̄ ̄ ̄ ̄ ̄ „ Tragadas do Olavo Temporada 2, Episódio 7 Marxismo Cultural Fenômeno Histórico ou Conspiração Recente? Olavo de Carvalho vs. Dr. Dave Renton „ Olavo de Carvalho Filósofo e Escritor 1948–2022 Dr. Dave Renton Historiador The New Authoritarians Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Acesse Nossos Canais Å YouTube @Filodebates } Telegram t.me/DebateIAs Análise por Filodebates © 2025 ORCID: 0009-0009-6962-0797 2 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural 1 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Sumário Sumário Sumário 1 1. Introdução: O Choque Metodológico 4 2. Contexto Histórico do Termo 5 3. Linha do Tempo: Do Marxismo Ocidental ao Debate 6 4. O Debate: Marxismo Cultural 8 4.1. Definição e Natureza do Fenômeno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 4.2. Gramsci e Lukács . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 4.3. Escola de Frankfurt . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 4.4. Universidades e Mídia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 4.5. Estratégia ou Acaso? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 4.6. Critérios de Evidência e Falsificabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 5. Fechamento do Debate 20 6. Sínteses em Confronto 22 7. Análise Crítica e Avaliação 23 8. Placar Comparativo Final 25 8.1. Justificativa do Veredito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 9. Questionário de Avaliação 27 10. Gabaritos Comentados 33 11. Apêndices e Material Complementar 39 11.1. Apêndice A: Mapa Conceitual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 11.2. Apêndice B: Fontes e Posições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40 11.3. Apêndice C: Para Professores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 12. Considerações Finais 42 13. Referências Bibliográficas 43 2 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Nota Metodológica Es t a r ep r esen t ação do F il odeba t e sob r e Ma rxi smo Cu lt u r a l t em como p r opós it o p ri nc i pa l a fi de li dade às pos i ções o ri g i na i s dos au t o r es , p r ese rv ando i n t ac t as suas ca r ac t e rí s ti cas me t odo l óg i cas e li m it ações documentais. Preservação de Assimetrias Deliberada: • A s d i spa ri dades me t odo l óg i cas en tr e os deba t edo r es ( O l a v o p rivil eg i ando pode r e x p li ca tiv o sob r e p r ec i são t e r m i no l óg i ca v s Ren t on e xi g i ndo e vi dênc i a documen t a l) são man ti das i n t enc i ona l men t e • A aná li se não busca c ri a r equ ilí b ri o a rtifi c i a l en tr e pos i ções com c rit é ri os ep i s t emo l óg i cos d i s ti n t os O l a v o de Ca rv a l ho : Man ti da sua abo r dagem he r menêu ti ca de fil oso fi a da h i s t ó ri a , com suas esco l has metodológicas conscientes (privilegiar força explicativa sobre rigor terminológico). D r. D a v e Ren t on : P r ese rv ada a aná li se h i s t o ri og r á fi ca baseada em genea l og i a documen t a l e consenso acadêmico. Es t a r ep r esen t ação não equ iv a l e a endosso de qua l que r das pos i ções O deba t e e x põe um choque fr on t a l entre dois métodos de construir explicações sobre a história das ideias. 3 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Introdução: O Choque Metodológico A n t es de começa r, um a l e rt a ep i s t emo l óg i co : Es t e deba t e e x põe o con flit o r ad i ca l en tr e do i s métodos de construir explicações sobre a história das ideias e das instituições. Os Debatedores De Um Lado: Olavo de Carvalho • Parte de textos de Lukács, Gramsci, Escola de Frankfurt • Costura narrativa de guerra cultural de longo prazo • Privilegia unidade interpretativa e força explicativa • Rejeita o conceito de ideologia como chave explicativa • Analisa esquemas de poder e