Letras que vencem o tempo COLECTÂNEA DE POEMAS E CONTOS Colectânea de poemas e contos Letras que vencem o tempo Copyright©2025 Vários Reservam-se todos os direitos desta edição à EDITORA SONHOS NO PAPEL NIF: 5002190354 Luanda - República de Angola Direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial deste livro, sem autorização da editora e do autor. 1ª edição | Março de 2025 Edição: Editora Sonhos no Papel Direcção editorial: José Pita Produção editorial: Nilton Graça Revisão Linguística: Agostinho Muenho Diagramação: Editora Graça (SU) Lda Designer de capa: Bwdesigner Projecção de marketing: Editora Sonhos no Papel Distribuição: Editora Sonhos no Papel ISBN: 978-989-36068-1-0 1ª edição ÍNDICE 05 DEDICATÓRIA 06 AGRADECIMENTO 07 EPÍGRAFE 08 O FINAL CHEGOU 17 MULHER 19 LUA DE MEL 22 A FOME 27 DEUS DE PROMESSA 32 LETRAS QUE VENCEM O TEMPO 36 UM CONTO DE ESPERANÇA 42 APAGA 44 MILAGRE 05 DEDICATÓRIA Aos que fazem da palavra um legado.Aos que escrevem com a alma e transformam sen- timentos em arte.Aos que ousam sonhar e re- gistrar suas visões no papel.Aos vencedores que provaram que a literatura é eterna. Esta colectânea é um tributo à força da es- crita, ao talento que rompe barreiras e às vo- zes que ecoam além do tempo. Que cada página inspire, marque e resista, pois as letras aqui reunidas não pertencem apenas ao presente, mas à eternidade. 06 AGRADECIMENTO Antes de tudo, expressamos nossa gratidão a Deus, fonte de inspiração e força, que nos guia na jornada das palavras e nos permite transformar sonhos em realidade. Aos nossos familiares e amigos, que nos apoiaram in- condicionalmente, acreditando no poder de nossas letras e nos incentivando a seguir adiante, o nosso mais profun- do reconhecimento. À Comunidade Literária Angolana, por meio do concur- so Gala Letras Awards, por criar a ponte que nos uniu e permitiu que nossos destinos se cruzassem na construção desta obra colectiva. Um agradecimento especial à Qualicemente, cuja dedi- cação, resiliência e comprometimento tornaram possível o nascimento desta obra. Seu esforço e paixão pela litera- tura foram a chama que iluminou este caminho e nos con- duziu até aqui. Que esta colectânea seja um símbolo de persistência, união e do poder das palavras, que, mais do que nunca, vencem o tempo. EPÍGRAFE “Um homem que ousa perder uma hora do seu tempo não descobriu o valor da vida”. — Charles Darwin 08 O FINAL CHEGOU Talvez um dia eu me lembre deste momento, com um sorriso amargo ou doce no rosto. Talvez eu o recorde com pensamentos de arrependimento ou livramento. Quanto ao resto, apenas eu mesma saberei lidar com essas trans- formações. As coisas entre nós já não davam certo: eram brigas atrás de brigas. Ainda assim, as juras de amor eterno após cada discussão pareciam restaurar o que restava do amor. Mas, infelizmente, eu já não me sentia confortável. Perma- necia por medo, ou talvez pela pressão do que as pessoas diriam se a gente terminasse. A cada instante, eu me sentia mais distante dele. Era atordoante viver assim... DOMINGO, 23:15 Quarto escuro, noite fria, e a chuva lá fora fazia-me com- panhia. Pensamentos negativos dominavam; talvez fosse um sexto sentido. Um nó na garganta me sufocava e atra- palhava o sono. Eu tinha a sensação de que algo estava errado. O quê? Não sabia. Com medo e dúvidas, peguei o telefone. Revi vídeos, fo- tos e mensagens do tempo em que tudo estava bem. Como pode o amor acabar assim? Será que foi amor de verdade? 