amostragem utilizado foi o método de área fixa. Neste método a seleção dos indivíduos é feita proporcional a área da unidade e conseqüentemente, a freqüência dos indivíduos que nela ocorrem (PÉLLICO NETTO e BRENA, 1997). A fixação de uma área, para se obter informações quantitativas e qualitativas da floresta continua sendo o método preferido mesmo com o desenvolvimento recente de outros métodos (PÉLLICO NETTO e BRENA, 1997). No anexo 1 temos as Anotações de Responsabilidade Técnica (ART) dos responsáveis técnicos habilitados. 3 Figura 2. Pontos de amostragem na Área de Influência Direta do Porto das Lajes. Área Diretamente Afetada A Área Diretamente Afetada (ADA) caracteriza-se como a área objeto das intervenções realizadas no processo construtivo e que vai ser alterada fisicamente para receber as instalações do empreendimento, incluindo as obras de infra-estruturas necessárias para execução do projeto, estando sujeita a impactos diretos. Localização e caracterização da área de estudo No caso do empreendimento Porto das Lajes, a ADA considerada é a região delimitada em vermelho na figura 3. 4 Figura 3. Área Diretamente Afetada (ADA) do Porto das Lajes. O estudo foi realizado em áreas de pastagem em regeneração (platô), formando mosaicos com florestas secundárias consolidadas (platô) e remanescentes florestais de vertentes, baixios e floresta ciliar (Figura 4). A área de estudo é predominantemente coberta, nas áreas de platô, por uma vegetação do tipo capoeira em vários estádios de desenvolvimento (Figura 4-A), mesclada a floresta secundária consolidada de ± 15 anos (Figura 4-B) também em platô (IBGE, 2003). As áreas de vertentes (Figura 4-C) e baixios (Figura 4-D) são recobertas por remanescentes florestais primários (RIBEIRO et al., 1999) bastante alterados por efeito de borda (TABANEZ et al., 1997). O solo da área de estudo, de acordo com a classificação do RADAMBRASIL (1978) é um latossolo amarelo álico de textura argilosa e latossolo amarelo álico de textura média, relevo médio ondulado. 5 A B C D Figura 4. Vista da cobertura vegetal do platô (A e B), vertente (C) e baixio (D). Note os diferentes estádios de desenvolvimento da Formação Pioneira (capoeira) em A e, em B, essa mesma formação mesclada a Floresta Secundária. Em C, Floresta de Vertente e, em (D), vegetação típica de baixio. Atualmente a área apresenta dois locais de acesso, sendo a primeira por via terrestre (Figura 5-A), com entrada pela Fazendinha Ipê e a segunda pela orla do Lago do Aleixo por via fluvial (Figura 5-B). Pela via fluvial, o complexo está localizado na margem esquerda do rio Amazonas, com 800 m de frente para o Rio. Por via terrestre, o acesso se dá pela Av. Cosme Ferreira, que conduz ao bairro Colônia Antonio Aleixo, situado a leste da cidade de Manaus-Amazonas, no km 13, nas coordenadas – 3º5’37.69” S e 59º54’1.03” W. 6 A B Figura 5. Vista da entrada atual do empreendimento pela Fazenda (A) e, pelo Lago do Aleixo (B). Segundo a classificação de Köppen (1948), o tipo climático do local é o Afi, com temperatura média de 26ºC (RIBEIRO, 1976). A umidade relativa do ar varia de 77 a 88 %, com média anual de 84% (LEOPOLDO et al., 1987). A precipitação anual varia de 1.800 a 2.800 mm, com uma estação chuvosa de dezembro a maio e uma estação seca de junho a novembro; os meses mais chuvosos são março e abril (> 300 mm de chuvas) e os mais secos, julho, agosto e setembro (< 100 mm) (LEOPOLDO et al., 1987). Desenho experimental, coleta e identificação do material botânico da área de estudo Para a análise do estrato arbóreo da área em estudo, visitas preliminares foram feitas com o intuito de reconhecimento da área para alocação das parcelas e dos transectos (Figura 6). As parcelas foram alocadas em áreas de