níveis de consciência Do Outro: Dr. Dave Renton e a Pesquisa Histórica Mainstream • Reconstrói genealogia do termo como teoria conspiratória • Exige evidência documental para falar em plano coordenado • Separa rigorosamente entre o que autores escreveram e o que lhes foi imputado • Documenta apropriação por extrema-direita O Tema Central “ Ma rxi smo Cu lt u r a l — e xi s t e ou é um m it o ? D e um l ado , a t ese de que , após o fr acasso da r e v o l ução proletária clássica, o marxismo deslocou sua energia para a cultura. D o outro, a tese de que marxismo cultural é rótulo conspiratório recente, sem base nos textos de Gramsci ou da Escola de Frankfurt.” Dessa vez quem vai ser fumado e quem vai virar fumaça? Vamos assistir até o final! 4 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Contexto Histórico do Termo Genealogia Histórica O t e r mo ma rxi smo cu lt u r a l , t a l como c ir cu l a ho j e , não nasceu em G r amsc i nem na Esco l a de F r ank f u rt, mas como uma teoria conspiratória desenvolvida na extrema-direita a partir dos anos 1990. Origens da Narrativa: • Recicla o tema nazista do “bolchevismo cultural” (Goebbels) • Reformulada por autores como Michael Minnicino, Paul Weyrich e William Lind • Difundida em think tanks (Free Congress Foundation) e igrejas fundamentalistas • Expandida no universo alt-right e citada por terroristas (Anders Breivik) Posição Acadêmica Mainstream: Pesqu i sas acadêm i cas são p r a ti camen t e unân i mes em cons i de r a r essa v e r são de ma rxi smo cu lt u r a l uma t eo ri a consp ir a t ó ri a sem base f ac t ua l: não há e vi dênc i a de um comp l ô coo r denado da Esco l a de F r ank f u rt ou de G r amsc i pa r a des tr u ir o O c i den t e , embo r a se j a v e r dade que esses au t o r es c riti ca r am aspectos do capitalismo, do patriarcado e da cultura de massa. Nota do Filodebates O p r óp ri o O l a v o adm itiri a que sua l e it u r a é he t e r odo x a e v a i con tr a o consenso acadêm i co dom i nan t e ; em compensação , a fir ma que a noção de ma rxi smo cu lt u r a l cap t u r a uma con ti nu i dade es tr u t u r a l en tr e ma rxi smo c l áss i co e p r og r ess i smo cu lt u r a l que o d i scu r so acadêm i co t ende a tr a t a r como me r a coincidência ou pluralidade. 5 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Linha do Tempo: Do Marxismo Ocidental ao Debate Cronologia das Ideias 1923 L ukács H i s t ó ri a e Consc i ênc i a 1926 G r amsc i P r eso 1937 G r amsc i Cade r nos 1947 D i a l é ti ca do Esc l a r ec i men t o 1964 Ma r cuse Homem Un i d 1992 M i nn i c i no T e r mo su r ge 2011 B r e ivi k Man if es t o 2025 Es t e D eba t e 6 O Confronto Filosófico Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural O Debate: Marxismo Cultural Tragada 1 Definição e Natureza do Fenômeno „ Olavo de Carvalho Sobre a Mutação do Marxismo: O ma rxi smo não desapa r eceu com a queda da Un i ão So vi é ti ca ; e l e mudou de campo de ope r ação O e ix o pode t e r sa í do da econom i a e da t omada a r mada do Es t ado , mas en tr ou na es f e r a da cu lt u r a , da li nguagem , da f o r mação da men t a li dade A l u t a de c l asses f o i tr aduz i da em con flit o s i mbó li co , e o pode r passou a se r d i spu t ado p ri nc i pa l men t e nos me i os que mo l dam a pe r cepção da r ea li dade : un iv e r s i dades , mídia, entretenimento, sistema educacional. Sobre Marxismo como Cultura: I n v es ti gando po r décadas a na t u r eza do ma rxi smo , chegue i à conc l usão de que e l e não é apenas uma t eo ri a , uma i deo l og i a ou um mo vi men t o po líti co E l e é uma cu lt u r a em sen ti do an tr opo l óg i co , um i n t e ir o un iv e r so de c r enças , s í mbo l os , v a l o r es , i ns tit u i ções , pode r es f o r ma i s e i n f o r ma i s , r