09 Eram tantas perguntas, sem resposta. E, a cada segundo, o nó na minha garganta parecia crescer. Já faziam meses que eu não me sentia feliz. Queria po- der voar, e a decisão de alçar voo estava em minhas mãos. Aquele era o momento da escolha. Era um misto de inse- gurança, medo e incompreensão. Infelizmente, vi-me quebrando a promessa de amor eterno que um dia sonhamos juntos. Aos olhos do mundo, tudo parecia perfeito e lindo demais. Mas, dentro de mim, já não havia opções. Eu tinha que escolher entre mim e ele. Entre me perder ou lhe perder. O pior é que eu já me sentia perdida. Tive que escolher entre voar ou continuar prisionei- ra dos meus próprios sentimentos. Se eu começasse a voar, ele cairia. Se permanecesse caída, ele continuaria a voar e, quem sabe, poderia ajudar-me a voar um dia. Mas como pode alguém que cortou as minhas asas me fa- zer voar? Não sei... Era sufocante. Ideias malucas pairavam em meus pensamentos. O que fazer? Peguei o telefone e disquei: 931327... Do outro lado, ouvi: “Unitel: o saldo não é suficiente para completar esta ligação...” Escrevi uma mensagem: “Liga-me urgente.” Como resposta, recebi: “Mensagem não enviada.” Não sabia se era pobreza ou o universo conspirando. Esgotada, desesperada e impaciente com o nó na gar- ganta, fiz um “adianta só” e liguei. 10 Chamou, mas ele não atendeu. Liguei de novo. E outra vez. Mais uma. Cinco vezes...Na sexta tentativa, que seria a última, finalmente atendeu. Do outro lado, ouvi: “Amor, atende a merda do telefone! Quem te liga a esta hora com tanta insistência? Atende agora!” Enquanto ele pedia calma, a gritaria continuava. Tudo estava explícito. “Meu Deus!” Eu, que pensava ser a mãe grande, a única, nem sei o que senti. Foi dor ou foi livramento? Perplexa, ouvi a confusão do outro lado, até que meu sal- do terminou. Após a ligação cair, mil pensamentos surgiram. Uma lá- grima inevitável caiu. Ele me trai? Com quem? Como ela é? Por quanto tempo me trai? É por isso que ele estava indiferente esse tempo todo? Tantas perguntas e nenhuma resposta. Naquele instante, eu já havia esquecido que tinha ligado para terminar a relação. O desespero era tanto que eu nem sabia quem eu era. Tentei ligar para minha melhor amiga, Tchissola. Pena que eu estava sem saldo. Recorri ao “liga só”. Fiz vários, mas ela não respondeu. Eram 23:50 quando entrei no Facebook e 11 vi que ela estava online. – Oi, Tchissola. Preciso de ti. – O que se passa, Nassoma? – Liga agora, por favor. – Estou sem o meu telemóvel. Mas, às 00:00, eu te ligo com o saldo das zero horas. Aguarde dez minutos. Foram os dez minutos mais longos da minha vida. Pare- ciam uma eternidade. 00:00. Meu telefone tocava. Era o António. Gritei: “Maldito! Já terminou de me trair? Dane-se esta chamada. Nem vou atender.” Ele ligou uma, duas, três vezes. Por fim, bloqueei o número. Eu me sentia a pior mulher do mundo. Insuficiente. A mais fraca de todas. Voltei ao Facebook. Enviei outra mensagem para a Tchis- sola: “Ligas ou não?” Ela visualizou e ligou. Atendi choran- do e contei tudo. – Amiga, você ligou para terminar ou não? – Sim, mas ele me traiu. Agora eu não quero mais termi- nar... – Amiga, sinto muito. Você não pode ficar com um trai - dor. É um livramento! Não acredito que o António seria ca- paz disso. As palavras da Tchissola, sempre certeiras, naquela ma- drugada pareciam superficiais. “Descansa, Nassoma. Amanhã passo na tua casa para 12 conversarmos.” Eu só precisava organizar meus pensamentos. Mas, em vez de ajudar, a Tchissola deixou-me mais confusa. Não consegui dormir. Pensava e repensava. Cada pensa- mento fazia crescer em mim o desejo de desaparecer. Eram 6:00 quando eu estava à porta do quarto do António. Não sei de onde tirei tanta coragem, mas eu precisava olhar nos olhos do próprio cão e tentar entender. Mas tudo estava explícito, o que tinha mais a entender? Sei lá... — Tô, Tô, Tô... Silêncio geral, parecia não ter gente. Mas eu insisti até ele abrir. Após cinco minutos de espera, finalmente o An - tónio apareceu à porta. O clima estava mais do que pesado. — Nassoma, meu amor! — admirou ele, e no mesmo instante ficou pálido. Com certeza ele não esperava por mim tão cedinho. — Vamos à sala