platô, levando em consideração, primeiramente, à posição no relevo, o grau de preservação da área e a facilidade de acesso. Já nas margens dos baixios e floresta ciliar, foram alocados transectos (Figura 7). Os transectos consistiram em linhas extensas, alocados nas margens de alguns cursos de água, cuja finalidade foi cobrir grandes áreas amostrais. Tanto as parcelas quanto os transectos foram utilizados para os estudos dos grupos Flora e Fauna. A separação definida entre a Floresta de Vertente e a Floresta Ciliar foi à marca d’água existente nos troncos das árvores que compõem a Floresta Ciliar. 7 A B C D E F Figura 6. Visita de campo a área de estudo para determinar os locais de implantação de parcelas e transectos. Note os diferentes ambientes da área de estudo. 8 Figura 7. Pontos de amostragem para diagnóstico ambiental na área diretamente afetada (ADA) com relação aos aspectos da flora no Porto das Lajes. 9 Foram instaladas aleatoriamente nas áreas de platô seis (6) parcelas de 10 x 250 m cada uma, totalizando 15.000 m2 de amostragem (1,5 ha), separadas entre si por distância que variaram de 100 m até m 500m. As parcelas de 10 x 250 ainda foram subdivididas em réplicas menores de 10 x 25 m para fins de administração do inventário (FERREIRA e PRANCE, 1998; TELLO, 1995). Dentro de cada parcela, os indivíduos foram localizados, e medidos o CAP (circunferência a altura do peito) a 1,30 m do solo com fita métrica e estimado a altura do fuste (Figura 8). A B C D Figura 8. Levantamento dos dados primários nos diferentes ambientes da área de estudo como platôs (B e C), vertentes (A e D). Nas margens de igarapés e floresta ciliar, devido ao relevo peculiar, adotou-se trabalhar em sete (7) transectos de lagura fixo em 50 m e comprimentos variáveis (8, 7, 6, 2, 6, 9 e 4 m), 10 alocada ao longo das margens do igarapé, seguindo-se procedimentos usuais de marcação dos indivíduos efetuados nas parcelas (Figura 9). Figura 9. Levantamento de dados primários nas margens dos baixios. Depois da secagem por 48 horas, as amostras botânicas foram identificadas a partir de referência especializada (RIBEIRO et al., 1999) e/ou por comparação com as exsicatas disponíveis no Herbário do INPA (CRONQUIST, 1981). Os nomes botânicos apresentados nesse estudo foram comparados com a página da WEB do Missouri Botanical Garden (http://mobot.mobot.org/W3T/Search/vast.html. Parâmetros fitossociológicos A fitossociologia vem sendo a ferramenta mais utilizada para a caracterização de formações vegetais regionais e, em vista disso, sua aplicação é indispensável, pois fornece todas as informações necessárias para interpretações mais detalhadas e concretas. Para Fernandes (2000), a fitossociologia ou Sociologia Vegetal tem como objetivo principal estudar a vegetação considerando os relacionamentos biológicos das espécies e seu comportamento, no que diz respeito ao processo de vitalidade essencial às comunidades. Além disso, busca entender a dinâmica das comunidades vegetais baseando-se no reconhecimento de suas estruturas e composição. 11 a) Estrutura horizontal (MARTINS, 1978, 1979). DAs = ns.U/A DRs = 100 (ns / N) FAs = (Ps / PT) FRs = 100 (FAs / FAT) DoAs = (DAs) (ABs) ABs = ABIs / ns DoRs = 100 ( ABIs / ABT) ABT = ABI VIs = DRs + FRs + DoRs VCs = DRs + DoRs ps = ns / N Onde: DAs = densidade por área de espécie DTA = densidade total por área de todas as espécies amostradas ns = número de indivíduos amostrados da espécie N = número total de indivíduos amostrados de todas as espécies U = unidade da área (1 ha = 10.000 m2) A = área amostrada (em hectares) DRs = densidade relativa da espécie FAs = freqüência absoluta da espécie Ps = número de réplicas com a ocorrência da espécie PT = número total de réplicas amostradas