eg r as de condu t a , mode l os de d i scu r so , háb it os consc i en t es e i nconsc i en t es Como t oda cu lt u r a , e l e possu i na sua p r óp ri a subs i s t ênc i a um v a l o r que de v e se r de f end i do a t odo cus t o , bem a l ém das e xi gênc i as da verdade ou da moralidade. Sobre a Inadequação do Rótulo Ideológico: T en t a r de fi n ir g r upos po líti cos em f unção do seu r ó t u l o i deo l óg i co é uma co i sa que semp r e f a l ha A ma i o r pa rt e dos p r o f esso r es un iv e r s it á ri os não se dec l a r a ma rxi s t a de pa rti do ; mu it os se en x e r gam como li be r a i s ou p r og r ess i s t as Mas o v ocabu l á ri o que usam — op r essão es tr u t u r a l, pa tri a r cado , r ac i smo s i s t êm i co , he t e r ono r ma tivi dade , co l on i a li dade — é he r de ir o de uma ma tri z ma rxi s t a amp li ada , que subs tit u i u a ca t ego ri a cen tr a l de c l asse po r uma mu lti p li c i dade de e ix os de con flit o , man t endo a gramática de opressor/oprimido. Fonte: Olavo, “Marxismo come cultura”, olavodecarvalho.org 8 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Dr. Dave Renton Sobre a Origem do Termo: O t e r mo “ ma rxi smo cu lt u r a l” não apa r ece em Ma rx, em G r amsc i, em A do r no , em Ho r khe i me r, em Ma r cuse ou em qua l que r ou tr o t eó ri co ma rxi s t a de r e f e r ênc i a E l e su r ge como e x p r essão consp ir a t ó ri a em amb i en t es de e xtr ema - d ir e it a no fi na l do sécu l o XX, r e fl e ti ndo a i de i a naz i s t a de “ bo l che vi smo cultural”, usada por Goebbels para criminalizar intelectuais críticos e artistas modernos. Sobre o Contexto dos Frankfurtianos: O s memb r os da Esco l a de F r ank f u rt não e r am engenhe ir os de i n filtr ação i ns tit uc i ona l, mas j udeus pe r segu i dos que f ug ir am do naz i smo e p r ocu r a r am ab ri go em democ r ac i as li be r a i s A tri bu ir a e l es um p l ano de dom i nação cu lt u r a l g l oba l é i gno r a r os con t e xt os conc r e t os em que esc r e v em : e xíli o , perseguição, crítica ao fascismo e ao antissemitismo. Sobre a Genealogia Documentada: A r e t ó ri ca de ma rxi smo cu lt u r a l r eapa r ece nos anos 1 99 0, em man if es t os e pan fl e t os de e xtr ema - d ir e it a — espec ifi camen t e nos esc rit os de W illi am Li nd , M i chae l M i nn i c i no e em t h i nk t anks como F r ee Cong r ess Founda ti on — e se conso li da como na rr a tiv a consp ir a t ó ri a pa r a e x p li ca r mudanças sociais desafiadoras para setores conservadores. Fonte: Renton, “The New Authoritarians”, 2022, p. 80 Nota do Filodebates Olavo admite imprecisões do termo mas mantém seu uso por força explicativa, não por rigor termino- l óg i co Es t a é uma esco l ha me t odo l óg i ca consc i en t e que p rivil eg i a pode r e x p li ca tiv o sob r e p r ec i são acadêm i ca Como e l e p r óp ri o d i z : “ no i n í c i o quando es t á a rr anhando um assun t o v ocê usa os t e r mos com que a co i sa é des i gnada no deba t e ge r a l e depo i s que v ocê e x am i na [...] v a i supe r ando conce it os parciais ou até falsos.” 9 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Tragada 2 Gramsci e Lukács „ Olavo de Carvalho Sobre Georg Lukács: A n t es de G r amsc i, é necessá ri o f a l a r de G eo r g L ukács . L ukács f o i, depo i s de Ma rx, o ma i o r gên i o do ma rxi smo — e eu d i go i sso sem ir on i a , r econhecendo sua e xtr ao r d i ná ri a capac i dade fil osó fi ca Fo i e l e que t e v e a i de i a , j á nos anos 1 92 0, de que o pon t o p ri nc i pa l da l u t a dos comun i s t as de v e ri a se r a des tr u i ção da c ivili zação oc i den t a l, e não p r op ri amen t e a l u t a de c l asses econôm i ca Em H i s t ó ri a e Consc i ênc i a de C l asse , L ukács i den tifi ca a