conversar. — Já estou aqui, por que não me deixas entrar? Tentava justificar-se enquanto a confusão aquecia. Após vários impedimentos, finalmente entrei no quarto. — Com quem você passou a noite? — Eu, eu, eu... — gaguejava ele. Tomei a palavra e continuei: — António, por quanto tempo você me trai? Com quem você me trai? E, no mesmo instante, um telefone tocou, interrompen- do a conversa. Perguntei-lhe se não atenderia, e ele disse que não. Fiquei mais que irritada. Dirigi-me até a banca para ver quem era, enquanto ele impedia-me de aproxi- mar. Tudo estava tão confuso. Mas nada disso me parava; 13 eu estava com os nervos à flor da pele. Tão logo cheguei à banca, percebi que nem era o telefo- ne dele. — Meu Deus, ela está mesmo aqui!? Peguei o telefone da sua nova namorada e o choque foi fatal: era o telefone da Tchissola, minha melhor amiga. Fiquei confusa, porque a Tchissola não seria capaz disso. A Tchissola e eu nos conhecemos há mais de 15 anos. Ela sempre me apoiou, sempre esteve comigo. Nós éramos como dedo e unha. Recusava-me a aceitar tamanha traição. Ademais, foi ela quem me apresentou o António, e nós sempre fomos três melhores amigos, apesar de eu ser namorada do António. A Tchissola era a maior torcedora da nossa relação. Ela é uma mulher ousada, sexy, linda, tem um jeito provo- cante e muitas vezes chega a ser metida, mas é minha me- lhor amiga. Não seria capaz de tamanha crueldade. Tudo, menos isso... — Calma, não é o que você está pensando. Olhei fixamente para o António, sem pestanejar, enquan - to segurava o telefone da minha melhor amiga. Mil pensa- mentos dilaceravam minha mente. Naquele momento, eu não conseguia sequer chorar. Passou um filme na minha cabeça de quase tudo que vivi com a Tchissola. Dentro de mim, pensava: “Há algum engano. A Tchissola, não.” O telefone não parava de tocar. Era a mãe dela. A Tchissola não era de passar a noite fora de casa, então devia ser por isso que a Tia Vissolela estava a ligar. Fiquei, por instantes, paralisada. Aproximadamente 10 minutos se passaram, e do António eu só ouvia: 14 — Calma, calma, calma, amor... — Calma, uma ova! Onde está ela? Um profundo silêncio tomou conta daquele momento. Ao pousar o telefone, vi alguns acessórios de mulher na banca: brincos, um colar e uma pulseira. No colar tinha a inicial “T”, igualzinho ao da Tchissola. Aí sim, as lágrimas caíram. Estava histérica. Nunca me senti assim, parecia coisa de novela. Fui até o guarda-rou- pas com a intenção de encontrá-la, enquanto o António tentava me impedir e pedia calma, dizendo que explicaria tudo. Mas isso só me deixava mais irritada. Abri o guarda-roupas e uma lingerie preta caiu. Olhei para ele, com cara de decepção. Voltei-me para o guarda- -roupas, e no cabide havia uma roupa de mulher.Era bem o estilo da Tchissola, mas eu nunca tinha visto aquelas peças com ela. Pensei: “Então ela está mesmo aqui! Mas onde?” Então, comecei a gritar. — Nassoma, cala a boca! Meus pais estão em casa! Você sabe bem que a gente não estava bem, mas eu te amo. Cal- ma, deixa eu explicar. No meio do choro, sorri. — Onde ela está? E, no mesmo instante, o telefone do António tocou. Era a Tia Vissolela, mãe da Tchissola. Pensei: “Meu Deus! Até a tia sabe?” — A Tchissola, nãooooo! – Gritei em voz alta. Estava tão nervosa que fui para cima dele, dei-lhe umas tantas bofetadas. Ele me agarrou, me prendeu em seus braços e me atirou 15 na cama dele. Olhou nos meus olhos e dizia: — Me perdoa, eu não saberei viver sem ti. De tão nervosa, eu me revirava tanto que ele preferiu me soltar. De tanta raiva, peguei os sapatos dele e comecei a atirar: — Seu inútil, você não vale nada! Enquanto ele se defendia, ouvi um barulho no banheiro. Até havia esquecido que o quarto dele era suíte. “A cabra só pode estar lá!” Naquele momento, o António colocou as mãos na cabeça. Eu