FRs = freqüência relativa da espécie FAT = freqüência absoluta total = soma aritmética das freqüências absolutas de todas as espécies amostradas DoAs = dominância por área da espécie ABs = área basal média da espécie ABIs = área basal individual da espécie 12 DoRs = dominância relativa da espécie ABT = área basal total de todas as espécies amostradas VIs = valor de importância da espécie VCs = valor de cobertura da espécie. b) Diversidade florística A Curva Espécie-Área foi calculada a partir de índices descritos por (MOSTACEDO & FREDERICKSEN, 2000; SCHNEIDER, 1998) e o Índice de Riqueza de Espécies de Shannon- Wiener (MAGURRAN, 1988). H’ = - Σ pi * ln pi Equabilidade (PIELOU, 1974) J` = H’ / lnS c) Distribuição espacial O padrão de distribuição espacial dos indivíduos das espécies pode ser analisado por meio da estimativa de índices de agregação (SOUZA et. al., 2001). Neste trabalho foi utilizado o Índice de Agregação de MacGuinnes (GÓMEZ e VÁSQUEZ, 1981). Este índice estima o grau de agregação da espécie, em termos das densidades observada (Di) e esperada (di) (SOUZA et. al, 2001), da seguinte forma: I.G.Ai = Di/di Sendo: Di = ni/ut; di= ln(1-fi); fi=ui/ut d= determinação da densidade esperada; d=-ln(1-f/100); f= (número de quadrados em que ocorre a espécie/número total de espécies)x100; 13 D=(número total de plantas/número total de quadrados); Onde: IGAi = índice de MacGuiness para a i-ésima espécie Di = densidade observada da i-ésima espécie di = densidade esperada da i-ésima espécie fi= freqüência absoluta da i-ésima espécie ni = número de indivíduos da i-ésima espécie ui = número de unidades amostrais em que a i-ésima espécie ocorre ut = número total de unidades amostrais Segundo Souza et. al., (2001), a classificação do padrão de distribuição dos indivíduos das espécies obedece a seguinte escala: IGAi < 1: distribuição uniforme (Un) IGAi = 1: distribuição aleatória (Al) 1<IGAi £ 2: tendência ao agrupamento (TA) IGAi > 2: distribuição agregada ou agrupada (Ag) Foi considerado ainda, como parâmetro qualitativo, as espécies raras que, segundo Martins (1993) e Kageiama e Gandara (1993), são aquelas que ocorrem com um individuo por hectare. Essas espécies foram avaliadas, visando à identificação das espécies suscetíveis à extinção local. O índice de espécies raras foi calculado com base na proporção destas em relação ao total de espécies amostradas. II. 3.1.1. Metodologia empregada para as macrófitas aquáticas Para estimar a riqueza das macrófitas aquáticas nas áreas de influência direta e indireta do empreendimento foram escolhidos onze pontos de observação no rio Negro (Figura 10), contemplando os bancos mais representativos em diversidade. Foi utilizado um quadrado flutuante (0,5 x 0,5m) lançado aleatoriamente nos bancos de macrófitas (Figura 11). As espécies presentes no quadrado foram visualmente classificadas. 14 A análise de freqüência de ocorrência das espécies de macrófitas aquáticas foi calculada segundo a fórmula: pi Fi = .100 p onde, p é o número total de quadrados amostrados e pi o número de amostras onde ocorre a espécie i. As espécies registradas foram classificadas de acordo com o tipo ecológico (Figura 3) (Esteves, 1988), modo de vida, freqüência de ocorrência na bacia Amazônica (Junk & Piedade, 1993) e utilização (Pott & Pott, 2000). 15 Figura 10. Pontos de amostragens de macrófitas aquáticas na área de influência do empreendimento. 16 Figura 11. Identificação das macrófitas aquáticas com auxílio de quadrado flutuante. Figura 12. Tipos ecológicos de macrófitas aquáticas (Esteves, 1988). 