cu lt u r a oc i den t a l, com sua he r ança g r eco -r omana e c ri s t ã , como o principal obstáculo à consciência revolucionária. Sobre a Virada Fundacional: Es t a é a vir ada f undac i ona l. L ukács não es t á p r opondo i n filtr ação sec r e t a , mas uma r eo ri en t ação es tr a t ég i ca e x p lí c it a do mo vi men t o r e v o l uc i oná ri o : se a consc i ênc i a é mo l dada pe l a cu lt u r a , en t ão a revolução exige uma revolução cultural prévia. Sobre Gramsci e a Hegemonia: G r amsc i obse rv a que nenhuma r e v o l ução du r a se não conqu i s t a r aqu il o que e l e chama de hegemon i a , i s t o é , o dom í n i o da vi são de mundo A hegemon i a cu lt u r a l an t ecede , p r epa r a e sus t en t a a hegemon i a po líti ca : o pa rti do não t oma o Es t ado s i mp l esmen t e pe l a f o r ça ; e l e p r ec i sa , an t es , de um amb i en t e cultural em que seus pressupostos já estejam naturalizados no senso comum. A r e v o l ução g r amsc i ana es t á pa r a a r e v o l ução l en i n i s t a ass i m como a sedução es t á pa r a o es t up r o Pa r a ope r a r essa vir ada , G r amsc i es t abe l eceu uma d i s ti nção das ma i s i mpo rt an t es , en tr e pode r e hegemon i a O pode r é o dom í n i o sob r e o apa r e l ho de Es t ado A hegemon i a é o dom í n i o ps i co l óg i co sob r e a mu lti dão Fonte: Olavo, “A Nova Era e a Revolução Cultural”, 2000 10 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Dr. Dave Renton Sobre Lukács e a Reificação: L ukács de f a t o esc r e v eu , em H i s t ó ri a e Consc i ênc i a de C l asse (1 923 ), sob r e a r e ifi cação da consc i ênc i a sob o cap it a li smo — como as r e l ações soc i a i s apa r ecem como r e l ações en tr e co i sas , obscu r ecendo a ação humana Essa é uma c ríti ca fil osó fi ca , na tr ad i ção da t eo ri a da a li enação de Ma rx e da c ríti ca da r azão i ns tr umen t a l. Mas há uma d i s t ânc i a eno r me en tr e : ( a ) d i agnós ti co fil osó fi co de f o r mas de consc i ênc i a r e ifi cadas ; ( b ) p r opos t a de ação cu lt u r a l po líti ca ; e ( c ) t eo ri a de consp ir ação de i n filtr ação institucional de longo prazo. Sobre a Autocrítica de Lukács: O p r óp ri o L ukács , em p r e f ác i o au t oc ríti co de 1 96 7, d i s t anc i ou - se de H i s t ó ri a e Consc i ênc i a de C l asse , cons i de r ando a ob r a e x cess iv amen t e hege li ana e i dea li s t a A o rt odo xi a so vi é ti ca t ambém r e j e it ou o livr o A i de i a de uma li nha d ir e t a L ukács — G r amsc i— F r ank f u rt— mo vi men t os con t empo r âneos é uma genealogia construída retrospectivamente, não um programa que esses pensadores coordenaram. Sobre Gramsci como Analista: G r amsc i ana li sa como pode r es se es t ab ili zam e se tr ans f o r mam , r ompendo com a i ngenu i dade de i mag i na r que bas t a ri a t oma r o Pa l ác i o de I n v e r no pa r a muda r t udo E l e r e fl e t e sob r e i mp r ensa , esco l a , s i nd i ca t os , I g r e j a , mas não o f e r ece um manua l sec r e t o de i n filtr ação ; pe l o con tr á ri o , i ns i s t e que p r ocessos hegemôn i cos são l en t os , con tr ad it ó ri os e , mu it as v ezes , i mp r e vi s ív e i s Usa r G r amsc i pa r a j us tifi ca r a i de i a de uma “ má fi a g r amsc i ana ” compac t a e on i p r esen t e é uma l e it u r a a lt amen t e seletiva. Fonte: Anderson, “The Antinomies of Antonio Gramsci”, 1976 Nota do Filodebates A l e it u r a de G r amsc i como manua l es tr a t ég i co é con t es t ada pe l a ma i o ri a dos espec i a li s t as em G r amsc i, que en f a ti zam o ca r á t e r ana líti co dos Cade r nos do Cá r ce r e O l a v o l ê G r amsc i como os m ilit an t es o l e r am h i s t o ri camen t e , não necessa ri amen t e como G r amsc i p r e t end i a se r li do Es t a é uma d i s ti nção i mpo rt an t e en tr e i n t enção au t o r a l e r ecepção h i s t ó ri ca A l e it u r a es tr a t ég i ca de G r amsc i e xi s t e e teve consequências reais, mas isso não prova que Gramsci a pretendesse. 