olhei para ele, abanei a cabeça e me dirigi ao banheiro. Tão logo cheguei para abrir a porta, o António pegou mi- nha mão e disse: — Você não vai fazer isso. Mas eu já estava fazendo... “Maldita!” A porta estava trancada. Sorri de raiva. — Onde está a chave, António? ... — Escritora Sorriso 16 Escritora Sorriso , pseudônimo literário de Teresa Eduarda Leão , nascida aos 28 de Setembro de um ano re- pleto de vindas e idas. Passageira na longa e breve estrada da vida, Sorriso é estudante de Medicina Dentária, além de escritora, poeti- sa e cronista. Também é líder do Movimento Mulheres Le- vantam Mulheres, uma iniciativa voltada para a promoção da sororidade e o fortalecimento feminino. Sua trajectória literária inclui a publicação de seu pri- meiro romance, “O CAMINHO ATÉ À PARAGEM” , em 28 de Outubro de 2022. Ainda no mesmo ano, integrou a co- lectânea “ESCRITAS NO FEMININO” , organizada pela edi- tora portuguesa Caneta de Estilo , com o objectivo de unir escritores dos países da CPLP. Em Março de 2023, lançou o e-book “NAS VESTES DE UMA MULHER” , consolidando ainda mais sua presença no cenário literário. Escritora Sorriso escreve desde os 12 anos, inspirando- -se na existência humana, que considera a maior expres- são de amor. Sua escrita é marcada pela ênfase na união, no amor e nos princípios da fraternidade, refletindo uma visão de mundo baseada na empatia e no respeito mútuo. 17 MULHER Mulher angolana e não só, Mulher africana, eu sou. Linda à minha maneira, Com cicatrizes, ainda sou inteira. Mulher, Seja criança, jovem ou adulta, Cada uma é linda e tem o seu poder. Negra, mulata ou branca, Todas partilham a mesma raiz. Mulher, Libertada da opressão que a tornou desprotegida, Lutou pelos direitos que lhe tentaram quebrar, Mas não perdeu a esperança de viver. Hoje, é o que é pela força, coragem, Resiliência e vontade de aprender a cada dia. Mulher, Calorosa é chamada, Calorosa é amada, Criou o amor, Criou o calor, Criou o afeto e até o rancor. Mulher, De caráter forte, mesmo com suas imperfeições, É boa à sua maneira. A cada amanhecer, luta pelo seu lugar na sociedade, 18 A cada amanhecer, busca o pão de cada dia para vencer. Gloriosa, Majestosa, Empoderada ou não, Ela é sempre dourada. Mulher, Careca ou cabeluda, Não perde sua essência. A mulher é um privilégio. Constrói o lar, Ergue a nação, Faz o país evoluir. Já se perguntou... ... Sem a mulher, o que seria? ... Então, respeita-a! Somos a maior percentagem deste planeta. Mulher, Humilde no ser, Respeitosa no viver, E conselheira na plenitude. Mulher, levanta a cabeça e o pé, Confia no amor e na fé. Mulher, ergue-te: a hora é agora. — Isabel Tito 19 LUA DE MEL O momento mais lindo e duro, Onde contemplei mil maravilhas. Mel tão doce quanto o pirulito, És tu, meu doce sambapito. Minha lua e profundo mel, Criaste em mim um sentir tão singular, Que me fez questionar se sou ateu. E, nesta nossa lua de mel, Acreditei que no mundo só houvesse tu e eu. És a luz que brilha, pessoa adorada, Linda como o sol que aquece a alvorada. Complicada, és o reflexo da minha essência. Teus olhos são estrelas a iluminar o caminho, Caminho que me faz tropeçar e levantar. Teu brilho encanta o meu coração, Um paraíso repleto de emoção. És o mistério que envolve a minha ideia: Complicada, mas serena. Assim como o mar guarda tesouros raros, Guardas momentos que são só nossos. Num mundo de sombras e incertezas, O teu coração é um baú de emoções imensas. Nos instantes mais complexos e conturbados, Tu apaziguas a minha alma. Nos teus braços, encontro amor, segurança e apego 20 E, ao mesmo tempo, o desespero. No final do dia, aguardo-te com prazer e ansiedade. E, se um dia não estiveres comigo, O meu bombó vai molhar. Meu doce desapego, Lua que não é cheia nem meia, Mel da minha colmeia, És tu, minha eterna lua de mel. — Isabel Tito