17 II. 3.2. Metodologia aplicada sobre os aspectos da fauna Área de estudo Localizada a sudeste do Município de Manaus, com coordenadas geográficas 3º05’59,28”S e 59º53’36,33”W. A propriedade tem limite leste no Km 0 do rio Amazonas, exatamente em frente à foz do rio Solimões. A área é uma propriedade rural particular conhecida como Fazendinha Ipê. A área é coberta predominantemente por floresta tropical úmida de terra firme, em estágio secundário de sucessão. Até o final da década de 1970 essa área foi amplamente utilizada para atividades de pecuária (relato de morador local), sendo totalmente desmatada, caracterizada hoje, portanto, como floresta secundária com pouco mais de 30 anos de regeneração. O histórico de utilização pode ter afetado drasticamente a fauna local, com extinções locais e altas taxas de emigração. O clima da região é do tipo Afi, segundo a classificação de Köppen, com pluviosidade média anual de 2400 mm (ocorrência de chuvas intensas de janeiro a maio) e temperatura média anual de 26º C. Na porção leste, limite com o rio Amazonas, ocorre a formação de igapós e se encontra o Lago Aleixo. A licença de coleta e transporte de material biológico foi concedida pelo IBAMA (Nº 41/2008 NUFAS/IBAMA/AM), Nº Proc/Doc. no IBAMA 02005.002269/2007-91. Mamíferos Pequenos mamíferos (roedores e marsupiais) No presente trabalho utilizaram-se armadilhas “live-traps” do tipo “sherman” (8x8x23cm) e do tipo “tomahawk” (com dispositivo de disparo de gancho). Estas foram distribuídas em um transecto linear de aproximadamente 500m (Anexo 1), em 25 estações, sendo dispostas aos pares em cada estação (uma sherman e uma tomahawk) e estando as estações espaçadas por uma distância de cerca de 20 metros entre si. A disposição das armadilhas, em cada estação, foi feita obedecendo ao seguinte critério: em estações ímpares as armadilhas do tipo “sherman” foram instaladas no sub-bosque, em árvores ou cipós que faziam alguma ligação com o dossel, enquanto as “tomahawks” foram instaladas no chão em frente a tocas ou troncos caídos. Em estações pares foi feito o inverso (Figura 13). 18 Figura 13. Distribuição das armadilhas “live trap” ao longo do transecto. As armadilhas permaneceram ativas por um período de 10 noites (de 29/05/08 a 08/06/08) e foram vistoriados todos os dias, no período matutino. As iscas foram compostas por fatias de banana com pasta de amendoim torrado e moído, que foram substituídas a cada dois dias ou de acordo com a necessidade. Adicionalmente foi utilizada a amostragem por pitfalls, que será descrita posteriormente na metodologia de répteis e anfíbios (Anexo 1). Apenas um espécime-testemunho foi coletado e seus dados de idade, sexo, estágio reprodutivo, peso, medidas, localidade, ambiente e condições climáticas anotados em caderno de campo padronizado pela curadoria da Coleção de Mamíferos do INPA. Foi fixado em formol 10% e depois preservado em álcool etílico 70%, para posteriormente ser depositado nesta coleção. Mamíferos de médio/grande porte Com o objetivo de inventariar a comunidade de mamíferos de médio e grande porte através de uma amostragem representativa da área, foram realizados avistamentos com caráter qualitativo em diferentes pontos por toda a área, ao invés de uma amostragem quantitativa pelo método de transecção linear (Brockelman & Ali, 1987). Além de exigir alguns pressupostos metodológicos e ser mais direcionado para 19 estimar populações, a realização de “censos” requer um período de amostragem bem maior do que o apresentado aqui para obter-se uma amostragem confiável da população em questão (Ferrari et al., 2002; Burnham et al., 1980). A escolha dos pontos de amostragem foi determinada conforme a existência de trilhas feitas pelos topógrafos e também em trilhas pré-existentes na área. Também foram realizadas caminhadas em áreas fora da determinada para avistar os mamíferos na área de entorno. As caminhadas foram realizadas