11 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Tragada 3 Escola de Frankfurt „ Olavo de Carvalho Sobre o Espírito Trágico de Frankfurt: D epo i s de L ukács e G r amsc i, a Esco l a de F r ank f u rt ap r o f unda o p r o j e t o de des l ocamen t o da r e v o l ução pa r a o p l ano cu lt u r a l, mas com uma d if e r ença c r uc i a l de esp írit o Os fr ank f u rti anos — espec i a l men t e Ho r khe i me r, A do r no e Ma r cuse — não compa rtil ham a espe r ança u t óp i ca de G r amsc i. E l es v eem a cu lt u r a oc i den t a l como p r odução s i s t emá ti ca de dom i nação e neu r ose , mas não ac r ed it am que um mundo melhor emergirá de sua destruição. O tom deles é trágico, niilista mesmo. Sobre a Seriedade Filosófica: Se v ocê pega um fil óso f o como Ho r khe i me r ou A do r no , é i negá v e l que pe l o menos a l guns f undado r es da esco l a são fil óso f os no sen ti do es trit o Homens de cu lt u r a monumen t a l, que conhec i am p r o f unda - men t e o j uda í smo e o c ri s ti an i smo , i n t e r essados em ques t ões ú lti mas — mo rt e , sen ti do da e xi s t ênc i a E l es ti nham de a l gum modo o senso da e t e r n i dade Mas po r a l gum mo tiv o b i og r á fi co , não ti nham a f é no juízo final. O buraco aberto pela fuga da eternidade permaneceu ali. Sobre a Mistura de Marx e Freud: M i s t u r ando Ma rx com F r eud , e l es conc l uem — e i s t o não é e x age r o meu , es t á em D i a l ec ti c o f En li gh - t enmen t e em E r os and C ivili za ti on — que a cu lt u r a oc i den t a l é uma doença , que t odo mundo educado nela sofre de personalidade autoritária. Sobre a Diferença entre Frankfurt e Gramsci: É necessá ri o v e r que naqu il o que se chama con f usamen t e ma rxi smo cu lt u r a l en tr a esse esp írit o co rr os iv o nega tiv o da esco l a j un t o com o esquema u t óp i co de G r amsc i. Não é a mesma co i sa , mas uma co i sa con v e r sa com a ou tr a Po r i sso não gos t o mu it o do t e r mo , embo r a eu mesmo t enha usado — a gente vem percebendo as coisas aos poucos. Fonte: Olavo, vídeo “Globalismo, Marxismo Cultural” 12 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Dr. Dave Renton Sobre o Contexto do Exílio: O s fr ank f u rti anos desen v o lv e r am uma c ríti ca do cap it a li smo a v ançado , da i ndús tri a cu lt u r a l e do au t o rit a ri smo , e não um mode l o ope r a tiv o pa r a des tr u ir a c ivili zação oc i den t a l. É c r uc i a l r es t abe l ece r o con t e xt o h i s t ó ri co : esses e r am j udeus que f ug ir am da pe r segu i ção naz i s t a . T heodo r A do r no t e v e que de ix a r a A l emanha em 1 938 Ma x Ho r khe i me r d i sso lv eu o I ns tit u t o de Pesqu i sa Soc i a l de F r ank f u rt em 1 933 He r be rt Ma r cuse tr aba l hou pa r a a i n t e li gênc i a ame ri cana du r an t e a Segunda G ue rr a , comba t endo o nazismo. Sobre a Dialética do Iluminismo : A D i a l é ti ca do Il um i n i smo , de A do r no e Ho r khe i me r, f o i esc rit a no e xíli o na Ca lif ó r n i a , du r an t e a gue rr a O livr o r e fl e t e o tr auma de i n t e l ec t ua i s que vir am a c ivili zação eu r ope i a — com t oda sua he r ança il um i n i s t a — p r oduz ir A uschw it z A pe r gun t a de l es e r a : como a r azão oc i den t a l cu l m i nou em barbárie? Essa é uma questão genuinamente trágica, não um manual de subversão. Sobre as Divergências Internas: D en tr o da p r óp ri a Esco l a de F r ank f u rt ha vi a d iv e r gênc i as s i gn ifi ca tiv as A do r no e r a pess i m i s t a sob r e ação po líti ca , descon fi a v a do enga j amen t o d ir e t o Ma r cuse f o i ma i s a tivi s t a , ap r o xi mando - se da No v a Esque r da Habe r mas , he r de ir o da tr ad i ção , desen v o lv eu uma t eo ri a da ação comun i ca tiv a que busca f undamen t os no r ma tiv os pa r a a democ r ac i a Não há un i dade p r og r amá ti ca que j us tifi que tr a t á -l os como bloco monolítico. Fonte: Wiggershaus, “The Frankfurt School”, 1994 Nota do Filodebates A ên f ase na i n t enção dos au t o r es pode m i n i m i za r os e f e it os h i s t ó ri cos r ea i s de suas i de i as quando apropriadas por movimentos políticos e culturais. A influência de Marcuse nos movimentos de 1968 é um f a t o h i s t ó ri co , i ndependen t emen t e de suas i n t enções E f e it os não r eque r em i n t enção A r ecepção e apropriação de ideias têm consequências que ultrapassam o controle dos autores originais. 13 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Tragada 4 Universidades e Mídia „ Olavo de Carvalho Sobre o Viés Acadêmico: Q uando se o l ha a pa i sagem acadêm i ca e m i d i á ti ca , sob r e t udo nas human i dades , é i mposs ív e l nega r um vi és p r og r ess i s t a f o rt emen t e dom i nan t e D epa rt amen t os de soc i o l og i a , h i s t ó ri a , an tr opo l og i a , co - mun i cação e educação são ma j o rit a ri amen t e hos ti s ao conse rv ado ri smo r e li g i oso , à f am íli a tr ad i c i ona l, à mo r a l c l áss i ca ; t emas e abo r dagens assoc i ados à esque r da c ríti ca des fr u t am de p r es tí g i o , enquan t o perspectivas tradicionais são marcadas como atrasadas, ideológicas ou moralmente suspeitas. Sobre o Gramscismo Difuso: O núme r o dos adep t os consc i en t es e dec l a r ados do g r amsc i smo é pequeno , mas i s t o não i mpede que e l e se j a dom i nan t e O g r amsc i smo não é um pa rti do po líti co , que necess it e de m ilit an t es i nsc rit os e e l e it o r es fi é i s É um con j un t o de a tit udes men t a i s , que pode es t a r p r esen t e em quem j ama i s ou vi u falar de Antonio Gramsci. Sobre o Vocabulário Herdeiro: A ma i o r pa rt e dos p r o f esso r es não se dec l a r a ma rxi s t a de pa rti do ; mu it os se en x e r gam como li be r a i s ou p r og r ess i s t as Mas o v ocabu l á ri o que usam — op r essão es tr u t u r a l, pa tri a r cado , r ac i smo s i s t êm i co , he t e r ono r ma tivi dade , co l on i a li dade — é he r de ir o de uma ma tri z ma rxi s t a amp li ada . I sso é o que chamo , em t e r mos an tr opo l óg i cos , de ma rxi smo enquan t o cu lt u r a : uma a t mos f e r a men t a l, não uma fi cha de filiação. Fonte: Olavo, “O Imbecil Coletivo”, 1995 14 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Dr. Dave Renton Sobre os Dados Empíricos: Pesqu i sas emp íri cas em d iv e r sos pa í ses mos tr am que p r o f esso r es un iv e r s it á ri os t endem , de f a t o , a se pos i c i ona r ma i s à esque r da do que a méd i a da popu l ação , espec i a l men t e em á r eas de c i ênc i as humanas Mas i sso es t á li gado ao ti po de pessoas a tr a í das po r p r o fi ssões de pesqu i sa c ríti ca e de tr aba l ho i n t e l ec t ua l, não a um p l ano de conqu i s t a coo r denado A p r edom i nânc i a de vi sões p r og r ess i s t as não equivale a captura marxista. Sobre a Distinção Progressista/Marxista: D ados do Pew Resea r ch Cen t e r, do H i ghe r Educa ti on Resea r ch I ns tit u t e da UC L A e de pesqu i sas s i m il a r es na Eu r opa con fir mam que p r o f esso r es de human i dades t endem a se r ma i s p r og r ess i s t as — en tr e 6 0 a 70 po r cen t o se i den tifi cam como li be r a i s ou esque r d i s t as Mas ma rxi s t as dec l a r ados são menos de 5 por cento do corpo docente. Há uma diferença significativa entre progressista e marxista que