por duas pessoas, ao longo de seis dias pelo período da manhã e três dias no período da noite. As caminhadas pela manhã se deram entre 07:00 e 10:00hs e pela noite entre 19:00 e 22:00hs. As caminhadas foram realizadas lentamente a pé. As trilhas, em algumas vezes eram percorridas duas vezes durante um período de amostragem (ida e volta na trilha). Sempre que possível também, procurou-se registrar através de vocalizações, fugas, rastros, fezes, crânios, peles e informações de outras pessoas, a presença de mamíferos. Vale ressaltar que o número de amostragens noturnas foi inferior as diurnas devido ao encontro com pessoas desconhecidas na área, o que gerava um clima de insegurança por parte da equipe envolvida. Mamíferos Aquáticos Inicialmente foram definidas duas áreas de trabalho: Área de impacto direto do empreendimento, correspondente à faixa desde 500m acima do limite do empreendimento até a entrada mais leste do lago Aleixo, e uma Área de Impacto Indireto correspondente ao polígono desde o Ceasa, Lago Catalão e encontro das águas até o limite da área direta. Toda a área de estudo foi monitorada durante 15 dias, realizando percursos em bote de alumínio de 12m de comprimento e motor de borda de 25HP; com um esforço diário de 10 horas, a uma velocidade média de 15 km/h. Durante os percursos um observador na proa da embarcação realiza as observações na rota do bote e outro realiza uma contagem de verificação. Cada observação teve registrados os seguintes dados: 1. Data; 2. Hora; 20 3. GPS; 4. Espécie observada; 5. Número de exemplares no grupo; 6. Número de adultos, jovens e filhotes; 7. Distância à margem e tipo de feição onde se encontravam; 8. Comportamento. Para a quantificação do comportamento foram feitos postos de observação usando o próprio bote como plataforma. As observações sobre o comportamento eram realizadas em ciclos de cinco minutos durante mínimo 15 minutos (três ciclos) e máximo uma hora (12 ciclos). Para cada ciclo eram registradas as seguintes informações: 1. Hora; 2. GPS; 3. Espécie observada 4. Número de exemplares no grupo; 5. Número de adultos, jovens e filhotes; 6. Distância à margem e tipo de feição onde se encontravam; 7. Descrição dos eventos dos diferentes comportamentos; 8. Presença de aves, embarcações e apetrechos de pesca. As feições identificadas na área de monitoramento foram: barranco, praia, flutuante ou porto, macrófitas aquáticas, igapó/várzea, boca de lago, encontro das águas, margem e igarapé. De posse dos dados foram calculados os seguintes indicadores ecológicos: 1. Riqueza de espécies: Como o número de espécies observadas mais as espécies registradas pelos moradores. 2. Abundância: Como a densidade de indivíduos por km2 na área de impacto direto e de impacto indireto. Esta foi calculada para as espécies de golfinhos exclusivamente. Para a estimativa de abundância foi calculada, inicialmente, a área do polígono do transecto com base em imagens de satélite LANDSAT e processadas com o programa ARCGIS. 21 3. Distribuição espacial: Os dados de GPS de cada uma das observações realizadas foram digitalizados em mapa da área. 4. Quantificação do comportamento. Como o tempo médio investido pela espécie para cada um dos comportamentos descritos. 