a tese do marxismo cultural tende a colapsar. Sobre a Heterogeneidade da Esquerda Acadêmica: Fem i n i s t as ma rxi s t as b ri gam com f em i n i s t as li be r a i s Pós - es tr u t u r a li s t as c riti cam ma rxi s t as po r econo - m i c i smo Mu lti cu lt u r a li s t as en tr am em con flit o com un iv e r sa li s t as de esque r da Chama r esse con j un t o he t e r ogêneo de “ ma rxi smo cu lt u r a l” apaga d if e r enças i mpo rt an t es e tr ans f o r ma um amb i en t e mu it as vezes caótico e competitivo em um suposto bloco disciplinado de agentes revolucionários. Fonte: Pew Research Center; HERI/UCLA Survey Nota do Filodebates A passagem de “vi és p r og r ess i s t a ” pa r a “ ma rxi smo cu lt u r a l” en v o lv e um sa lt o i n f e r enc i a l con t es t á v e l. V ocabu l á ri o c ríti co pode t e r mú lti p l as o ri gens , não apenas ma rxi s t as A g r amá ti ca op r esso r/ op ri m i do pode de riv a r de tr ad i ções d iv e r sas : c ri s ti an i smo soc i a l, li be r a li smo i gua lit á ri o pós - M ill, t eo l og i a da li be rt ação , f em i n i smo li be r a l. Co l apsa r t udo i sso em “ ma tri z ma rxi s t a ” é uma r edução que p r ec i sa de mais argumentação. 15 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Tragada 5 Estratégia ou Acaso? „ Olavo de Carvalho Sobre Marxismo como Cultura que se Reproduz: Não nego que o p r ocesso se j a caó ti co , che i o de con tr ad i ções i n t e r nas , v a i dades pessoa i s e opo rt un i smos J us t amen t e po r i sso f a l o em ma rxi smo como cu lt u r a : uma segunda r ea li dade , um un iv e r so s i mbó li co au t ossus t en t ado que , uma v ez i ns t a l ado , con ti nua a se r ep r oduz ir mesmo quando seus ade r en t es j á não conhecem a dou tri na o ri g i na l. Uma pessoa pode r epud i a r Ma rx em v oz a lt a e , na p r á ti ca , r ac i oc i na r com t odas as ca t ego ri as do ma rxi smo tr aduz i das em li nguagem de d ir e it os , m i no ri as e descons tr ução Sobre o Problema Real — o Poder: Mas é necessá ri o ir a l ém da ques t ão do ma rxi smo cu lt u r a l e abo r da r o p r ob l ema r ea l da aná li se po líti ca con t empo r ânea O p r ob l ema f undamen t a l não é sabe r quem é ma rxi s t a ou não , mas en t ende r quem t em o pode r , quem es t á d i spu t ando o pode r, qua i s os me i os de ação que es t ão usando e qua l o pe r cu r so a seguir. E isso não pode ser respondido em termos de ideologia. Sobre os Três Blocos Globais: O que v emos na r ea li dade é uma mesc l a de tr ês p l anos g l oba i s — e nenhum desses tr ês g r upos se de fi ne po r uma i deo l og i a e x p lí c it a P ri me ir o , o b l oco r usso - ch i nês Segundo , o b l oco i s l âm i co . T e r ce ir o , o b l oco que chamamos oc i den t a l ou g l oba li s t a É j us t amen t e nes t e t e r ce ir o b l oco que o f enômeno que chamo de marxismo cultural opera. Mas ele não é a única força, nem a dominante. Sobre a Convergência Institucional: Q uando t odas as i ns tit u i ções de p r es tí g i o — un iv e r s i dade , m í d i a , show bus i ness , o r gan i smos i n t e r- nac i ona i s , pa rt e do c l e r o — con v e r gem pa r a um mesmo pad r ão de demon i za r o passado oc i den t a l, r e l a tivi za r a mo r a l tr ad i c i ona l e tr a t a r qua l que r de f esa da c ivili zação c ri s t ã como suspe it a de f asc i smo , isso não é simples coincidência sociológica. Fonte: Olavo, vídeo “Globalismo” 16 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Dr. Dave Renton Sobre a Exigência de Provas: A noção de que e xi s t e uma r ede de es tr a t eg i s t as coo r denando un iv e r s i dades , m í d i a , O N G s , tri buna i s e igrejas em escala global exigiria provas documentais que simplesmente não aparecem. Não há atas, não há dec i sões cen tr a li