5. Uso do hábitat: Como a relação entre os comportamentos realizados em cada uma das feições identificadas Répteis e Anfíbios As atividades de campo foram realizadas entre 21/05/08 à 04/06/08. Os primeiros três dias foram reservados para a abertura das trilhas e instalação das armadilhas (pitfall traps). O registro de espécies de anfíbios e répteis foi realizado por meio de quatro métodos abaixo detalhados: - Armadilhas de interceptação e queda “pitfalls traps with drift fences” (Cechin & Martins 2000) (PT): consistem de baldes enterrados até que a boca nivele com o solo (Figura 14), interligados por uma cerca-guia. Na área de estudo foram instaladas duas linhas de 100 m de comprimento em áreas de floresta secundária (Anexo 2). Cada linha foi composta por dez baldes com capacidade para 60 litros cada, dispostos com 10 m de distância entre si, interligados por uma cerca-guia de lona plástica com 1 m de altura perpendicularmente ao solo. Ao se depararem com a cerca-guia os animais tentam circundá-la, caindo nos baldes. As armadilhas permaneceram ativas durante um período de 12 dias. 22 Figura 14. Aspecto das armadilhas de interceptação e queda “pitfalls” utilizadas durante EIA Porto Lajes para amostragem de vertebrados e invertebrados. (Fotos: V. T., Carvalho). - Procura ativa “visual encounter” (Crumpt & Scott 1994) (EV): consiste na vistoria minuciosa de micro ambientes a procura de animais em atividade ou repouso. Foram empregadas 10 horas de procura noturna, geralmente com dois observadores, ou quatro em algumas ocasiões (Figura 15). Convertendo em horas/homem o esforço amostral foi de 24 horas de procura. Os ambientes amostrados foram: floresta secundária de terra firme mata ciliar, área antropizada, igapó, onde o EV foi empregado com a utilização de uma lancha voadeira (Anexo 2). 23 Figura 15. Equipe de herpetofauna realizando procura ativa nas áreas do EIA do Porto Lajes. - Registros auditivos de vocalizações (VO): método exclusivo para anfíbios anuros consiste do registro de espécies por meio da detecção de indivíduos machos em atividade de vocalização. O canto de anúncio de anfíbios anuros é espécie- específico, garantindo a segurança dos registros. - Encontros ocasionais (EO): registro ocasional de espécies durante os intervalos entre os períodos de EV ou durante a vistoria dos pitfalls, - Contribuições de terceiros (CT): consiste na computação de dados fornecidos por membros de outras equipes ou moradores da região. Os espécimes de anfíbios e répteis coletados foram identificados, quando possível, em nível de espécie. A eutanásia dos anfíbios foi realizada utilizando anestésico a base de Xylocaína, os répteis por inalação de Éter Etílico e posteriormente fixados por injeção de solução de formol a 10%. Todo o material testemunho encontra-se depositado na Coleção de Anfíbios e Répteis do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. 24 Para a identificação das espécies de anfíbios e répteis foram utilizadas as seguintes literaturas: para os lagartos, as chaves de Peters & Donoso-Barros (1970), Ávila-Pires (1995), Uetz & Etzold (1996) e Vitt et al., (2008); para as serpentes utilizamos as chaves de Peters & Orejas-Miranda (1970), Cunha & Nascimento (1978, 1993) e Martins & Oliveira (1998); para anfíbios anuros as espécies foram checadas através dos guias Rodriguez & Duellman (1994), Lima et al., (2006) e também por meio de vocalizações e comparação de espécimes depositados na coleção do (INPA). Quelônios Inicialmente foi realizada uma visita ao local do porto para identificar os possíveis pontos de amostragem. Optamos pelo igarapé da Cachoeirinha por possuir uma profundidade apropriada para a colocação das armadilhas para quelônios. As ilhas e margens do Rio Negro próximas ao empreendimento também foram incluídas no levantamento. Foram empregados três tipos de armadilhas: 1 – Hoop traps (Legler, 1960): consiste em dois aros retangulares com 40 cm de altura por 48 cm de largura suportando uma malha de náilon formando, juntos, uma gaiola com um metro de comprimento (Figura 16A). Nas duas extremidades existe um funil invertido, também de malha de náilon, por onde quelônios aquáticos podem entrar, mas dificilmente sair. As armadilhas foram colocadas no igarapé da Cachoeirinha a uma profundidade de aproximadamente 30 cm e iscadas com sardinha em lata. A revisão das armadilhas ocorreu a cada 24 horas. 2 – Hoop traps com um funil: adaptadas do modelo original de Legler (1960), são compostas por aros de alumínio com 80 cm de altura que sustentam um cilindro de pano de malhadeira com malha de três milímetros de distância entre nós com um metro de comprimento (Figura 16B). Em uma das extremidades deste cilindro encontra-se um funil invertido por onde o quelônio pode entrar. Estas armadilhas foram instaladas dentro do igapó, próximas à margem. Foram utilizadas sardinhas em lata como isca para a atração dos quelônios. 3 – Trammel nets (Vogt, 1980): consistem em uma malhadeira de náilon interna com tamanho de malha de 18 cm de distância entre nós e duas malhas externas brancas, cada qual com um metro de distância entre nós (Figura 16C). Cada malhadeira mede dois metros de altura por cem metros de comprimento e foi instalada 25 em locais com água parada ou com pouca correnteza como lagos, saída do igarapé da Cachoeirinha e remansos de rio (Tabela 2). A amostragem ocorreu continuamente entre os dias 27 de Maio e 3 de Junho de 2008. O esforço de captura foi calculado multiplicando-se o número de horas pelo número de armadilhas colocadas na água. Os locais amostrados bem como o esforço de captura utilizado por cada tipo de armadilha estão resumidos na Tabela 2. Tabela 1. Esforço de captura empregado para a captura de quelônios na área do empreendimento por cada tipo de armadilha (HTF – hoop trap com um funil; HTFF – hoop trap com dois funis; TN – trammel net). Adicionalmente também foram realizadas entrevistas com pescadores encontrados na área do empreendimento. Eles foram questionados sobre as espécies de quelônios que costumam encontrar no local. Um pôster contendo fotos das espécies de quelônios amazônicos (Figura 16D) foi utilizado para auxiliar na identificação dos quelônios junto aos entrevistados. 26 Figura 16. Métodos utilizados para realizar o levantamento de quelônios na área do porto: (A) hoop trap com dois funis, (B) hoop trap com um funil, (C) trammel net e (D) pôster com fotos dos quelônios da Amazônia brasileira. (Fotos: Rayath Melina Lima da Silva). Aves A área passou por um processo de descaracterização da cobertura vegetal há alguns anos atrás e é constituída por mata secundária, sendo que em alguns pontos da mata são observa-se porções de capoeira mais antiga e em processo de regeneração. Nas partes baixas onde as águas do Rio Negro adentram, sobretudo nas encostas de barranco e ribanceiras, são freqüentes a presença de martins-pescadores (Megaceryle torquata), sobretudo nos meses de maio a julho, coincidentes com o período reprodutivo da espécie (Omena Junior, obs. pessoal), e quando o nível da água está elevado, fazendo bastante alvoroço durante todo o dia 27 A fim de caracterizar os ambientes amostrados onde as coletas de campo foram realizadas, elaborou-se a seguinte classificação dos ambientes: • Capoeira, caracterizada por vegetação secundária, florestas com árvores cujas alturas variam entre 5 a 15m, com acentuada intervenção humana, sobre solo argiloso livre de inundação (Figura 17 A e B). • Floresta de igapó. Caracterizado por floresta localizada nas partes baixas, total ou parcialmente inundadas (Figura 17 C e D). • Campo aberto, caracterizado por áreas abertas com vegetação rala, baixa com árvores ou arbustos dispostos esparsamente (Figuras 17 E e F). • Beira da mata. Constitui a borda das capoeiras altas, que em muitos casos se limita com campos abertos e áreas urbanizadas. • Beira da água. Constitui a borda da mata que se limita com igarapés, rios, lagos e matas alagadas. 28
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