zadas , não há um “i n t e r nac i ona l cu lt u r a l” com capac i dade de comando O que há é con v e r gênc i a de t endênc i as em soc i edades democ r á ti cas comp l e x as : u r ban i zação , secu l a ri zação , economia de serviços, ampliação de direitos civis, circulação global de ideias. Sobre a Genealogia Extremista: A d i scussão sob r e Cu lt u r a l Ma rxi sm apa r ece no con t e xt o de aná li se da e xtr ema - d ir e it a con t empo r ânea e seus mé t odos de mob ili zação Esse t e r mo c ir cu l a em r edes que i nc l uem desde t h i nk t anks conse rv a - do r es a t é t e rr o ri s t as como A nde r s B r e ivi k , que c it ou a t eo ri a em seu man if es t o an t es de massac r a r 77 j o v ens na No r uega em 2 011. I sso não é a r gumen t o ad hom i nem — é documen t ação de genea l og i a r ea l do conceito. Sobre Explicações Alternativas: A soc i o l og i a con t empo r ânea o f e r ece i ns tr umen t os pa r a en t ende r con v e r gênc i as sem r eco rr e r a t e - o ri as consp ir a t ó ri as Rona l d I ng l eha rt documen t ou a mudança de v a l o r es ma t e ri a li s t as pa r a pós - ma t e ri a li s t as em soc i edades a fl uen t es P i e rr e Bou r d i eu mos tr ou como campos i n t e l ec t ua i s ope r am po r l óg i ca p r óp ri a de d i s ti nção e acumu l ação de cap it a l s i mbó li co Nenhuma dessas t eo ri as soc i o l óg i cas requer conspiração para explicar homogeneidades relativas. Fonte: Inglehart, “Modernization and Postmodernization”, 1997 Nota do Filodebates A ên f ase na he t e r ogene i dade pode m i n i m i za r pad r ões r ea i s de con v e r gênc i a em ce rt as pau t as , mesmo sem coo r denação e x p lí c it a Con v e r gênc i a não r eque r consp ir ação , mas pode p r oduz ir e f e it os s i s t êm i cos s i m il a r es aos de coo r denação A fr agmen t ação em mú lti p l as co rr en t es não e li m i na a poss i b ili dade de “f am íli a de seme l hanças ” w itt gens t e i n i anas que t o r nam ú til um conce it o gua r da - chu v a 17 Tragadas do Olavo — Marxismo Cultural Tragada 6 Critérios de Evidência e Falsificabilidade „ Olavo de Carvalho Sobre a Natureza da Análise: A ob j eção de que m i nha t ese não é f a l s ifi cá v e l pa rt e de um p r essupos t o equ iv ocado : que es t ou f azendo c i ênc i a emp íri ca quando na v e r dade es t ou f azendo fil oso fi a da h i s t ó ri a e an tr opo l og i a cu lt u r a l O c rit é ri o de Poppe r se ap li ca a t eo ri as c i en tífi cas que f azem p r ed i ções espec ífi cas sob r e e v en t os obse rv á v e i s M i nha aná li se é de ou tr a o r dem — tr a t a - se de uma he r menêu ti ca de p r ocessos cu lt u r a i s de longa duração. Sobre a Propagação Cultural: A l ém d i sso , a p r óp ri a e xi gênc i a de p r o v as documen t a i s de coo r denação r e v e l a i ncomp r eensão do f enômeno Cu lt u r as se p r opagam sem com it ês cen tr a i s O c ri s ti an i smo se espa l hou pe l o I mpé ri o Ro - mano sem um p l ano de i n filtr ação documen t ado em a t as — ha vi a comun i dades , t e xt os compa rtil hados , rit ua i s , uma g r amá ti ca comum O ma rxi smo enquan t o cu lt u r a ope r a da mesma f o r ma : un iv e r s i dades f o r mam pessoas num ce rt o v ocabu l á ri o , essas pessoas v ão pa r a m í d i a e ou tr as i ns tit u i ções , r ep r oduzem o vocabulário, formam novas gerações. Não precisa de conspiração. Sobre a Superação de Conceitos: No i n í c i o quando es t á a rr anhando um assun t o v ocê usa os t e r mos com que a co i sa é des i gnada no deba t e ge r a l e depo i s que v ocê e x am i na , i s t o f az pa rt e da na t u r eza da fil oso fi a — v a i supe r ando conce it os parciais ou até falsos. Você tem que usar conceitos parciais que são os únicos que você tem. Fonte: Olavo, vídeo “Globalismo” 18